Como é que se acaba um sonho? Na melhor ou (com mais frequência) na pior das hipóteses, os habitantes sombrios do Mundo das Trevas encaram o fim de todas as coisas como uma era em que os grandes mistérios serão finalmente revelados. O desfecho dos acontecimentos que envolvem o fim será claro para todos aqueles que puderem vê-los. Mas, como em muitas outras coisas, os fae divergem dos seus primos Pródigos. Mesmo o seu mito apocalíptico mais conhecido, a chegada do Inverno, raramente é considerado uma era de sofrimento e destruição desenfreada. De fato, alguns fae afirmam que isso pode acontecer com o mundo, mas de uma forma bem diferente.
Desde os primeiros dias, a maior batalha dos changelings não tem sido combater inimigos físicos ou um grande conceito metafísico como morte ou corrupção, mas sim manter vivas noções tão frágeis quanto a inocência das crianças ou a necessidade dos artistas de se expressarem. Da mesma forma, os changelings lutam consigo mesmos para alcançar o equilíbrio entre a sua natureza humana e a sua natureza feérica, para encontrar um lugar num mundo que não é o seu. A vida deles é muitas vezes agridoce, com suas memórias mais doces e amigos queridos sendo roubados aos poucos pelo toque cruel da Banalidade, seus momentos de maior triunfo sendo apagados pela certeza de que seus feitos gloriosos desaparecerão um dia.
Isto não quer dizer que os fae se preocupam apenas com coisas intangíveis, delicadas. Longe disso. Sua história é longa e colorida, cheia de grandes aventuras e heróis que são muito maiores do que a vida. No final, os fae são capazes de realizar ações decisivas e atos heroicos tanto quanto qualquer outro grupo sobrenatural, mas não é só isso que existe para eles. Suas batalhas são travadas não apenas contra monstros e vilões, mas contra a mediocridade. Triunfar sobre uma metade do problema não significa muito se a outra metade permanecer. O equilíbrio entre as preocupações terrenas e os grandes conceitos que moldam os fae é extremamente importante ao projetar um fim adequado para os Kithain. Se tudo o que eles fazem é matar grandes bestas ou realizar rituais antigos, você esta deixando de lado um elemento importante que os torna únicos. Da mesma forma, se você transforma esse jogo em nada mais do que um mero exercício de apreciação artística ou sociologia aplicada, você acaba perdendo o potencial dinâmico e ativo dos fae.
No fim de contas, Changeling é um jogo sobre o equilíbrio entre o mundo dos sonhos que todos aspiramos alcançar e o mundo das preocupações mundanas com as quais todos lutamos. Certifique-se de que suas histórias abordam os dois lados dos Kithain e você terá jogadores reagindo de formas que são raras em outros jogos.
Continue sonhando!
A fim de garantir que todos estejam em sintonia com o final, o texto a seguir é um breve resumo da meta-trama de Changeling até este ponto.
Era uma vez, um jovem nobre, David Ardry, que foi descoberto por Thomas, o Leal, lendário bardo das fadas, e acabou sendo coroado grande rei de Concórdia. Para surpresa de muitos nobres e plebeus, ele provou ser um rei justo e honesto, governando por muitos anos de relativa paz e prosperidade. Alguns anos atrás ele se apaixonou por Faerilyth, uma bela princesa da Casa Eiluned e sobrinha do Rei Meilge. Eles se casaram em meio a uma nuvem de suspeitas sobre a veracidade do amor de Faerilyth por David, uma nuvem que escureceu quando David desapareceu enquanto viajava com sua nova esposa através de suas terras, o Reino dos Salgueiros. Sir Seif, um jovem cavaleiro Exu, viu-se subitamente na posse de Caliburn, a espada do Grande Rei, e tomou isso como um sinal de que ele deveria partir para encontrar David. Seif por sua vez desapareceu.
Sem David para sustentá-la, a paz entre nobres e plebeus se desfez em uma revolta aberta, juntamente com uma batalha traiçoeira e multipartidária pelo trono entre diferentes facções de nobres e plebeus. Hoje, os principais competidores pelo poder são Faerilyth, ainda Grande Rainha e desesperadamente à procura de seu marido; Princesa Lenore ap Dougal, que no passado foi nomeada como herdeira pelo próprio David; Rainha Mab, governante das terras ao redor de Tara-Nar, que se recusa a entregar o palácio a qualquer um, exceto David; e Morwen, irmã de David e uma das favoritas dos plebeus. Também há rumores de que o próprio Meilge estaria de olho no trono. Agindo por detrás dos panos, a traiçoeira Corte Sombria coloca todos os lados uns contra os outros, divertindo-se com o caos. Complicando ainda mais as coisas, algumas Casas nobres voltaram recentemente de Arcádia, trazendo consigo notícias sinistras. Nenhuma facção conseguiu ainda o domínio e a guerra se arrasta, trazendo a cada dia novas histórias de heroísmo e honra - assim como derramamento de sangue e brutalidade.
Enquanto isso, nas profundezas do Sonhar as Cortes dos Fomorianos, os antigos inimigos do Kithain e seus ancestrais, os Tuatha de Danaan, acordaram. A ordem mais baixa dos Fomorianos, a Corte Branca, escapou de sua prisão e procura formas de libertar os seus mestres mais poderosos. Os Thallain, reflexos sombrios dos Kithain, também começaram a retornar para a terra, juntamente com os Adhene, habitantes bizarros do Sonhar que não põem os pés no Mundo Outonal há séculos. Vários grupos de ambos os lados do Sonhar começaram a procurar o Triunfante Elmo dos Sofrimentos, a lendária arma que foi fundamental para derrotar os Fomorianos durante a última grande guerra. Embora o tesouro tenha estado perdido durante séculos, se um dos lados encontrar este prêmio, ele poderá garantir sua vitória. É neste palco volátil e turbulento que encontramos os nossos heróis.