Na era mais antiga, a Era das Lendas, o mundo dos sonhos existia lado a lado com o reino dos mortais. Nenhuma barreira separava as duas realidades, e a energia mágica corria livremente pelas terras dos mortais. Sempre que essa energia tocava uma rocha, uma árvore ou um animal, surgiam criaturas estranhas e fabulosas. As fadas – os filhos do Sonhar – atravessavam sem problemas as fronteiras dos dois reinos, misturavam-se às tribos humanas que percorriam a terra e ensinavam a essas dinâmicas criaturas de vida breve a arte de sonhar. Essa capacidade de dar forma a coisas novas a partir das esperanças e visões fragmentárias criadas durante o sono profundo ajudou a preservar a força dos elos entre Arcádia, o reino dos sonhos, e o mundo dos mortais. Ao conceder o segredo de sua força vital – os sonhos – à humanidade, as fadas tentavam garantir sua sobrevivência e proliferação. Nascidas dos sonhos, elas extraíam sua existência ininterrupta do poder da imaginação para criá-los.
De tempos em tempos, os filhos do Sonhar se apresentavam aos mortais em vários aspectos, pois as formas das fadas eram tão inconstantes quanto os sonhos das quais elas brotavam. Em algumas regiões, as fadas se tornaram divindades para os Filhos de Adão e as Filhas de Eva. Seu poder de iludir e encantar fazia com que fossem amadas e temidas por todos aqueles que as encontravam. Na Irlanda, as façanhas das antigas fadas, que se denominavam Tuatha De Danaan, inspiravam temor e admiração nos corações dos mortais, o que levou à criação de lendas que persistiram até muito depois de esses seres terem abandonado o reino físico.
Muitas fadas viam os seres humanos como meros brinquedos, simples canais para os sonhos (ou os pesadelos). As mentes impressionáveis dos mortais não tinham defesas contra a paixão e a ira inconstantes dessas criaturas quase divinas. Assim como aprenderam a sonhar, os seres humanos também aprenderam a temer seus sonhos. Esse mesmo medo viria a se tornar a ruína das fadas, pois, à medida que a Era de Ouro das Lendas dava lugar às Eras de Prata, Bronze e Ferro que se seguiram, os seres humanos foram aprendendo a se proteger de seus temores. O ato de autopreservação, apesar de compreensível, deu início à lenta segregação do Sonhar em relação ao reino dos mortais e produziu o fenômeno conhecido como a Separação.