Então, você acha que sabe tudo o que significa ser um Troll. Você é grande, e muito mais forte do que qualquer outra raça feérica. Acha que isso é suficiente? Ouça, criança, um conto que já era velho antes mesmo da Separação. Ouça, e aprenda o verdadeiro significado de ser um Troll.
Há muito tempo, muito antes da Separação, em um tempo tão distante que os Tuatha de Danann ainda se relacionavam com seus filhos, viviam duas fadas: Ottmar CarvalhoForte, um Troll tão alto quanto o céu e tão poderoso quanto o mar, e sua companheira jurada, Breanna Corwyn ap Fionna, uma Sidhe tão bela quanto a aurora. Ottmar era realmente um gigante entre as fadas, de passos e braços poderosos. Seu cabelo era escuro como a meia-noite, seus olhos azuis como gelo, mas ele era suave como a brisa de verão com aqueles que ele amava e apreciava. Breanna era tão esbelta quanto um galho de junco e tão graciosa quanto o cisne. Seus longos cabelos louros eram tão belos que faziam as folhas de outono caírem de vergonha, e sua pele era lisa e branca como o alabastro mais puro, porém tão quente e suave quanto nenhuma outra que jamais existiu, nem antes nem depois.
Os dois eram inseparáveis, e vagavam juntos por toda extensão do Sonhar e do Mundo Outonal. Juntos, derrotaram a Besta de Exmoor, uma criatura vil que aterrorizava humanos e fadas. Eles viajaram para o domínio Unseelie de Tom Tenebroso, um Sidhe astuto de barba farta, cuja sombra chegava tão longe quanto sua negra reputação, e recuperaram a Gema Jimminy, um tesouro pelo qual reinos já haviam caído. Sua recompensa por tais atos foi apenas a inimizade de Tom Tenebroso e de seus aliados, uma inimizade que os dois enfrentaram com corações firmes e grande entusiasmo, pois o conflito sempre foi um caminho certeiro para a fama e a aventura. Inimigos se encontravam com o aço cortante da espada de Ottmar, uma espada mais alta que a maioria dos burgueses e mais larga que uma prancha de madeira, e com as poderosas magias de Breanna, pois ela era uma feiticeira renomada. Os dois pareciam um par perfeito, companheiros inseparáveis. Os Juramentos mais fortes foram realizados entre os dois, fortalecendo sua amizade e prometendo ajuda eterna. No entanto, as sementes da discórdia haviam plantadas e começavam a crescer. Ottmar era um Troll firme e inabalável, o primeiro em batalha, campeão dos fracos, e tema de muitas canções e histórias. No entanto, havia muito mais nele do que apenas isso. Esta é a verdade de nossa espécie; somos firmes como rochas, mas tão profundos e românticos como qualquer outro kith, apesar de nossos rostos de pedra e silêncio constante. Ottmar não era diferente, estava extasiado de forma louca e apaixonada pela bela Breanna. Isto foi mantido em segredo, porque mesmo que seu amor fosse tão verdadeiro quanto a noite é longa, era uma alma nobre e não faria qualquer exigência para ela. Seria impróprio professar abertamente seu amor. Em vez disso, secretamente dedicava a ela em seu coração cada ato, cada ousada vitória, e esta dedicação serviu-lhe bem, pois o levou a triunfos cada vez maiores. As outras fadas começaram a vê-lo com temor, até mesmo a bela Breanna.
Ottmar sentia prazer em cada realização, mas não tanto quanto aquele que surgia a partir das palavras de elogio de Breanna. Não importava seus ferimentos ou os perigos envolvidos, ele iria repetir com prazer cada tarefa impossível para ser recompensado por suas palavras. Isso não era uma tarefa simples, mas uma verdade que todos deveriam saber é que podem as riquezas diminuir, podem os tesouros deixar de entreter, mas o amor dura para sempre, e é digno de qualquer ação, até mesmo a morte. Esta lição Ottmar conhecia bem, e ele amava cada uma de suas palavras. Ele não era apressado ou impaciente, pois sentia que cada palavra dita, cada sorriso, cada gesto trazia Breanna cada vez mais perto do amor verdadeiro, e este era um tesouro pelo qual ele estava disposto a esperar. Naqueles dias éramos verdadeiramente imortais, e não precisávamos nos esconder nem um pouco da Banalidade. Ottmar poderia ter esperado décadas para Breanna retribuir o seu amor, e assim faria, se não fosse por Sean Argênteo.
