Meditação para terça-feira da Semana Santa.
Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.
I. Contemplemos os outros bárbaros suplícios que os soldados infligiram a nosso Senhor já tão atormentado. Instigados, e, como afirma São João Crisóstomo, subornados pelo dinheiro dos Judeus, reúnem ao redor de Jesus toda a corte, põem-Lhe aos ombros um manto vermelho a servir de manto real, nas mãos colocam-Lhe um caniço a servir de cetro e na cabeça um feixe de espinhos a servir de coroa. Os espinhos estavam entrelaçados em forma de capacete, de modo que Lhe cobria a cabeça toda.
Mas, porque os espinhos com a força das mãos não penetravam bastante na cabeça sagrada, já tão ferida pelos açoites, tomam-Lhe o caniço, e enquanto Lhe escarravam também no rosto, batem com toda a força sobre a cruel coroa, de sorte que rios de sangue corriam da cabeça ferida pelo rosto e sobre o peito. Ah, espinhos ingratos! É assim que atormentais o Vosso Criador? — Mas, para que acusar os espinhos? Ó pensamentos perversos dos homens, sois vós que transpassastes a cabeça do meu Redentor.
Eia, minha alma, prostra-te aos pés de Teu Senhor coroado; detesta ali os teus consentimentos pecaminosos, e roga-Lhe que te traspasse com um daqueles espinhos, consagrados pelo seu Preciosíssimo Sangue, a fim de que não o tornes mais a ofender. — Enquanto os bárbaros algozes, juntando o escárnio à dor, o tratam como rei de comédia, d’Ele escarnece e o esbofeteiam, tu, pelo menos, reconhece-O pelo Supremo Senhor de tudo, como na verdade é; feito agora Rei de dor por Amor dos homens.
II. Voltando outra vez Jesus ao pretório de Pilatos, depois da flagelação e coroação de espinhos, este, ao vê-Lo todo dilacerado e desfigurado, capacitou-se de que comoveria o povo à compaixão, só com mostrá-Lo. Saiu, pois, para a varanda com o nosso aflito Salvador, e disse:— “Eis aqui o homem”. Como se dissesse: Judeus, contentai-vos com o que este inocente tem sofrido até agora; vede a que estado se acha reduzido. Que medo ainda podeis ter que Ele queira fazer-se vosso Rei, visto que não pode mais viver? Deixai-O ir morrer em sua casa. “Jesus saiu coroado de espinhos e vestido de um manto de púrpura”.
Minha alma, tu também contempla naquela varanda a teu Senhor, ligado e arrastado por um algoz. Vê-O, como ali está meio despido, se bem que coberto de chagas e Sangue, com as Carnes todas rasgadas, com aquele farrapo de manto purpúreo, que serve tão somente para escarnecê-Lo, e com a cruel coroa que continuamente o atormenta. Vê a que estado se acha reduzido o teu Pastor, para te achar, a ti, sua ovelha perdida.
Ah meu Jesus! Quantos papéis de teatro fazem-Vos os homens representar, mas todos eles de dor e de ignomínia. Ó dulcíssimo Redentor, inspirais compaixão às próprias feras, mas aí não achais piedade! Ouve o que aquele povo responde — “Crucifica-o, crucifica-o!” Mas, ó Senhor meu, o que dirão no último dia, quando Vos virem na glória, sentado como Juiz num Trono de Luz? Ai de mim! Jesus meu, houve um tempo em que eu também disse: “Crucifica-o, crucifica-o!” Foi quando Vos ofendi com meus pecados.
Agora arrependo-me deles mais que de todos os outros males e amo-Vos sobre todas as coisas, ó Deus de minha alma. Perdoai-me pelos merecimentos de vossa Paixão. — Ó Mãe de dores, Maria, fazei que no dia do juízo eu veja vosso Filho aplacado e não irado para comigo.
Pai Nosso que estais no Céu. . ., Ave Maria. . ., Glória ao Pai. . ..
Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém.