Meditações para a Semana Santa - por Santo Afonso de Maria Ligório.

Aprendamos com Jesus a não desanimar em meio às tribulações, doenças injustiças, que nos sobrevêm, pois Nossa Senhor enfrentou muitos momentos de humilhação.

Caminhemos com Jesus os dias mais difíceis que Ele passou sobre a terra, e tenhamos Jesus como nosso maior exemplo.

Meditação para a Segunda-feira da Semana Santa.

Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo amém.

I. Ao amanhecer, os príncipes dos sacerdotes novamente declaram Jesus réu de morte, e depois conduzem-no a Pilatos, a fim de que este O condene a morrer crucificado. Pilatos, tendo interrogado diversas vezes tanto os Judeus como nosso Salvador, reconhece que Jesus é inocente e que todas as acusações são calúnias. Sai, pois, para fora e declara que não acha em Jesus culpa alguma para condená-Lo. Vendo, porém, que os Judeus se empenhavam sumamente em fazê-Lo morrer, e ouvindo que Jesus era da Galileia, para tirar-se dos apuros “devolveu-O a Herodes”.

Herodes ficou muito contente ao ver Jesus levado à sua presença. Esperava ver um dos muitos milagres feito pelo Senhor e dos quais tinha ouvido falar. Interrogou-O muito, mas Jesus se calou e não lhe deu resposta alguma; castigando assim a vã curiosidade daquele insolente: Ai da alma a qual o Senhor não fala mais.

— Meu Jesus, eu também tinha merecido este castigo, por ter resistido tantas vezes às vossas misericordiosas inspirações para eu abandonar o pecado. Mas, meu amado Redentor, tende piedade de mim e falai-me: “Falai, Senhor, porque o vosso servo escuta”. Dizei-me o que desejais de mim; quero obedecer-Vos e contentar-Vos em tudo.

Herodes, vendo que Jesus não lhe respondia, desprezou-O e tratando-O como a um doido, fez escárnio d’Ele, mandando-O vestir uma túnica branca, e zombou dEle com toda a sua corte, e assim desprezado e escarnecido mandou-O de novo a Pilatos. Eis que Jesus, vestido com aquele manto de escárnio, é levado pelas ruas de Jerusalém.

— Ó meu desprezado Salvador, faltava-Vos ainda esta injúria, a de ser tratado como um doido. Cristão, vede como o mundo trata a Sabedoria Eterna! Feliz de quem se compraz em ser considerado pelo mundo como doido, e não quer saber outra coisa senão a Jesus crucificado, amando os sofrimentos e os desprezos! Perante Deus terá mais valor um desprezo suportado em paz por amor d’Ele, do que mil disciplinas.

II. O povo israelítico tinha direito a exigir do governador romano no grande dia da Páscoa que deixasse ir livre um dos prisioneiros. Pelo que Pilatos lhes mostrou Jesus e Barrabás, homem criminoso, dizendo:

— “Qual quereis que vos solte, Barrabás ou Jesus?” Pilatos esperava que o povo com certeza preferiria Jesus a Barrabás, um celerado, homicida e salteador, que todos deviam detestar. Mas o povo, instigado pelos príncipes da sinagoga, de repente e sem deliberar, pede Barrabás. — Pilatos, surpreso e indignado ao ver um inocente colocado abaixo a tão grande malfeitor, diz: “Que farei então de Jesus?” Todos gritam: “Seja crucificado!” Pergunta outra vez Pilatos: “Mas, que mal fez Ele?” Eles porém gritam com mais força: “Seja crucificado!”

—“Tanto amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho unigênito”. — Mas, como é que os homens correspondem a estas supremas finezas do amor?

Ai de mim, meu Senhor! Todas as vezes que cometi o pecado, fiz como os Judeus. A mim também quando se perguntava o que desejava: a Vós ou ao vil prazer; e respondi: Quero o prazer e não me importo em perder o meu Deus. É assim que falei então; mas agora estou arrependida(o) de todo o coração, e digo que prefiro a vossa graça a todos os prazeres e tesouros do mundo. Ó Bem Infinito, ó meu Jesus, amo-Vos acima de todos os outros bens; só a Vós quero e nada mais. — Ó Mãe das Dores, minha Mãe Maria, impetrai-me a santa perseverança.

