Os reinos do Sonhar Profundo são os menos estruturados. Somente alguns Trods chegam a atingir o Sonhar Profundo, sendo que esses raros caminhos só podem ser utilizados por aqueles que sabem como abri-los. Isolados da Banalidade, os reinos do Sonhar Profundo estão em constante agitação e respondem às necessidades do momento. Essas necessidades raramente levam em consideração os visitantes. Pelo contrário, elas servem para proteger da invasão os lugares secretos do Sonhar Profundo, escondem as rotas que levam até eles com ilusões ou alteram a realidade para confundir aqueles que não são deste mundo. Alguns habitantes também podem ser surpreendidos por esses campos caóticos.
Acredita-se que Arcádia fique no centro deste reino, mas isso pode muito bem ser outra ilusão. Ninguém foi capaz de chegar tão longe; quer dizer, ninguém que tenha começado sua jornada no reino terreno jamais retornou para contar a história. Arcádia pode até não ser a terra natal das fadas, e sim uma ilusão coletiva conjurada pelas Brumas. Há muitos paraísos no Sonhar Profundo e também inúmeros reinos inspirados em pesadelos, domínios de crueldade infernal e repugnante feiura.
Qualquer coisa pode acontecer neste reino, literalmente. Quanto mais ilógicas as coisas, maior a probabilidade de que venham a ocorrer. A lógica dos sonhos (se é que existe algo assim) prevalece no Sonhar Profundo porque este reino é a manifestação física e espiritual do poço mais profundo do inconsciente criativo. Os sonhos intensos e conflitantes dos mortais encontram uma forma de expressão neste lugar, às vezes no mesmo espaço. Como a paisagem visitada nos sonhos, lugares aparentemente não relacionados se sobrepõem sem que haja qualquer motivo para essa justaposição. As coisas que acontecem não teriam a menor ligação umas com as outras no mundo dos despertos. Praticamente inexistem relações de causa e efeito. Algumas ações não têm consequências nem reações relacionadas, outras surgem em resposta a consequências do que ainda não aconteceu. As pessoas se fundem em representações simbólicas e assumem inter-relações que, na verdade, não existem.
De uma maneira bizarra, o Sonhar Profundo é mantido por conexões “cósmicas”, e seus padrões essenciais ganham sentido só quando próximos uns dos outros. Algumas criaturas e certos objetos existem neste reino independente das fadas. Eles fazem parte da região e não podem ser excluídos simplesmente porque os changelings não desejam confrontá-los. Por outro lado, a realidade, afinal de contas, é um tanto quanto subjetiva. Os changelings costumam encontrar neste reino aquilo que esperam (ou temem) encontrar. Ainda se debate se essas coisas existiam ou não antes de o changeling entrar na área. Se alguém é capaz de imaginar uma coisa, esta pode ser encontrada no Sonhar Profundo, quase como se passasse a existir em resposta aos pensamentos do criador. A parte assustadora é que essa ressurgência de Glamour criativo nem sempre corresponde às expectativas e aos desejos conscientes de seu criador. Pelo contrário, a coisa ganha vida própria, em resposta aos desejos ocultos e temores reprimidos do changeling, além de ser tão ilógica quanto esses caprichos. Se o Sonhar Próximo é uma história e o Sonhar Distante, um mito, o Sonhar Profundo é a personificação dos próprios sonhos, e os sonhos raramente podem ser controlados ou dirigidos: essa é a função da Banalidade.