Os olhos de Ingirun estavam cheios de loucura quando ela mergulhou a adaga em seu coração. Ela não suportava a visão dos cadáveres que a cercavam e a suas forças leais. Eles eram todos membros de sua família. A guerra que seu irmão travou contra ela a forçou a agir. Este foi o resultado. A noite gelada tinha o cheiro acobreado de sangue fresco no ar. O cheiro viajava de nariz em nariz entre aqueles que permaneceram dentro das paredes de pedras caídas da fortaleza.
Rigall, irmão de Ingirun, havia assassinado seus filhos e seus pensamentos venenosos o levaram a acusá-la de trair a Ordem Guerreira. É claro que seus pais acreditaram em Rigall, o líder justo da Ordem , e começaram a perseguir os aliados de Ingirun. A Guerra das Cortes havia começado.
A guerra contra os Jotunns sofreu por causa disso. Por eras a Ordem Guerreira protegeu todos os seres vivos contra o Sonhar das Trevas e suas criaturas, mas quando a guerra estourou a Ordem teve que depender cada vez mais do apoio de estrangeiros. Felizmente para todas as fadas, durante as nove batalhas finais, os Anciãos declararam uma trégua e novamente lutaram do mesmo lado. A aliança renovada terminou com a derrota dos Jotunns e a decisão dos Anciãos de irem para as Costas Distantes.
Desde então, Ingirun só teve que enfrentar seu irmão. Ela havia oferecido uma trégua, mas ele havia recusado, então ela teve que reunir todas as suas forças em um ataque final à fortaleza de seu irmão e este foi o resultado: a aniquilação quase completa da Corte Seelie da Ordem. Sua mente não podia suportar. Seu coração doeu. Todas as suas lágrimas não foram suficientes para lavar as sepulturas daqueles que estavam mortos ao seu redor. Através de seus olhos confusos ela contou os membros caídos de sua família, Aesin inocentes que haviam morrido devido à rivalidade com seu irmão.
Não sentiu dor quando perfurou seu coração - sinal de que já estava partido - e jogou-o aos céus, como se para satisfazer a brilhante estrela vermelha que anunciava o fim da guerra. Ela a vira uma vez há muito tempo, quando a guerra contra o Sonhar das Trevas começou, e ela percebeu que o Olho de Balor estava lá para zombar de si.
Joachim, o amante de Ingirun, olhou para a mulher que ele amara quando ela perfurou seu coração com a força que lhe restava e atirou-o ao ar. Ele podia ver o rastro poderoso de Glamour que seguia o coração enquanto ele subia, atraído pela estrela vermelha que brilhava no céu noturno. Uma grande explosão se espalhou pela área com uma luz tão brilhante que todos os presentes tiveram que fechar os olhos para evitarem ficar cegos. Quando a luz desapareceu, a estrela se foi também, e ele pôde ver Ingirun caindo para frente, o chão manchado de sangue ao lado de seu irmão morto. Ele se dirigiu a ela, chegando a tempo de pegar seu corpo sem vida em seus braços.
- Os Anciãos se foram! Todos se viraram para ver quem havia dito aquelas palavras. Era uma voz jovem e doce pairando no ar. Quando os olhos dos Aesin se voltaram, eles encontraram as Três Irmãs, as Nornas. Elas estavam na sacada de uma das torres. Não demorou muito para perceberem que as palavras eram de Urd, a jovem que atraía mais homens com sua beleza do que os mais belos Sidhe.
Sua irmã Verdandi, uma mulher que poderia facilmente ser confundida com sua mãe por causa de sua aparência matronal, foi a próxima a falar:
- O passado e o presente colidiram.
Das sombras no canto da varanda, a velha Skuld deu um passo à frente. Seu rosto poderia assustar o Redcap mais rude se quisesse.
- O futuro espera, jovens. Escolham agora. Usem de sabedoria em sua escolha. Os caminhos da dor se estendem à sua frente. Façam a viagem com alegria.
Ninguém falou. Ninguém se atreveu a falar enquanto as irmãs estavam presentes. Vários minutos se passaram e as Nornas não disseram mais nada.
Não se ouvia nenhum som quando o silêncio foi quebrado pelo doce som de uma voz feminina.
- Eu escolho. Eu reivindico o trono da minha família. Ragnelf, a irmã mais nova de Ingirun e Rigall, deu um passo à frente. Ninguém questionou sua afirmação; ninguém queria outra guerra de sucessão. Todos estavam cansados de lutar entre si. Os que foram forçados a lutar, achavam que o que ocorreu esta noite nunca mais deveria se repetir. Seelie ou Unseelie eram todos uma família.
A jovem Estouvada graciosamente subiu até a varanda com vista para o grande pátio. Por um momento, olhou para aqueles que estavam mortos e depois voltou sua atenção para os sobreviventes.
- A guerra acabou. O que vocês veem é o resultado das atrocidades cometidas por um ato de vingança e desespero. Eu, que conhecia a traição de meu irmão, permaneci neutra durante a guerra. Isso me faz menos culpada do que aconteceu? Não, isso me torna ainda mais culpada. Contemplei como uma grande injustiça foi cometida, não apenas para os seguidores de minha irmã, mas também para aqueles que a conheciam e não foram capazes de agir. Minhas feridas são tão grandes quanto as suas. Mas elas devem ser curadas. Vamos precisar de tempo, mas vamos triunfar. Nossa restauração começa agora. Como é meu direito, a partir de agora eu dissolvo a Ordem Guerreira Aesin. Precisamos mudar com o tempo e construir as fundações de uma nova era. De agora em diante e por toda a eternidade seremos conhecidos como Casa Aesin, os Guardiões do Norte. Nós agiremos como um e seremos um. Somos uma família e nunca mais vamos lutar entre nós. Vamos nos dedicar à verdadeira batalha, contra os Jotunns, e todos os que falarem de nós nos chamarão de lendas vivas!”