Amém!

Meditação para terça-feira da Semana Santa.

Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

I. Contemplemos os outros bárbaros suplícios que os soldados infligiram a nosso Senhor já tão atormentado. Instigados, e, como afirma São João Crisóstomo, subornados pelo dinheiro dos Judeus, reúnem ao redor de Jesus toda a corte, põem-Lhe aos ombros um manto vermelho a servir de manto real, nas mãos colocam-Lhe um caniço a servir de cetro e na cabeça um feixe de espinhos a servir de coroa. Os espinhos estavam entrelaçados em forma de capacete, de modo que Lhe cobria a cabeça toda.

Mas, porque os espinhos com a força das mãos não penetravam bastante na cabeça sagrada, já tão ferida pelos açoites, tomam-Lhe o caniço, e enquanto Lhe escarravam também no rosto, batem com toda a força sobre a cruel coroa, de sorte que rios de sangue corriam da cabeça ferida pelo rosto e sobre o peito. Ah, espinhos ingratos! É assim que atormentais o Vosso Criador? — Mas, para que acusar os espinhos? Ó pensamentos perversos dos homens, sois vós que transpassastes a cabeça do meu Redentor.

Eia, minha alma, prostra-te aos pés de Teu Senhor coroado; detesta ali os teus consentimentos pecaminosos, e roga-Lhe que te traspasse com um daqueles espinhos, consagrados pelo seu Preciosíssimo Sangue, a fim de que não o tornes mais a ofender. — Enquanto os bárbaros algozes, juntando o escárnio à dor, o tratam como rei de comédia, d’Ele escarnece e o esbofeteiam, tu, pelo menos, reconhece-O pelo Supremo Senhor de tudo, como na verdade é; feito agora Rei de dor por Amor dos homens.

II. Voltando outra vez Jesus ao pretório de Pilatos, depois da flagelação e coroação de espinhos, este, ao vê-Lo todo dilacerado e desfigurado, capacitou-se de que comoveria o povo à compaixão, só com mostrá-Lo. Saiu, pois, para a varanda com o nosso aflito Salvador, e disse:— “Eis aqui o homem”. Como se dissesse: Judeus, contentai-vos com o que este inocente tem sofrido até agora; vede a que estado se acha reduzido. Que medo ainda podeis ter que Ele queira fazer-se vosso Rei, visto que não pode mais viver? Deixai-O ir morrer em sua casa. “Jesus saiu coroado de espinhos e vestido de um manto de púrpura”.

Minha alma, tu também contempla naquela varanda a teu Senhor, ligado e arrastado por um algoz. Vê-O, como ali está meio despido, se bem que coberto de chagas e Sangue, com as Carnes todas rasgadas, com aquele farrapo de manto purpúreo, que serve tão somente para escarnecê-Lo, e com a cruel coroa que continuamente o atormenta. Vê a que estado se acha reduzido o teu Pastor, para te achar, a ti, sua ovelha perdida.

Ah meu Jesus! Quantos papéis de teatro fazem-Vos os homens representar, mas todos eles de dor e de ignomínia. Ó dulcíssimo Redentor, inspirais compaixão às próprias feras, mas aí não achais piedade! Ouve o que aquele povo responde — “Crucifica-o, crucifica-o!” Mas, ó Senhor meu, o que dirão no último dia, quando Vos virem na glória, sentado como Juiz num Trono de Luz? Ai de mim! Jesus meu, houve um tempo em que eu também disse: “Crucifica-o, crucifica-o!” Foi quando Vos ofendi com meus pecados.

Agora arrependo-me deles mais que de todos os outros males e amo-Vos sobre todas as coisas, ó Deus de minha alma. Perdoai-me pelos merecimentos de vossa Paixão. — Ó Mãe de dores, Maria, fazei que no dia do juízo eu veja vosso Filho aplacado e não irado para comigo.

Pai Nosso que estais no Céu. . ., Ave Maria. . ., Glória ao Pai. . ..

Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém.

Meditação para a quarta feira da Semana Santa.

Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.

I. Medita São Boaventura que a Bem-aventurada Virgem passou a noite que precedia a Paixão de seu Filho sem tomar descanso e em dolorosa vigília. Chegada a manhã, os discípulos de Jesus Cristo vieram a esta aflita Mãe: um a referir-lhe os maus tratamentos feitos a Seu Filho na casa de Caifás, outro os desprezos que recebeu de Herodes, mais outro a flagelação ou a coroação de espinhos. Numa palavra, cada um dava a Maria uma nova informação, cada qual mais dolorosa, verificando-se nela o que Jeremias tinha predito: “Não há quem a console entre todos os seus queridos”.

Veio finalmente São João e lhe disse:

“Ah, Mãe dolorosa! Teu Filho já foi condenado à morte, e já saiu, levando Ele mesmo a sua cruz para ir ao Calvário. Vem, se O queres ver e dar-Lhe o último adeus, em alguma rua, por onde tenha de passar”.

Ao ouvir isto, Maria parte com João; e pelo Sangue de que estava a terra borrifada conhece que o Filho já por ali tinha passado. A Mãe aflita toma por uma estrada mais breve e coloca-se na entrada de uma rua para se encontrar com o aflito Filho, nada se-lhe dando das palavras insultuosas dos judeus, que a conheciam como Mãe do condenado. — Ó Deus, que causa de dor foi para ela a vista dos cravos, dos martelos, das cordas e dos outros instrumentos funestos da morte de Seu Filho! Como que uma espada foi ao seu coração ao ouvir a trombeta, que andava publicando a sentença pronunciada contra o seu Jesus.

Mais eis que já, depois de terem passado os instrumentos e os ministros da justiça, levanta os olhos e vê, ó Deus! Um homem todo cheio de Sangue e de chagas, dos pés até a cabeça, com um feixe de espinhos na cabeça e dois pesados madeiros sobre os ombros. Olha para Ele, e quase não O conhece, dizendo então com Isaías: “Nós O vimos e não havia n’Ele formosura”. Mas finalmente o amor lho faz reconhecer e o Filho, tirando um grumo de sangue dos olhos, como foi revelado a Santa Brígida, encarou a Mãe e a Mãe encarou o Filho. Ó olhares dolorosos, com que, como tantas flechas, foram então transpassadas aquelas almas que tanto se amam.

II. Queria a divina Mãe abraçar a Jesus, como diz Santo Anselmo; mas os insolentes servos a repelem com injúrias, e empurram para diante o Senhor aflitíssimo. Maria, porém, segue — muito embora preveja que a vista de seu Jesus moribundo lhe causaria uma dor tão amargurada, tão sofrida que a tornaria rainha dos mártires. O Filho vai adiante, e a Mãe tomando também a sua cruz, no dizer de São Guilherme, vai após Ele, para ser crucificada com Ele.

Se víssemos uma leoa que vai após o filho conduzido à morte, aquela fera nos causaria compaixão. E não nos inspirará compaixão ao ver Maria, que vai após o seu Cordeiro Imaculado, enquanto o levam a morrer por nós? Tenhamos compaixão por ela, e procuremos também acompanhar o Filho e a Mãe, levando com paciência a cruz que nos envia o Senhor. — Pergunta São João Crisóstomo, porque nas outras penas Jesus Cristo quis ser só, mas a levar a Cruz quis ser ajudado pelo Cirineu? E responde: Não basta para nos salvar só a cruz de Jesus Cristo, se nós não levamos com resignação até a morte também a nossa.

Minha dolorosa Mãe, pelo merecimento da dor que sentistes ao ver o vosso amado Filho levado à morte, impetrai-me a graça de levar também com paciência as cruzes que Deus me envia. Feliz de mim, se souber acompanhar-vos com a minha cruz até a morte! Vós e Jesus, sendo inocentes, levastes uma cruz muito pesada, e eu pecador, que tenho merecido o inferno, recusarei a minha? Ah, Virgem Imaculada, de vós espero socorro, para sofrer com paciência as minhas cruzes.

Pai Nosso que estais no Céu… Ave Maria...Glória ao Pai...

Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.