Sean Argênteo era um Sidhe Seelie da Casa Gwydion, conhecido por sua cota de malha prateada e seu brilhante elmo. Verdadeiramente belo e feroz, além do normal, era um herói de valor e um oponente digno nas batalhas. Muitos já haviam caído perante sua língua de prata e olhos violetas ou de sua espada, fina qual uma agulha. Sean Argênteo era tão arrojado, cheio de graça e maneiras Corteses. Palavras doces fluíam de seus lábios tão facilmente quanto canções. Breanna não era imune a elas, um fato que começou a chamar a atenção de seu fiel companheiro.
No começo, Ottmar deu boas vindas a Sean como uma alma gêmea e companheiro de aventura. Sean era um igual à seus olhos, e Ottmar tratou-o como um irmão. Isto mudou, no entanto, quando Breanna começou a procurar a companhia de Sean mais e mais, e convidá-lo para participar de suas aventuras. Mas isso não importava muito, terrenos traiçoeiros e encontros perigosos eram a especialidade de Ottmar, e ele estava certo de que Sean nunca poderia sobrepuja-lo nesta área. Infelizmente, Sean empunhava sua espada fina qual agulha tão habilmente quanto tecia palavras, um fato que não passou despercebido pela bela Breanna. Ela começou a louvá-lo assim como elogiava Ottmar, oferecendo de forma gratuita para Sean, palavras que Ottmar arriscava a vida para ouvir. Perceber isso estimulava Ottmar a realizar atos de ousadia cada vez maiores, que lhe rendiam palavras de elogio tanto de Breanna quanto de Sean, mas não serviam para diminuir aquelas que eram oferecidas a Sean.
Oh, como Ottmar desejava que Sean fosse um Unseelie ou uma besta! Assim ele poderia tê-lo despachado com facilidade. No entanto, Sean era um Sidhe nobre e honrado, um que não havia transgredido qualquer lei ou regra exceto aquelas escritas no coração de Ottmar. O gigante sofria crises de insegurança e melancolia. Cada vez menos brilhavam os raios dourados de seus feitos anteriores. Somente enfrentar um adversário muito perigoso ou ser apanhado pela excitação de uma nova missão, fazia com que a luz de Ottmar retornasse. Seus dois companheiros (pois agora Sean era um membro constante de seu grupo) expressavam preocupação crescente, mas recebiam como resposta apenas um silêncio impassível que acabava se tornando grosseria. Não importava o quanto tentasse, Breanna era incapaz de atenuar esta depressão misteriosa - de fato suas tentativas, muitas vezes levavam-no a um estado ainda pior. Como ela poderia saber que era o amor que lhe causava tanta dor?
Apesar disso, Tom Tenebroso não havia esquecido o roubo da Gema Jimminy, e não tinha nenhuma simpatia por qualquer um dos integrantes do ousado par. De Sean Argênteo pouco sabia, mas ele estava muito bem familiarizado com o nobre gigante e com a feiticeira. Tom Tenebroso era mais astuto que a maioria, e tinha olhos e ouvidos em todos os lugares. Por meio de um Sátiro, que ouviu de um Boggan, que pagou caro pela informação de um Sluagh, soube das lágrimas silenciosas que Ottmar havia derramado quando pensava estar sozinho. Tom Tenebroso tinha ouvido falar que a dupla problemática havia se tornado um trio, e todas as peças se encaixaram. É claro - o tolo temperamental, cabeça-dura estava apaixonado por Breanna! Armado desse conhecimento, ele começou a estabelecer um plano muito sutil, que iria destruir Ottmar e deixar Breanna em suas garras.
A preocupação que os companheiros de Ottmar demonstravam apenas aumentava o seu sofrimento, pois podia ver que o amor estava começando a florescer, não para aquele que o vinha cultivando como um jardineiro aplicado, mas para o viajante sortudo que havia tropeçado em um prêmio que não poderia ser descrito com palavras. Seu desespero silencioso cresceu a tal ponto que ele considerou abandonar Breanna e os Juramentos que o prendiam a ela. Mas ainda assim, ele era um Troll, e não seria indigno do poder que lhe fora oferecido para que pudesse cumprir seus Juramentos, só porque ele sentia que seu coração fosse explodir. Recusou-se a aceitar a situação, e começou a pensar em uma maneira de recuperar lentamente aquilo que estava destinado a ser seu: o amor de Breanna.
