Mercy olhava para o dragão azul contra a parede, o gesso caindo em pedaços onde a criatura a havia atravessado. Ela podia sentir o Glamour na besta, chamando por ela do Sonhar.
O seu devaneio foi abruptamente interrompido quando Lance chamou do fundo do escritório:
— Merce, reunião de grupo! A Exu suspirou e abaixou o pincel, dando uma última olhada no mural, estava perfeito.
Ela encontrou sua mixórdia já reunida e esperando por ela. Em sua defesa, Laisha e Delilah pareciam estar ali só se beijando. Isso não contava como chegar no horário.
— Mais contas? Ela perguntou a Lance, esperando que fosse um problema menor. Ela estava ansiosa para voltar ao seu dragão.
O Sidhe balançou a cabeça enquanto abria uma pasta de papel pardo, virando os olhos para Cayne, que parecia a princípio se opor à reunião.
— Eu posso lidar com as contas. Eu encontrei um padrão perturbador.
— Todas essas pessoas visitaram Luzes Espelhadas. Lance continuou, espalhando recortes de jornal sobre a mesa. As manchetes citavam vítimas de perseguição e mortais atacando uns aos outros. Uma delas relatava um suicídio suspeito.
— Eu não sei o que está causando esta loucura neles, mas temos que descobrir. Nós poderíamos perder Luzes Espelhadas. Lady Azriel já está alfinetando o Barão por conta de nossa falta de experiência.
— Talvez alguém tenha se infiltrado — sugeriu Laisha — para manchar a reputação de Luzes Espelhadas de alguma forma?
Lance balançou a cabeça.
— Os golems quiméricos teriam parado qualquer intruso.
— Já estava aqui — disse Cayne, e Mercy sentou-se com um mau pressentimento roendo suas entranhas.
— Eu tenho pesadelos — continuou o Redcap — sobre...
— ...trevas no porão — Laisha terminou.
A ansiedade cresceu no estômago de Mercy, espalhando-se quente até apertar sua garganta. Ela olhou, através da porta do escritório, para seu magnífico dragão; suas escamas brilhando com todo o amor e esperança que Mercy havia colocado nelas. Sua visão se estreitou, e ela agora via os detalhes que de forma subconsciente havia acrescentado: grossos fios de escuridão nas bordas do mural, invadindo seu interior para devorar o dragão. Ela olhou para Lance, esperando que ele descartasse esta teoria, mas viu o pânico crescente em seu rosto e sabia que ele não podia. Já estava aqui. Invisível, espalhando-se silenciosamente como veneno.
Luzes Espelhadas estava infectada por dentro.
— Não! Ela se levantou. Esta é a nossa casa. Nosso refúgio. O que quer que esteja lá embaixo não pode vencer.
Cayne bufou.
— Já passou nossas defesas. Luzes Espelhadas não o parou, não nos avisou. O que quer que esteja lá embaixo... é tão dona desta Propriedade Livre quanto nós.
Mercy olhou para Cayne, ainda sentado no sofá azul desbotado. Ele era o guerreiro deles. Como poderiam esperar vencer sem ele? O mundo girava ao redor dela. Ela ia cair ou vomitar ou...
— Foda-se, Cayne — retrucou Laisha, levantando-se para ficar ao lado de Mercy. — Você acha que é um grande cão raivoso! Mas nós vamos descer lá e vamos acabar com essa coisa!
Lance ficou de pé. O Lance cauteloso, seguro de si, que olha todos os ângulos. O nobre Lance, cujo voto desempatava impasses da mixórdia.
— Pegue seu taco de beisebol — disse ele firmemente a Cayne. — Vamos caçar pesadelos. Luzes Espelhadas sempre nos protegeu. Esta noite, nós iremos cuidar dela.