Perdi minha paixão: por que deveria preserva-la
Se tudo o que se guarda acaba adulterado?
Perdi visão, olfato, gosto, tato e audição:
Como agora utiliza-los para me aproximar de ti?
— T.S.Eliot, "Gerontion"
A descrença ameaça a própria existência dos changelings. A cortina de dúvida e racionalidade que os seres humanos ergueram séculos atrás para explicar seus medos não apenas separa o mundo dos mortais do Sonhar como também destrói a centelha de criatividade que origina a esperança e a imaginação. Os changelings chamam essa negação universal do espírito criativo de Banalidade, pois ela tenta reduzir o maravilhoso ao terreno, o miraculoso ao comum e o inexplicável ao impossível. Muitos Kithain mais velhos se referem a essa força destrutiva de descrença e ceticismo como a Noite Perpétua ou o Longo Inverno, pois se trata do epítome das trevas, da monotonia e da frialdade implacável. É a morte do espírito.
A Banalidade obscurece as mentes dos mortais, impede-os de enxergar as maravilhas do mundo que os cerca e as possibilidades de melhorar suas vidas melancólicas. A Banalidade defende que as coisas são como são devido a um longo e tedioso processo de causa e efeito. Os processos evolutivos e a deterioração entrópica avançam somente numa direção, e todas as coisas acabarão chegando a um fim excruciante com a morte do sol. A Banalidade é o desmancha-prazeres do cosmo. Em termos mais práticos, a Banalidade incita um pai desiludido a destruir a crença de seu filho no Papai Noel e no Coelhinho da Páscoa. Ela força um estudante talentoso a abandonar seu sonho de se tornar um grande escritor ou músico para se juntar à força de trabalho porque os conselheiros vocacionais o instruíram a tomar decisões “realistas" sobre o futuro.
A Banalidade rege o Mundo das Trevas, lança suas sombras enregelantes sobre a paisagem urbana e as regiões campestres arruinadas. O contato com essa força malévola ameaça extinguir a chama da magia feérica. Aprisionado em suas garras de ferro frio, o Sonhar enfraquece, e o esplendor quimérico se reduz a fiapos vistosos de bobagens e devaneios ociosos. Os Kithain temem a Banalidade acima de tudo, até mesmo da morte, pois, no dia em que o último fragmento de Glamour for vitimado por essa racionalidade insensata, o Sonhar desaparecerá para sempre.