Enquanto descansavam de suas aventuras, o trio se refugiou no Vale do Verdor, a exuberante e fértil Propriedade Livre de Lady Rona, uma nobre menor conhecida por sua hospitalidade e generosidade. Sean Argênteo e Breanna aproveitavam o tranquilo ambiente campestre, enquanto Ottmar, sozinho, se afundava cada vez mais em tristes pensamentos. A dupla percebeu como seu estado de espírito piorava, mas sabiam de suas viagens com ele, que às vezes, isso passava sem sua interferência. Na verdade, parecia que qualquer tentativa de sua parte só piorava as coisas, assim o deixavam em seu silêncio, no entanto, mantinham-se preocupados. Se Ottmar soubesse que seus sussurros eram sobre ele, poderia ter aliviado o peso em seu coração, mas ele preferiu ver a situação com os olhos do desesperado, e ouvia em sua mente as palavras ditas a Sean que ele tanto queria ouvir de sua amada Breanna. Desanimado, o gigante sombrio retirou-se para seus aposentos e procurou o esquecimento do sono.
Mais tarde, naquela noite, Sean Argênteo, foi tirado de seu sono por sons furtivos do lado de fora de sua porta. Com a graça de um gato, ele se pôs de pé, a espada fina qual agulha em uma das mãos, pronta para ser usada contra qualquer coisa que lhe esperasse do lado de fora. Para sua surpresa e, em seguida, para sua alegria, tudo o que lhe esperava era uma carta escrita em uma delicada caligrafia feminina. Ela não estava assinada, mas trazia o perfume de rosas, e Sean não precisou de mais dicas para saber de quem era. Ele vestiu-se apressadamente e atendeu ao convite, assim foi para o jardim, sob as estrelas.
Breanna, também, havia recebido uma carta, escrita com uma caligrafia forte repleta de letras artísticas e que só poderiam pertencer às mãos de um daqueles nascidos da nobreza. Em palavras tão doces que se derretiam pela página, ela foi Cortejada e convidada para encontrar seu pretendente no jardim assim que fosse pudesse. Seu coração cantava com alegria, pois, finalmente, ela iria ouvir abertamente de Sean Argênteo as palavras que há tanto tempo esperava ouvir. Rapidamente, no entanto, com grande cuidado, ela vestiu-se e preparou-se.
Claro que, isso nada mais era do que uma armadilha concebida no fundo do coração negro de Tom Tenebroso, para quem os sentimentos como o amor não eram nada mais do que fraquezas a serem exploradas. Dispondo de apenas algumas moedas de prata, ele havia conseguido que três cartas fossem entregues. Ottmar, também, havia recebido uma carta com perfume de rosas, escrita no que só poderia ser a caligrafia de Breanna. Ela pedia, de forma muito clara, que ele fosse ao jardim, esta noite, e compartilhasse de sua alegria e seu amor. Tomado por uma emoção, que ele sentia que nunca seria capaz de expressar, Ottmar rapidamente saiu para o jardim.
Apesar de Tom Tenebroso ter montado o cenário, foi Jack Candeia que colocou os atores em movimento. Um sluagh Unseelie conhecido por suas tramas e magia incomparáveis, Jack Candeia havia preparado a cena com detalhes. Ele sabia de muitos segredos, entre eles que Breanna amava as rosas. Armado deste conhecimento, e também de sua poderosa magia, Jack Candeia jogou a sua isca e esperou. Com um estranho sorriso no rosto ele assistiu o desdobramento de sua trama nefasta, pois criatura tão má não poderia obter satisfação estando ao longe.
