Ser um Rei não significa só privilégios e desfrutar de quartos exclusivos em pousadas. Implícito no Direito do Domínio está a responsabilidade da nobreza para com seus súditos. Há poucos nobres ( plebeus ou Sidhe, Seelie ou Unseelie) que não levam a sério suas responsabilidades. Um nobre que não se importa com seus súditos corre o risco de enfrentar uma rebelião terrível, mas há mais do que isso. Desde o momento em que são Infantes, os nobres são instruídos de que é seu dever sagrado proteger seus súditos e tratá-los com justiça. A nobreza dos Kithain tem um histórico muito melhor nesse assunto do que a maioria dos líderes humanos (ou Pródigos). Muitos nobres têm até uma visão romantizada dos "changeling plebeus" e são conhecidos por se disfarçar para andar entre eles. (Apesar que consideram que será constrangedor se um plebeu reconhecer seu soberano enquanto ele estiver assim, tão disfarçado).
Apesar das boas intenções da nobreza, a noblesse oblige é um instinto natural. Muitos plebeus se ressentem, e com razão, das atitudes paternalistas e condescendentes da nobreza. Em geral, a nobreza olha os plebeus como crianças amadas, mas indisciplinadas e um tanto incultos. Não é que a nobreza subestime os plebeus (há muitos tratados eruditos sobre a "falta de astúcia dos plebeus"), mas poucos os consideram como iguais. Os nobres Sidhe estendem este julgamento também aos plebeus nobilitados.
Quando são honestos, até mesmo os mais radicais dos antimonarquistas admitem que houve algumas melhorias desde o retorno da nobreza Sidhe.
Durante os longos anos do Interregno, a sociedade Kithain dividiu-se em mil facções e pequenas comunidades limitadas ao lugar onde viviam. Muitos Kithain passariam a vida inteira sem se encontrar com changelings de fora de sua Propriedade Livre ou de sua conjuração. Tudo isso mudou com o retorno dos Sidhe. A nobreza proporciona um aspecto central e unificador na sociedade changeling. As Propriedades Livres nobres muitas vezes envolvem assuntos entre diferentes Kiths, enquanto a maioria das Propriedades Livres plebeias são mais homogêneas. Embora o contato dos Sidhe com outras raças seja, em muitos aspectos, superficial, através da execução de suas tarefas nobres eles ainda se envolvem com uma gama mais ampla de Kiths do que muitos outros changelings. Isto dá à nobreza uma grande extensão de conhecimento, quando não também proporciona um grande aprofundamento nos mesmos. Muitos plebeus já se uniram, por nenhuma outra razão a não ser a desconfiança em relação à nobreza.
Outra conquista positiva da nobreza é a abertura e a proteção de muitas novas Propriedades Livres e Trods. Embora o grande surto de Glamour em 1969 não tenha sido causado pelos Sidhe, ele aconteceu em paralelo com o Ressurgimento e eles geralmente recebem o crédito por isso (junto com o pouso na Lua). Assim, a chegada dos Sidhe está diretamente ligada ao evento mais positivo da memória dos Kithain vivos. Plebeus que afirmam o contrário são geralmente acusados de serem invejosos e amargos.
Mesmo que eles não tenham realmente causado o Ressurgimento, a nobreza tirou proveito disso para o benefício de todos os changelings. Antes do Ressurgimento, os poucos Trods abertos, e o Sonhar Próximo de modo geral, eram extremamente perigosos. Bandoleiros e quimeras hostis muitas vezes se escondiam ao longo do Caminho da Prata, atacando os seus viajantes. Os Sidhe limparam em grande parte os Trods, tornando os principais bastante seguros. É claro que a influência deles diminui à medida que se avança no Sonhar. Alguns nobres são conhecidos por cobrarem pedágio daqueles que viajam pelos Trods sob sua "proteção", enquanto outros permitem passagem livre para todos.
A nobreza também garante as fronteiras de todas as Propriedades Livres sob sua proteção. Os Tribunais Nobres negociam disputas territoriais entre Kithain rivais. De fato, as disputas entre os changelings diminuíram consideravelmente devido a isso. Além disso, a nobreza age de maneira decisiva para proteger os plebeus dos ataques de Gallain, da Corte Sombria e até mesmo dos Pródigos. A única questão em que esta situação se inverte um pouco é quando os humanos estão envolvidos. Os Sidhe são particularmente vulneráveis à Banalidade e, portanto, não lidam com a humanidade com a mesma facilidade que a maioria dos plebeus.
