No início da Era Paleolítica, os humanos já transmitiam aos seus jovens suas tradições e elaboravam suas próprias explicações para os mistérios do mundo. Eles também produziram as primeiras artes e os primeiros sonhos. Nas profundezas das cavernas, escondidos e protegidos, eles pintaram animais, na esperança de obter algum controle mágico sobre as feras que caçavam. Suas esperanças e sonhos produziram os Pooka.
No sopé dos Pirenéus, em uma caverna chamada Les Trois Frères, uma pintura rupestre mostra uma figura polêmica. Esta figura é a de um homem vestido com a pele de um cavalo ou de um lobo com chifres de veado: é considerada um xamã pré-histórico. Estudiosos changeling, por outro lado, dizem que este é o primeiro registro de um Pooka na sociedade humana. Eles afirmam que a pintura, chamada “O Feiticeiro”, é na verdade uma representação de um Pooka, desenhado como meio-homem e meio-veado.
Na Idade Neolítica, os humanos desenvolveram a agricultura e domesticaram certos animais. O excedente agrícola, conseguido pelo usa de arados puxados por bois, permitiu aos homens um tempo de lazer para sonhar e aspirar mais. Também libertou alguns membros da comunidade para se tornarem artistas e artesãos, em vez de caçadores e agricultores. Muitas dessas primeiras civilizações, como seus ancestrais antes delas, desenvolveram mitos e histórias sobre a magia. A maioria desses mitos apresentava animais. Os Pooka afirmam ter surgido desses mitos, embora eles não fossem como os Pooka que conhecemos hoje.
Criaturas vibrantes e primitivas, eles instilaram medo e admiração nos humanos. A natureza evasiva dessas antigas fadas torna muito difícil hoje supor suas características reais. Nenhum Pooka conhecido jamais reteve a lembrança daqueles dias e os Pooka são notoriamente ruins em manter registros ou diários. A mitologia suméria, no entanto, descreve os animais como demônios e monstros a serem dominados. Os Pooka ainda não haviam atingido um lugar de reverência entre esses povos antigos. Suas naturezas predatórias os tornavam inimigos da humanidade, perigosos e raivosos. Só muito mais tarde os sonhos que criaram os Pooka começaram a se transformar em algo mais positivo e menos primitivo.
Um dos mais famosos Pooka que já existiu entre a humanidade foi Hórus. Um Pooka falcão, Hórus viveu entre os antigos egípcios, servindo como conselheiro de seu maior rei, Osíris. Antes do surgimento de Hórus, os Pooka haviam mantido um relacionamento agressivo com os mortais. Hórus introduziu um conceito revolucionário nos Pooka: trabalhar com os humanos para treiná-los a nutrir seus sonhos e respeitar todas as criaturas do mundo.
A imortalidade de Hórus lhe valeu o título mortal de “deus do céu”, cujo nome significa “O Distante”. Ele estabeleceu um relacionamento próximo com o rei Osíris e sua rainha Isis. Os artistas frequentemente os descreviam como um trio, Osíris flanqueado por sua rainha de um lado e o homem com cabeça de falcão, Hórus, do outro. Mais tarde, outros Pooka juntaram-se a Hórus, dando origem a um movimento que não apenas apoiou Hórus em sua tentativa de moldar a civilização humana, mas levou sua filosofia um pouco mais longe. Esses Pooka adotaram uma abordagem mais prática, guiando a religião egípcia, incutindo uma reverência aos animais, ensinando sobre uma vida após a morte em que deuses-animais julgavam os mortos e lembrando as pessoas do equilíbrio cuidadoso da natureza. Fazendo aparições públicas, agindo como uma espécie de televangelistas da antiguidade, eles pregavam a moralidade dos sonhos e o respeito às pessoas que viviam ao longo do Nilo. Eles encenavam rituais e os artistas os retratavam como almas julgadoras. Mesmo naquela época, os Pooka eram manipuladores habilidosos.
Um dos recrutados para a causa, um Pooka chacal chamado Anúbis, influenciou fortemente os egípcios. Embora os egípcios originalmente matassem chacais por violarem suas sepulturas, eles eventualmente nomearam Anúbis o protetor dos mortos. Como os egípcios temiam e reverenciavam Anúbis por sua imortalidade e magia, eles começaram a tratar todos os chacais com maior respeito e pararam de matá-los por medo de enfurecer Anúbis. Anúbis, junto com Hórus e Thoth (um Pooka íbis chamado de deus da sabedoria e do aprendizado), pesavam publicamente os corações dos recém-falecidos. Artistas naturais, eles se vestiam com trajes divinos e faziam do ritual um espetáculo dramático. Outros também se juntaram, cada um ganhando status divino: Apis, o deus touro, Khnum, o deus carneiro, Hathor, a deusa vaca, e Sebek, o deus crocodilo.
