A sociedade feérica se baseia bastante nos costumes e nas tradições do feudalismo do século XIV. Apesar de fazerem parte do mundo moderno e levarem suas vidas cercados pelos frutos de seiscentos anos de “progresso” tecnológico e político, os changelings, ao interagirem com o Sonhar, retornam a um mundo travestido de passado distante. Essa persistência do aspecto medieval entre as fadas ocorre por diversas razões.
Apesar do fato de os plebeus terem aparentemente se adaptado aos novos tempos, suas almas continuam sintonizadas à era anterior à Fragmentação. Por causa disso, a maioria dos changelings vive num eterno circuito temporal. Enquanto sua carne mortal passa por um constante ciclo de envelhecimento, morte e renascimento, seus espíritos antigos se consolam com a familiaridade do medievalismo.
Além disso, o mundo dos mortais continua a exercer seu próprio poder sobre os vestígios do Sonhar. A maioria dos contos de fada tem lugar num cenário medieval, e os seres humanos que ainda acreditam em fadas costumam imaginá-las num mundo cheio de castelos e criaturas mitológicas. Portanto, as formas típicas da Idade Média proporcionam o caminho mais fácil para os changelings.
Por último, os nobres Sidhe que controlam a sociedade feérica perderam a ascensão do governo democrático, e muitas tendências políticas modernas não fazem sentido para esses tradicionalistas. Desde o Ressurgimento, esses soberanos das fadas estruturaram suas bases de poder de acordo com a norma feudal, retrocedendo à organização que existia na época da Fragmentação. O sistema feudal, por se basear na proteção da terra, apresenta um modelo ideal para uma sociedade centrada na preservação de Propriedades Livres e outros lugares sagrados para o Sonhar.
O feudalismo surgiu entre os seres humanos durante a Idade Média como o ápice da lenta transformação de um estilo de vida caçador-coletor e nômade num modelo agrário e sedentário. Apesar de culturas mais antigas já valorizarem a fertilidade da terra, o surgimento das cidades e o crescimento da população fizeram da produção de alimentos a maior preocupação da maioria das pessoas. A sociedade feudal surgiu em função da necessidade de garantir a segurança da terra para as pessoas que lavravam o solo. Em troca dessa proteção, a população comum jurava fidelidade aos senhores e cavaleiros, que só faziam se preparar para cumprir seu dever de guardiões da terra. Desenvolveu-se uma hierarquia na qual os nobres e os guerreiros regiam a classe camponesa. Apesar dessa rígida estrutura de classes, o sistema de vassalagem criava fortes laços de lealdade entre governantes e governados. Os cavaleiros tinham a obrigação solene de proteger aqueles que trabalhavam para colocar comida em suas mesas, enquanto os camponeses tinham o dever de alimentar aqueles que se arriscavam para garantir a paz dos que lavravam o solo.
Embora seis séculos de mudanças e invenções tenham tornado o sistema feudal obsoleto no mundo dos mortais, o feudalismo e a vassalagem ainda têm função na sociedade das fadas. A raridade das Propriedades Livres e dos lugares onde o Glamour ainda se concentra torna esses locais vulneráveis a usurpadores gananciosos e a portadores involuntários da Banalidade. Com um sistema de Reis e nobres, cavaleiros e camponeses, as fadas da Terra são capazes de impor uma superestrutura estável a sua sociedade, uma sociedade em que as Propriedades Livres gozam da proteção daqueles suficientemente fortes para defender seus preciosos estoques de Glamour e magia quimérica. Além disso, o esplendor e a pompa dos tempos medievais é um forte apelo à inclinação natural dos changelings para cerimônias e rituais elaborados.
A Guerra da Harmonia teve como resultado a ascensão de uma versão modificada do feudalismo como o sistema de governo dominante das fadas. Não tão rígido quanto os sistemas feudais da Terra, o feudalismo feérico ainda proporciona uma estrutura consistente na qual os changelings podem se relacionar uns com os outros e sentir-se seguros quanto a quem são e ao lugar que ocupam em sua sociedade. A hostilidade constante do mundo material fomentou uma grande necessidade de estabilidade nos changelings, e o sistema feudal propicia aos Kithain a âncora necessária.
Uma complexa rede de fidelidades e Juramentos une os patamares da pirâmide hierárquica da sociedade feudal dos changelings. A oficialização de um Juramento e o valor da palavra de um changeling são laços sagrados e levados muito a sério. Quebrar um Juramento constitui um dos crimes mais graves entre os Kithain, sejam Seelie ou Unseelie. Todos os changelings da sociedade têm certas obrigações e responsabilidades delineadas pelos Juramentos que prestaram. Os nobres e os cavaleiros juram proteger os que se encontram abaixo deles. Os plebeus juram obedecer àqueles que estão acima. Os transgressores são punidos imediatamente, não só pelas cortes de justiça como também pelo ostracismo social e a rejeição de seus semelhantes.
Até mesmo os senhores Unseelie exigem a lealdade de seus súditos. Apesar de proclamarem a liberdade e a indisciplina, muitos desses Kithain insistem tanto na obediência de seus seguidores quanto suas contrapartes Seelie.