O grande destaque do jardim era um carvalho caído, sua forma retorcida transformada em beleza pelas vinhas esmeralda e pelas flores vermelhas das roseiras que o cercavam. Com alegria sem palavras, a bela Breanna e Sean Argênteo se jogaram um aos braços do outro, demonstrando seu amor de inúmeras maneiras silenciosas. A paixão adormecida que cada um sentia foi avivada até se tornar uma chama, uma fogueira tão brilhante que não deixava dúvidas alguma sobre as intenções de cada um. Lá, na noite sem nuvens, no famoso jardim do Vale do Verdor, os dois Sidhe encontraram o amor um no outro sem uma única palavra ser dita. Quão apropriado, pensou Sean, que a mais bela de todas as criaturas tornou-se sua na sombra de tal formosura. Como um testemunho de seu crescente amor, ele arrancou uma rosa perfeita para sua amada. A flor era, de fato, perfeita, mas encantada. Assim que Sean quebrou a haste ela exalou um perfume místico, deixando os dois Sidhe inconscientes.
Assim como Jack Candeia havia planejado, Ottmar chegou apenas alguns minutos depois, mas foi como se uma eternidade tivesse se passado. O que ele - o melhor amigo e maior amante de Breanna - viu não foi nada além dela e Sean, deitados nos braços um do outro, no coração do jardim. Se seus olhos não tivessem sido cegados pela tristeza, Ottmar certamente teria notado que os dois estavam de fato indefesos. Sua recompensa por anos de dedicação e devoção foi paga da forma mais amarga possível. O uso cruel das palavras ficou claro para Ottmar. "Compartilharmos o amor e alegria" - como ele poderia ter pensado que ela se referia a ele, quando estava claro que aquilo havia sido escrito para Sean? Afastando os olhos da cena que lhe dava tanto desgosto, ele viu o que parecia ser uma dúzia de figuras sombrias avançando pelo jardim, aparentemente com a intenção de prejudicar os dois amantes. Nas profundezas de sua raiva e dor, Ottmar os deixou à mercê do destino. Se eles triunfariam ou não; isso não importava mais, ele não se levantaria e ajudaria aqueles que o feriram mais do que qualquer outro antes. Abandonando seu Juramento de amor, ele abandonou Breanna e Sean deixando-os nas garras de Jack Candeia e seus capangas, silenciosamente se despedindo do Vale do Verdor e de sua honra.
Agora Tom Tenebroso tinha a odiosa Breanna em suas mãos, mas Ottmar havia escapado. Seus dois "convidados" foram levados para o labirinto subterrâneo de Jack Candeia, onde foram despojados de seus tesouros e dignidade e algemados juntos como um escárnio de abraço apaixonado. No entanto, sua vingança estava incompleta sem Ottmar. Os agentes enviados logo após o gigante ter deixado o local, foram incapazes de descobrir seu paradeiro. Não conseguindo encontrar Ottmar, ele decidiu trazer o gigante apaixonado até si. Assim seus agentes espalharam histórias do destino de Breanna e Sean através de boatos, com uma palavra sussurrada aqui, um rumor dito ali. Tom Tenebroso tinha certeza de que o nobre gigante não poderia recusar tal chamado à ação, mas não sabia das mudanças que a dor e a traição haviam causado em Ottmar.
Com a disseminação dos rumores, a notícia da quebra do Juramento de Ottmar ficou conhecida. Membros de seu kith o procuraram. Alguns foram pedir-lhe que voltasse, outros para puni-lo por suas transgressões que causaram uma má reputação para todos o Trolls, mas nenhum deles obteve sucesso. Aqueles armados com palavras foram recebidos com o silêncio de pedra e um olhar de raiva e desespero, enquanto aqueles armados com armas se depararam com uma ferocidade e selvageria raramente nunca vistas antes. Nenhum dos dois lados conseguiu alcançar seu objetivo e, assim, pararam de procurá-lo. Ottmar usava sua dor como um manto e a guardava para si mesmo.
Um visitante, no entanto, despertou-o de sua solidão, ainda que ligeiramente. Um jovem Estouvado que ainda se lembrava das histórias de sua honra e de seus atos o procurou e encontrou o gigante mal-humorado em uma caverna longe das terras civilizadas. Ele não deu atenção aos avisos de Ottmar para deixá-lo em paz, mas disse o nome que fez Ottmar reagir como se tivesse sido golpeado. Ele trouxe notícias sobre Breanna e sobre sua captura nas mãos de Jack Candeia.