Os deuses egípcios Pooka tiveram sua religião contestada quando um faraó chamado Akhenaton chegou ao poder. Akhenaton não gostava nem confiava nos deuses Pooka que haviam guiado os faraós anteriores com sua mão dominadora. Ele e sua rainha, Nefertiti, se rebelaram contra os Pooka, espalhando uma filosofia mo noteísta que proclamava que todos os outros deuses e deusas egípcios eram fraudes e proibia sua adoração.
Felizmente, Akhenaton cometeu muitos erros. Seu reinado foi curto, apenas 17 anos, mas durante esse tempo, ele se fez retratado pelos artistas como um homem mortal, ao invés de um deus seguindo a tradição de Osíris. Isso prejudicou, em vez de ajudar, sua reputação, rebaixando-o do pedestal real para o nível do povo. Sua doutrina monoteísta também nunca impressionou os egípcios, que viam sua religião como uma ameaça às suas próprias chances de imortalidade. Quando Akhenaton morreu, sua religião morreu com ele.
O fracasso de Akhenaton mostrou a Hórus e aos outros deuses Pooka que seu trabalho no Egito estava completo. Sua doutrina resistiu a desafios diretos e as pessoas se uniram em apoio às velhas crenças, em vez de correr para abraçar a nova religião de Akhenaton. O panteão, ouvindo relatos de outras áreas em crise, decidiu viajar e espalhar sua filosofia para mais pessoas do mundo antigo. Eles deixaram o Egito e se separaram, levando sua pregação para qualquer lugar que pudessem encontrar. Mais Pooka juntaram-se a eles com o passar do tempo e logo os cultos aos animais desenvolveram seguidores fortes em todo o mundo.
A palavra “Pooka” é uma corruptela da palavra gaélica que significa “fae que muda” que se originou em Arcádia. É uma palavra tão antiga quanto qualquer outra na linguagem das fadas, sua origem perdida com o passar do tempo e a invasão da Banalidade. Por muito tempo, os Pooka foram criaturas em Arcádia, assim como os unicórnios e os pégasos. Eles habitaram as áreas mais selvagens, as florestas, rios e mares. Durante a Idade Paleolítica no mundo outonal, os Pooka passaram por uma evolução, à medida que os sonhadores mortais começaram a atribuir-lhes capacidades de raciocínio, bem como a capacidade de sonhar por si próprios. Conforme suas lendas se tornaram mais elaboradas, os Pooka adquiriram a habilidade de mudar de forma. Muitos humanos descreveram seus deuses como meio-homens, meio-animais. Religiões inteiras, como a dos citas, cujos xamãs eram em parte curandeiros, em parte mágicos, em parte adivinhos e, o que é mais importante, em parte animais, desenvolveram-se em torno de deuses-animais.
Essas fadas mutantes viajaram por todo o mundo conhecido e foram chamadas por muitos nomes em muitos lugares. Entre os celtas, particularmente aqueles que se estabeleceram na Irlanda, os Pooka adquiriram o nome pelo qual os conhecemos hoje. Os celtas também os viam como trapaceiros perigosos a quem era melhor apaziguar (assim com outros do povo justo) e evitar.
Milorde e Milady,
Devo tomar um momento aqui para anexar esta nota acadêmica, para que não se perca a credibilidade. Por favor, entendam que muito do que é dito nesta primeira parte de sua história pode ser o próprio mito da criação dos Pooka. Pode ser a imaginação de um Kith que deseja mais respeito entre seus pares e assim inventar um passado grandioso e glorioso compatível com (se não exceder) o dos Sidhe. Se eles alguma vez foram considerados deuses, eu não fui capaz de provar ou refutar. Isso, permanece aberto ao debate.
Embora os Pooka já tenham sido associados aos sonhos europeus, eles também poderiam ter aparecido em outros lugares. Sabemos, por exemplo, que os celtas eram uma tribo muito viajada, e é sua interpretação dos Pooka que é a mais conhecida. Ainda assim, os próprios Celtas nunca afirmaram que os Pooka eram deuses. Sabemos que os Sátiros (por exemplo) certamente receberam o status de deuses pelos gregos, pois seu nome não foi alterado. Talvez os Pooka tenham recebido um status semelhante, mas seu nome e imagem mudaram ao longo dos séculos seguintes, gerando uma aparente zombaria de suas afirmações.
Portanto, ofereço o que me dizem, seja fantasia criativa ou pura mentira. Entretanto, peço sua indulgência por tempo suficiente para perguntar: seria possível? Os Pooka certamente insistem que aconteceu assim, e quem sou eu para interferir em uma boa história? Atenciosamente,
Veracity Honorword
Cronista
Os povos nativos da Austrália têm um mito da criação que afirma que, no passado, a Terra era um plano vazio sem características. Durante o “Tempo dos Sonhos Eternos”, muitos seres sobrenaturais acordaram e se levantaram de seu sono sob a superfície deste plano. Esses seres tinham formas animais, mas também podiam se transformar em humanos à vontade. Deles veio toda a vida; cada animal e planta, cada ser humano descendia de um desses metamorfos divinos. Pooka? Possivelmente. Eles certamente afirmam que foram os progenitores dos sonhos dos aborígenes nativos.