Na selva, os animais sabem tudo.
— Provérbio da floresta tropical
Os Pooka, ao que parece, viajavam quase tanto quanto os Exus, espalhando seu próprio tipo particular de filosofia dos sonhos. Pistas aparecem nas mitologias da Índia, China, África e América do Norte, embora se essas foram manifestações dos Pooka ou outros tipos de espíritos animais companheiros isso ainda permanece um mistério (pelo menos para todos, exceto para os Pooka). Nenhuma cultura foi intocada por sua presença, assim como nenhuma cultura poderia evitar a influência dos animais em seu desenvolvimento. Os Pooka sempre trabalharam contra o avanço da civilização, vendo as cidades e fazendas como uma usurpação de seu território. Ao longo dos tempos, os Pooka responderam a isso de várias maneiras, evoluindo de forma bem lenta, a cada passo dado para frente eram dois para trás, de inimigos para conselheiros e depois para guias, e finalmente para uma combinação única de todos os estágios anteriores.
Por milênios (ou assim dizem), os Pooka foram deuses. Eles gostavam de respeito e instilavam medo em seus inimigos, bem como em seus adoradores. Então a religião monoteísta e o pensamento racional começaram a substituir sua influência. A ciência substituiu o mito ao explicar os mistérios do mundo. A religião organizada engoliu os cultos aos deuses animais e substituiu as crenças antigas por dogmas mais humano-centrados. Os primeiros cristãos tiveram a audácia e a força militar para forçar sua nova religião a pessoas que adoraram os mesmos deuses por cem gerações. À medida que difundiam suas doutrinas que falavam de um deus que se parecia com o homem e denunciava a adoração de ídolos, eles mudaram a imagem dos Pooka de uma divindade benevolente e natural para a de um demônio cujo único objetivo era a tentação e o enfraquecimento dos mortais. Os Pooka tiveram que ir para o submundo.
O Cristianismo se espalhou para o norte e o leste, gradualmente empurrando os Pooka para fora e fazendo-os fugir com o rabo entre as pernas. Como animais no caminho de um incêndio florestal violento, os Pooka se espalharam e correram para salvar suas próprias vidas. Os Pooka continuaram a lutar contra a pegada esmagadora da civilização nos domínios da natureza, mas de forma mais silenciosa e com um olhar mais preocupado. Alguns lutaram na Europa e no Oriente, teimosos demais para recuar, mesmo quando a derrota parecia inevitável. Outros fugiram para as partes mais selvagens do mundo, longe das gaiolas de pedra, tanto físicas quanto mentais, que a humanidade estava construindo.
Como muitos outros fae, os Pooka fugiram da Banalidade liberada pela Separação. Muito antes dos europeus descobrirem as terras distantes a oeste, os Pooka viajaram para as Américas e entraram em contato com os nativos de lá. Quase todas as antigas culturas da América, especialmente aquelas que ganharam importância, tinham deuses que foram pintados ou esculpidos como uma mistura de humanos e animais. Muitos desses deuses podiam se transformar em formas puramente animais ou puramente humanas.
Nas ruínas de Teotihuacán, a metrópole espiritual do México em seu auge no século 5 d.C., um templo trazia a imagem de Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada. Os historiadores changelings acreditam que ele era um Pooka. Em sua forma humana, ele era alto, de pele clara e com barba farta. Na verdade, os mitos a seu respeito indicam que ele era um príncipe entre o povo de Teotihuacán, alguém que se mantinha afastado de seus súditos, recusava-se a ter espelhos em seu palácio e tinha aversão a sacrifícios humanos. Os mitos afirmam que quando Quetzalcóatl voltou ao mar, viajando em direção ao Leste de onde viera, prometeu que um dia voltaria. Assim, ele deu origem ao mito do deus alto e pálido dos mares orientais, que abriu a porta para as Américas para a invasão espanhola um milênio depois.
Tanto os astecas quanto os maias acreditavam que todo ser humano tinha uma contraparte animal. O animal e a pessoa estavam ligados tão fortemente que tudo o que acontecia com a contraparte animal também acontecia com a pessoa. Assim, prejudicar ou curar a contraparte animal gerava o mesmo resultado ao indivíduo. O humano e sua afinidade animal compartilhavam o mesmo destino. Assim, os Pooka foram protegidos por um pouco de tempo, mas eles não podiam se esconder da onda crescente de Banalidade que ameaçava varrer o oceano e afogá-los na enchente que já havia feito com que muitos fae abandonassem este mundo.
A descrença e a perda de respeito pelas coisas espirituais criaram cada vez mais Banalidade neste mundo. Embora alguns fae trabalhassem para manter os sonhos vivos, eles não puderam conter a maré de desespero causada pela Peste Negra. A Fragmentação havia começado e até mesmo as terras distantes do oeste cederam sob seu peso esmagador.
Os portões de Arcádia começaram a se fechar e o mundo mortal ficou cada vez mais apegado à razão. Os Pooka começaram a perceber a tolice que seria enfrentar este inimigo de frente. Abatidos e derrotados, muitos Pooka abandonaram a luta, embora temporariamente, quando o Portal de Prata, o último Trod para Arcádia, foi fechado. Eles aceitaram o caminho changeling adotado pelas fadas que permaneceram neste mundo.
Muitos outros fugiram, enterrando-se profundamente em bolsões do Sonhar Próximo. Nem todos foram embora, mas um grande número sim. A saída repentina da maioria dos Pooka fez com que muitos acreditassem que haviam se perdido para sempre. Isso gerou ondas de preocupação pela comunidade changeling e viu o nascimento das primeiras teorias da conspiração sobre os Pooka. Durante os anos seguintes à perda do Portal de Prata, os Pooka ofereceram, santuário para seus companheiros. Muitos cavaram buracos no Sonhar Próximo, criando esconderijos. A sua mentalidade de matilha entrou em ação e, conforme mais e mais Pooka desapareciam, outros correram para segui-los.
No século 16, o homem branco veio para as Américas com suas botas esmagadoras, seus cavalos escravizados, sua atitude superior e sua religião. Alguns Pooka chegaram com eles, movendo-se das latrinas da Europa para uma nova terra com tantas esperanças e sonhos quanto suas contrapartes humanas. Outros Pooka lutaram ao lado dos nativos e Nunnehi, tentando retardar o avanço estrondoso do homem branco. Ao longo dos séculos seguintes, eles assistiram com horror aos povos nativos serem expulsos de suas terras e aprisionados, tratados como animais domesticados. Eles lutaram ferozmente enquanto os invasores destruíam os espíritos dessas pessoas naturais e orgulhosas.