Ottmar decidiu entrar em ação, pois, embora tivesse quebrado o seu coração, ele ainda a amava. Assim ele se preparou para sair e executar o resgate, mas avistou uma roseira que fez com que uma imagem retornasse à sua mente. Mais uma vez, assim como havia sido em todas as noites sem dormir desde a traição, ele viu Breanna em um abraço apaixonado com Sean Argênteo. Dor, disfarçada de raiva, retorceu seu rosto. Com um grunhido bestial, ordenou ao Estouvado que o deixasse em paz numa voz que não admitia desobediência. Ottmar vagou pelas áreas selvagens e áridas, sozinho com sua dor, ou pelo menos assim ele pensou. Apesar de não saber, os Tuatha de Danaan estavam observando-o, e estavam cientes de sua situação. Embora criadores de nossos corações, sua preocupação era muito maior com a lei, com a quebra do mais forte dos Juramentos, do que com o amor não correspondido. Alguns deles se aproximaram de Ottmar um dia na floresta e falou de seus Juramentos. Ottmar ficou aterrorizado com a presença dos Tuatha, pois mesmo os mais fortes dos corações estremeceriam com sua beleza e majestade. Eles eram o poder transformado em carne, e nada estava além do seu alcance. No entanto, ele encontrou a coragem de falar, contar sobre seu amor e o cuidado que tomou para cultivá-lo. Tornou-se mais ousado e falou das provações a que se submetia por Breanna e da consideração que possuía por ela. Ele até falou de Sean Argênteo, que ele teria ficado feliz em chama-lo de irmão se não fosse por seu amor por Breanna.
Normalmente, uma alma quieta, a dor emprestava a Ottmar a coragem para falar, e essa coragem emprestava às suas palavras uma eloquência muito além de seu normal. Tão comovente foi seu discurso que as árvores se inclinaram mais para perto, os pássaros pararam suas canções e até as rochas choraram. No entanto, os Tuatha não mudaram de ideia. Ottmar fez um Juramento em tempos de alegria e o abandonou em momentos de dificuldade. Mesmo saber que sua amiga corria terrível perigo não o moveu. Cada momento triste, cada sentimento doloroso foi relembrado com essas palavras, levando Ottmar cada vez mais perto de um estado de raiva incontrolável. Quando por fim eles repetiram o significado dos seus Juramentos, seu temperamento, por tanto tempo contido, explodiu em fúria. Antes ele havia sido movido pela compaixão para falar com os Tuatha, agora ele era guiado pela raiva. Ele amaldiçoou o dia em que deu sua palavra e amaldiçoou os Juramentos que fizera. Ele amaldiçoou o amor, amaldiçoou Sean Argênteo, e amaldiçoou o coração caprichoso de Breanna. Os Tuatha de Danaan falaram de justiça e punição. Ottmar não demonstrou remorso, pois estava muito além disso, instigado pelos aparentemente insensíveis Tuatha à um estado de ira cada vez maior. Lá, na floresta, o julgamento foi dado à Ottmar. Como ele havia dado sua palavra e quebrado, como ele havia amaldiçoado os inocentes, ele também deveria ser amaldiçoado. Enquanto ele mantivesse seu Juramento quebrado, ele realmente não seria um Troll, e teria sua força retirada de si. Essa dura sentença levou Ottmar além dos limites da razão, e ele entrou em um estado de fúria maior do que jamais alguém o vira. Não mais ele amaldiçoou Breanna e Sean Argênteo. Ele amaldiçoou os Tuatha de Danaan, pois não foram eles que criaram seu coração, um coração tão romântico quanto qualquer outro? Não o colocaram em uma forma tão grande e poderosa a ponto de parecer áspera e despretensiosa ao lado dos belos e imponentes Sidhe? Não foram eles os culpados por sua miséria e sofrimento?
