Eles esperavam ver a encosta cinzenta coberta de urzes da charneca subir e subir até se unir ao nublado céu de outono. Mas, não, foram recebidos por um fulgor de luz solar que entrava aos borbotões como a luz de um dia de junho a invadir a garagem quando você abre a porta. A luz fazia as gotas de orvalho sobre a relva cintilarem como contas e destacava a sujeira no rosto manchado de lágrimas de Jill. E a luz do sol vinha do que certamente parecia ser um mundo diferente, pelo que eles conseguiam deslumbrar. Eles viram um gramado acetinado, tão acetinado e brilhante como Jill jamais tinha visto, e um céu azul e, voando para lá e para cá, coisas tão brilhantes que poderiam ser joias ou enormes borboletas.
— C.S. Lewis, “A cadeira de prata”
Tocar o Sonhar é ter acesso ao manancial de criatividade do qual brotam todas as histórias, os sonhos, as artes e os ofícios. Os changelings fazem parte dessas histórias: apesar de seus corpos serem feitos de carne mortal, suas almas são formadas de sonhos. Cada changeling que passa pela Crisálida traz uma pequena parte do Sonhar de volta ao mundo. Como a borboleta que emerge do casulo, a descoberta de sua natureza changeling faz sua alma alçar voo.
Essa transformação permite ao changeling enxergar além da aparência terrena e vislumbrar as infinitas fronteiras do Sonhar. Dotado da capacidade de ver tanto o que é quanto o que poderia ser, o changeling vive num mundo de possibilidades sempre em expansão, limitado somente por sua própria imaginação e criatividade. Essa diferença de percepção não é um simples revestimento, como uma mancha de óleo iridescente numa poça d'água. Um outro mundo efervescente de magia feérica existe ao lado e no interior do mundo dos mortais, é uma parte dele. E nessa realidade quimérica que vivem os changelings.