Amanhã, volvendo trás amanhã e trás amanhã de novo.
Vai, a pequenos passos, dia a dia,
Até a última sílaba do tempo inscrito
Que a vida é uma sombra ambulante: um pobre ator
Que gesticula em cena uma hora ou duas,
Depois não se ouve mais; um conto cheio de bulha e fúria,
Dito por um louco, significando nada.
— William Shakespeare, Macbeth
Por que o mundo fica tão banal? O Sonhador dentro de nós acorda no meio de noites solitárias e nos lembra das possibilidades que perdemos. Vendedores de grandes corporações em suas casas luxuosas, artistas frustrados presos em trabalhos sem criatividade, amantes apaixonados em relações sufocantes: todos acordam um dia e se perguntam: “O que aconteceu?” A experiência humana é preenchida com rituais mundanos que matam a mente e esmagam a alma. A palavra “espírito” torna-se uma obscenidade, a palavra “mito” uma mentira, a palavra “sonho” torna-se sinônimo de falsas esperanças. A palavra “mundano”, que outrora significou ”mundial” é distorcida de uma forma terrível. Prezando o silêncio, silenciando suas mentes em prol da sobrevivência, os mundanos trazem uma brisa gelada ao mundo.
Assim como existem pessoas que sonham, existem pessoas que matam sonhos. Alguns desses não percebem o que fazem, espalhando sem querer a conformidade, através de suas mentes intolerantes fechadas. Esses são os Inocentes, eles não sabem o que fazem. Suas atitudes são totalmente justificadas pelo que acreditam: Por que criar um mundo no qual seguimos nossos sonhos se sabemos que a vida irá rejeitá-los? Por que as pessoas devem encher suas cabeças de “noções tolas” quando sabemos que elas não servem para nada? Existem alguns que acreditam tão forte nesta sua visão de mundo tranquilo que temem a parte desconhecida do ambiente ao seu redor. Os mais frios entre eles são traiçoeiros. Sua ignorância mata e sua apatia macula, mas sua inocência os absolve de toda culpa. Eles não podem acreditar num mundo de mágicas porque simplesmente não o entendem, e ao invés disso, eles criam sua antítese.
Nem todas essas pessoas são ignorantes quanto ao Sonhar. Num mundo onde o sobrenatural é real, há pessoas que sabem da existência da mágica e se sentem ameaçadas por ela. Elas a arrancam e a desinfetam pelo bem de suas vidas tranquilas. O mundo as levou à loucura e agora elas vivem num estado de inveja e medo. Reagindo aos falsos conceitos com indignação, elas destroem o mundo ao seu redor... em nome de sua própria sobrevivência. Elas são os Dauntain.
A juventude e energia são como a primavera, florescendo com beleza e brilhando com cores vibrantes. Os Sonhadores são os filhos da primavera. Os homens e mulheres que destroem as mentes dos Sonhadores rejeitam esta primavera. Para eles, a queda silenciosa da folhas de outono tem mais música que o canto dos pássaros na primavera. Pisar em cima de folhas secas é mais prazeroso que tecer coroas de flores frescas. Eles são os homens ocos. Eles são a gente vazia.
Eles são o Povo Outonal.
No geral a típica Pessoa Outonal é, com sorte, um incomodo menor. Você pode encontrá-la de várias formas: a professora que toma as histórias em quadrinhos de uma criança porque elas são “lixo”, o chefe que não entende porque você não gosta de se algemar ao seu trabalho sem sentido, ou os pais preocupados em censurar livros, programas de TV e canais do Youtube para o bem de seus filhos. Existe uma mensagem que pode ser ouvida em alto e bom tom: Não pense, não sonhe, e não tenha esperanças. O mero fato delas existirem em números tão grande faz com que moldar o Glamour seja um feito tão difícil. Viver num mundo onde nossos desejos são negados o tempo todo nos endurece conforme bloqueamos nossos deleites e acreditamos que isso vai diminuir a dor de nossas vidas
Os homens vazios são os líderes de qualquer grupo de conformistas. Eles são um exemplo para as pessoas ao seu redor do triunfo da conformidade sobre o espírito crítico. Fique na fila. Obedeça. Siga. Acredite em nós. Sabemos o que é melhor pra você. Os seguidores feridos que os acompanham perdem a vontade de dar vazão aos instintos que já arderam em suas almas. Os adormecidos que seguem os Filhos Outonais não podem ver as maravilhas ao seu redor e o Povo Outonal está determinado em mantê-los dormindo. Em oposição, os sonhadores que rejeitam o modo de vida do Povo Outonal vivem em um sonho lúcido, tomados pela euforia de seus mundos de sonhos.
Há também os filhos do Outono cujas mentes são tão padronizadas pela estase que podem cegar os olhos da mente do mais criativo dos Sonhadores. Alheios do mal que causam nas pessoas ao seu redor, eles tecem conformidade onde quer que vão, esmagando esperanças, minando vontades e fechando mentes. A silenciosa mágica Outonal é difícil de detectar e mais difícil ainda de resistir. Os seguidores do outono mais perigosos são aqueles conscientes da existência da mágica em meio ao comum. O sofrimento trazido pelos Inocentes não é nada comparado ao estrago causado pelos Dauntain.
O Povo Outonal que sabe da existência do sobrenatural é bem mais perigoso que os Inocentes. A vida lhes causa dor e eles procuram alívio. As fadas são um mistério e eles respondem com destruição, varrendo o mundo de sua alegria. Acima de todos eles está o pai da destruição da imaginação, um cientista visionário, ainda que excêntrico, chamado Dr. Anton Stark.
Sua primeira vítima foi uma garotinha que fugiu para outro mundo. Para ela, verdade e beleza eram a mesma coisa, ela acreditava que vivia em um mundo onde a magia era real. Ela contou histórias de sua vida feliz: ter dançado com Sátiros, brincado com Pooka, e conhecido Trolls e elfos pelo nome. Ficou claro para o Dr. Stark que suas “tendências perigosas” deveriam ser interrompidas. Se a fantasia era a doença, a realidade seria a cura. Ele lentamente estilhaçou seus sonhos, racionalizando seus contos de fadas através de aconselhamento psicológico, lógica fria e arrogância. Sua vitória trouxe para a garota o fim de sua infância.
Histórias de suas técnicas são infames entre os changelings. As fadas referem-se a qualquer um dos soldados da conformidade que seguem os passos do Dr. Stark como Dauntain. Muitos dos Kithain não percebem a cruel realidade: os Dauntain são de fato parentes das fadas. Eles possuem sangue feérico. Cada Dauntain teve o potencial de passar pela Crisálida, mas o mundo negou a cada um deles essa oportunidade. Traumas e danos, pesadelos e dores fazem parte deles. Eles rejeitam sua natureza feérica, negam seu próprio Glamour e atacam o mundo de forma violenta. Uma vez que todo Glamour se vá, seu sofrimento acabará.
Eles se regozijam enquanto as folhas secas se acumulam em pilhas. Eles preparam as chamas da razão distorcida para queimar a espiritualidade do mundo, eles se preparam para a chegada do Inverno.