Ottmar se enfureceu contra a injustiça que sentia ter sido cometida contra ele, e a poderosa ira queimou todo o ressentimento em seu interior. Sua raiva foi removida, e a razão retornou a Ottmar, mas o mal já havia sido feito. Com crescente apreensão, ele aguardou o resultado de sua reclamação. Ela não ficaria sem resposta. Os rostos impressionantes dos Tuatha de Danaan se nublaram com raiva, fazendo com que o guerreiro robusto tremesse de medo. Eles aceitaram as palavras de Ottmar, pois elas continham verdade. Como um Troll, ele era ao mesmo tempo poderoso e apaixonado, mas ambos deveriam ser equilibrados. Como Ottmar tinha quebrado seus Juramentos de amor, ele foi punido com uma fraqueza. No entanto, era verdade que ele acima de tudo, um membro exemplar de seu kith. Com um sorriso sombrio, os Tuatha agradeceram a Ottmar por chamar a sua atenção para a fraqueza de todos os Trolls. Ottmar tremeu de medo com o pronunciamento, mas sabia que o pior ainda estava por vir. Como a paixão o levou a agir de forma inconsequente, assim também todos os Trolls poderiam sofrer do mesmo mal. Portanto, a punição que Ottmar sofreu foi ampliada, de modo que todos os Trolls fossem punidos caso eles quebrassem sua palavra. A honra era o núcleo de sua espécie, honra e força. Se eles perdessem uma metade, os Tuatha decretaram, que então a outra também seria retirada deles. Com isso, os Tuatha de Danaan desapareceram, deixando Ottmar em desespero maior do que antes. Em vez de trazer punição apenas para si mesmo, suas ações amaldiçoaram todo o seu kith. Movido por uma sensação de vergonha maior do que sua dor pessoal, Ottmar empunhou sua poderosa espada, vestiu sua armadura e partiu para reparar seu Juramento. Embora nenhuma de suas ações pudesse libertar seu kith da maldição que ele havia trazido sobre eles, ele poderia pelo menos salvar os amantes Sidhe. A dor de vê-los novamente seria o início de um castigo adequado para a injustiça que ele havia cometido contra sua verdadeira família, pois ele era indigno da morte, e sentiu que tinha que sofrer muito para começar a expiar seus crimes.
Era exatamente isso que Jack Candeia havia planejado. Tom Tenebroso queria se vingar de Ottmar e de Breanna e pagara muito bem por isso. Como Ottmar não foi encontrado por seus lacaios, ele seria retirado de seu esconderijo pela bela Breanna. Jack Candeia suspeitava que ela era uma isca irresistível para o poderoso gigante, e ele estava correto, embora não esperasse que tivesse que esperar tanto tempo até que Ottmar viesse em seu socorro. Jack Candeia estava perto de entrar em desespero, e temia que ele teria que informar a Tom Tenebroso que seu plano havia fracassado quando os primeiros rumores sobre o ressurgimento do Troll chegaram a seus ouvidos. Muitas armadilhas, tanto mundanas como mágicas, esperavam por Ottmar e Jack Candeia estava certo de seu sucesso. Infelizmente ele não contava com a determinação e a sede de justiça do Troll.
Ottmar encontrou a entrada do labirinto subterrâneo de Jack Candeia e abriu caminho até as profundezas, exatamente como planejado. No entanto, as armadilhas não o enfraqueceram. Paredes projetadas para derrubá-lo e esmagá-lo, foram vencidas como se não passassem de uma leve camada de neve. Fossos que foram feitos para engoli-lo foram cruzados com um único passo de suas poderosas pernas. Armadilhas de natureza mágica foram superadas com sua grande astúcia, pois ele tinha um encontro com destino e nada o impediria, ele reencontraria Breanna.
Quando finalmente chegou ao coração do labirinto, Ottmar encontrou ambos, Sean Argênteo e Breanna, acorrentados um ao outro em um abraço de ferro. Essa foi uma provocação inteligente da parte de Jack Candeia, destinada a enlouquecer Ottmar por meio da tristeza. Mas, no entanto, isso só causou o efeito contrário, servindo para irritar ainda mais o gigante, que destroçou as algemas com as próprias mãos. Ambos os Sidhe ficaram surpresos com o poder bruto de seu antigo companheiro, mas ambos foram tomados pela alegria de revê-lo. Suas palavras de agradecimento foram recebidas apenas com um grunhido, quando Ottmar de novo colocou a espada nos ombros e se preparou para sair.