Talvez os maiores benefícios colhidos pelos plebeus do retorno da nobreza não sejam, no entanto, tão tangíveis. Os Sidhe sempre foram o coração dos Kithain, e quando abandonaram os fae durante a Fragmentação, uma parte vital do espírito Kithain foi arrancada. Embora muitos plebeus estejam desconfiados e ressentidos com o retorno da Sidhe, eles também os acolhem porque são uma parte ausente da alma Kithain. Finalmente, como o Kith mais familiarizado com o Sonhar e o último que esteve em Arcádia, os Sidhe representam uma grande oportunidade para o crescimento dos Kithain. Muitos plebeus sentem que o retorno dos Sidhe proporciona a todos os changelings uma chance sem precedentes de explorar mundos há muito proibidos para eles durante o Interregno.
É um erro considerar que a corrupção seja terreno exclusivo da Corte Unseelie. Com a retórica de honra e dever sempre em seus lábios, a nobreza Seelie não costuma ser suspeita de fraudes, mesmo quando todos os dedos apontam para eles. A maior parte da nobreza Kithain (Seelie e Unseelie) tem um forte código de ética. Dentro desse código, a maioria deles é extremamente honesta. Seus padrões, porém, são muito estranhos e não são amplamente compreendidos fora da nobreza. Quando seu código entra em conflito com os direitos dos outros, geralmente é o forasteiro que sofre. Um nobre que se enquadra perfeitamente no código dos Uasal Kithain pode facilmente estar agindo de forma imoral pelos padrões de outra pessoa. Como seu código é tão obscuro e arcano para os forasteiros (especialmente humanos), eles são freqüentemente acusados de agir de forma arbitrária.
Os defensores da nobreza frequentemente usam os argumentos acima como uma defesa contra qualquer suspeita moral por parte da nobreza. Mesmo as ações mais desumanas da nobreza são consideradas por muitos como tendo suas raízes em um código moral rígido, talvez diferente, mas não menos válido. Infelizmente, nem sempre este é o caso. Alguns Kithain nobres são loucos, maus ou corruptos. Estes nobres seguem o código de conduta nobre apenas quando ele se encaixa em seus propósitos, muitas vezes apenas por causa da aparência. Tais nobres geralmente se enquadram em uma ou mais das categorias listadas abaixo.
Ideólogos: Muitos nobres têm um ideal ou uma visão pela qual são movidos. Em alguns casos, porém, o idealismo se torna fanatismo e o nobre deixa de ver todas as outras considerações. Há várias facções entre a nobreza (por exemplo, a Lâmina de Beltane) que encorajam este fanatismo. Os fae são criaturas apaixonadas e a nobreza Sidhe ainda mais. As lendas de Arcádia, embora esquecidas, ainda são abundantes em suas mentes. Muitos Sidhe estão extremamente confiantes de que sabem o que é melhor para todos.
Ávidos pelo poder: Poder pelo mero prazer de se ter poder. Essa linha de nobres é a personificação do velho axioma sobre as propriedades corruptoras do poder. Ser um nobre Kithain é uma experiência de vida agitada e estimulante. Alguns nobres não conseguem evitar serem corrompidos pelo poder quase ilimitado que exercem sobre o Sonhar e seus companheiros Kithain. Em geral, quanto maior o título, maiores são as possibilidades de corrupção. Nobres que passam muito tempo em suas Propriedades Livres ou no Sonhar são especialmente suscetíveis a esta marca de corrupção. Não há nada como uma boa dose de Banalidade para derrubar um nobre do alto de um pedestal.
Dualistas: Em geral, os Sidhe são mais propensos a trocar sua lealdade entre as Cortes Seelie e Unseelie do que outros changelings. Alguns nobres levam este comportamento eclético a níveis esquizofrênicos. Para a maioria dos nobres Seelie, o lado Unseelie é tratado como uma aventura de uma noite, uma válvula de escape emocional. Alguns só deixam seu lado Unseelie aparecer uma vez por ano, na véspera de Samhain - mas esta outra natureza é parte integrante do changeling, quer ele admita ou não. Entretanto, há alguns changelings, que perdem toda essa distinção entre as Cortes, às vezes alternando entre elas a cada momento. Estranhamente, a maioria desses nobres dualistas são altamente hábeis em ocultar sua verdadeira natureza e surgem como alguns dos membros mais fiéis e confiáveis de suas respectivas Cortes.