Jack Candeia estava observando tudo de uma câmara secreta perto do coração do labirinto, contemplando-os de longe com a ajuda de um espelho de vidência. Ottmar o havia impressionado, ainda não havia sido arruinado, então o ponto alto de seu plano estava pronto para ser revelado. Com uma risada baixa, ele o colocou em ação. Paredes de granito caíram de todos os lugares, bloqueando todas as saídas do labirinto. Outras paredes se ergueram, revelando uma horda de criaturas malignas e fadas Unseelie, armadas e vestindo armaduras, com o brilho dos assassinos em seus olhos. Jack Candeia saiu de seu esconderijo, pois não podia perder a oportunidade de ver seu sucesso de perto. Ele contou a Breanna e Ottmar os motivos dessa armadilha, e deu-lhes os cumprimentos de Tom Tenebroso. Então após um sinal, a horda avançou sobre Ottmar e os Sidhe desarmados.
O turbilhão de sangue e aço foi maior que qualquer lenda. Sean Argênteo e Breanna se defenderam sozinhos, apenas com suas magias para protegê-los. O olho deste furacão de violência, no entanto, foi Ottmar CarvalhoForte. Se ele havia ficado zangado ao confrontar os Tuatha de Danaan, se ele estava furioso quando conseguiu entrar no labirinto agora ele estava além da raiva. Ódio e raiva emanavam dele como ondas de calor e seu peitoral ficou mais Escarlate que o capuz do pior Redcap com o sangue de seus inimigos. Repetidamente sua poderosa espada atacava, cortando fadas e monstros ao meio. Ogros caíram perante seu primo Seelie, grifos foram vencidos e até mesmo Jack Candeia foi morto, a cabeça separada de seu corpo pelo Troll. Mais de 20 fadas e incontáveis monstros encontraram seu fim naquele dia sombrio, a maioria nas mãos de Otmar. Quando o inimigo final foi derrotado, apenas três permaneceram em pé: Ottmar, Breanna e Sean Argênteo. Os dois Sidhe haviam parado de lutar a muito tempo, os inimigos não conseguiam se aproximar deles sem cair sob a lâmina de Ottmar. Até mesmo Sean Argênteo, que era mais astuto que qualquer outro e mais eloquente do que a maioria, havia perdido suas palavras. Eles seguiram Ottmar silenciosamente enquanto refaziam seus passos, conduzindo-os novam ente à luz do sol.
A notícia se espalhou rapidamente e alcançou os ouvidos incrédulos de Tom Tenebroso, que desfez sua inimizade e formalmente se desculpou, prometendo nunca mais se opor a Ottmar e seus companheiros. A fama de Ottmar o perseguia como uma sombra a partir daí, outrora conhecido como CarvalhoForte, depois como Perjuro e, finalmente, como CoraçãoOceânico, pois alguém só poderia vencê-lo se conseguisse deter a fúria do próprio mar. Seu próprio Rei o perdoou e cantou seus louvores tão alto quanto os outros. Ottmar lidou com tudo isso de forma nobre, de uma maneira que muitos consideraram como humildade e modéstia. Na verdade, era vergonha e arrependimento, pois devido à suas atitudes seu próprio kith havia sido amaldiçoado e, o mais importante, sua amada colocada em grave perigo. Ele renovou seus Juramentos com Breanna ab Corwyn Fiona, expandindo-os também para incluir Sean Argênteo, pois este inocente também havia sofrido pelo resultado de seus atos. Os dois Sidhe o agradeceram imensamente e fizeram os mesmos Juramentos a Ottmar. Ottmar também fez um Juramento silencioso para que suas emoções nunca mais o cegassem perante o dever e seus amigos, mesmo que a dor se tornasse insuportável. À partir daí, jamais quebrou qualquer um dos seus Juramentos e foi padrinho no casamento de seus dois leais parceiros. No nascimento de cada um de seus filhos, ele jurou protegê-los com sua própria vida, e foi conhecido por seu senso de dever e bondade desde então. Ele nunca teve uma amante, nem mesmo outro companheiro.
Então é isso que significa ser um Troll, Infante. É o que somos, o que nos faz fortes. Embora Ottmar CoraçãoOceânico tenha sido aquele que causou nossa Fraqueza, nós deveríamos lhe ser gratos, pois ele nos lembra que o dever vem antes de tudo, mesmo que isso deva partir nossos corações. Lembre-se disso e talvez um dia contos sobre você também sejam contados.