Insanos - Embora uma pessoa de fora possa considerar um dualista como um louco, a maioria dos changelings nunca faria isso. Existem, no entanto, changelings que seriam considerados loucos até mesmo pelos altos padrões estabelecidos pelos Malkavianos (veja Vampiro: A Máscara). Os Sidhe são particularmente vulneráveis à loucura, por uma série de razões. Sua perda de memória e identidade, as pressões de mergulhar despreparados no mundo moderno e suas inegáveis conexões com o Sonhar são apenas algumas. Muitos Sidhe passam a maior parte do tempo em suas Propriedades Livres, permitindo assim que fiquem expostos aos males do Desvario. A insanidade geralmente não é tratada com o mesmo estigma pelos Kithain como pelos humanos. Os changelings insanos são geralmente aceitos e muitas vezes até reverenciados pelos changelings como Kithain que escaparam do temível peso da Banalidade. A maioria dos changelings insanos são relativamente inofensivos na maior parte do tempo, mas há exceções. Os Sidhe insanos são alguns dos mais perigosos Kithain vivos. (Veja a seção sobre Os Perdidos no Capítulo Quatro, para conhecer os mais perigosos deste tipo). Apesar do que foi dito acima, os Sidhe são menos vulneráveis ao Desvario do que outros Kith que passam a mesma quantidade de tempo em uma Propriedade Livre.
Os contos de fadas estão cheios de histórias sobre pessoas que negociaram com os fae, apenas para serem ludibriadas e escravizadas para sempre. Essas histórias são verdadeiras. Os servos humanos Encantados são preferidos pela nobreza Kithain, que nunca se cansa de seus serviçais. Muitos changelings modernos e mais igualitários vêem esta prática como bárbara. Apesar de todas as suas queixas, ainda é uma prática comum utilizar servos humanos. A maioria desses servos são muito bem tratados (às vezes até mimados) e podem inclusive chegar a ocupar altos postos dentro do séquito real. Os Changelings são muito cuidadosos para escolher humanos com a menor quantidade possível de Banalidade (muitas vezes artistas ou crianças) como servos.
Os Sidhe se esqueceram de muito de seu passado e conhecem pouco do mundo moderno. Ainda assim, há razões pelas quais eles são os senhores dos Kithain. Apesar de seus muitos séculos de amnésia, os Sidhe têm recordações muito mais antigas do que qualquer outro Kith. Há lordes Sidhe vivos ainda hoje que se lembram de Carlos Magno, da queda de Roma e até mesmo da Era das Lendas. (Entretanto tais Antigos são extremamente raros). Eles sabem pouco sobre computadores ou cultura popular, mas conhecem os velhos segredos, negados a todos, exceto aos maiores estudiosos dos outros Kiths. Seu conhecimento é o conhecimento das árvores e dos lugares secretos, das raízes das montanhas e especialmente do Sonhar. Até mesmo os Sluagh têm inveja dos diversos segredos antigos conhecidos pelos Sidhe.
Dentro de suas Propriedades Livres, a salvo dos ventos gelados da Banalidade, eles recriam as altas magias do passado, não vistas por outros Kithain durante séculos ou mesmo milênios. Então não é de se admirar que muitos plebeus os tenham recebido como os verdadeiros líderes dos Kithain. As Propriedades Livres da nobreza são coisas magníficas, às vezes aproximando-se da grandiosidade de Arcádia. Os Sidhe têm uma afinidade especial com o Sonhar e também são conhecidos por viverem em um tempo um pouco diferente dos outros Kithain. Como resultado, os Sidhe dominam as Artes Cronos e Ofício-Onírico muito mais facilmente do que qualquer outro Kith. (Veja o Capítulo Cinco para detalhes completos sobre estas duas Artes).
Enquanto em suas Propriedades Livres, a nobreza (e alguns plebeus altamente talentosos) são capazes de lançar truques que resistem aos rigores da Banalidade e do tempo. Os truques permanentes exigem o gasto de Glamour permanente e da Arte Cronos. (Veja o Capítulo Cinco para mais detalhes).