Utilidade

Utilidade. Valor subjetivo ou proveitoso para um objeto. O ganho — material, estético ou moral — advindo a uma ação ou atribuído a uma coisa ou processos. Ant. inutilidade. A concepção da utilidade econômica é amiúde bem-definida (a saber, como proveito ou ganho em dólares ); a concepção geral da utilidade não o é. Há o aspecto ordinal ou qualitativo e o aspecto cardinal ou quantitativo. A utilidade ordinal é similar à preferência: trata-se de uma relação antissimétrica e transitiva (isto é, para quaisquer três objetos a, b e c, a>b ==> não (b>a), e a>b & b>c ==> a>c. (1)

Utilidade. Unidade básica de desejabilidade na generalidade das teorias da decisão, das teorias dos jogos e da economia. A dificuldade consiste em ter a certeza de que faz referência a algo suficientemente definido com que se possa trabalhar. Exemplo: as férias deste ano foram duas vezes melhor do que a do ano passado. As formulações mais prudentes preferem usar ordens de preferências: um resultado A tem maior utilidade que um resultado B (para o sujeito x se, e somente se, x prefere A a B). A maior parte das tradições do pensamento ético reconhece a existência de outros objetivos na vida, mais valiosos e meritórios do que a mera satisfação de uma sequência arbitrária de preferências. (2)

Utilidade. a) Caráter do que é útil.

b) Doutrina da Utilidade. Vide Utilitarismo.

c) A utilidade na economia: Qualificamos de úteis os objetos que permitem dar satisfação às necessidades e chamamos de utilidade a este caráter. Consideramo-la maior ou menor quanto maior ou menor for a necessidade que ela puder satisfazer. Para um fisiologista, os alimentos são dados constantes e valem pelo seu poder nutritivo. Para o homem, depende a utilidade do julgamento que dela faça quem dela precisa. Para o economista são úteis todas as coisas que respondem à necessidade do homem, sem se preocuparem em saber se são elas naturais, imaginárias ou até viciosas. Embora a economia olhe assim as necessidades, as encara porém sob o ângulo meramente quantitativo e extensista, e não sob o ângulo qualitativo e intensista, cuja diferença fundamental ressalta no tema do valor (vide).

Dizia Nietzsche que é a dificuldade que dá valor às coisas. Realmente o homem, em seu julgamento de valor, procede dessa forma. Como a vida para ser mantida exige do homem esforços, portanto onerosos, custosos, está a economia imbuída desse espírito, de só julgar como bem econômico aqueles cuja obtenção nos é custosa. As águas de um rio que servem às necessidades de uma população que delas pode usar à vontade, não são consideradas um bem econômico, Mas, se amanhã, se tornam propriedade de alguém e, para usá-las é necessário dar em troca algum bem, ou o que os represente, desse dia em diante passariam a serem consideradas um bem econômico.

Assim a economia trata das trocas e regula a utilidade pelo que ela custa e não pelas necessidades que ela satisfaz. Vemos assim que a utilidade está em relação ao esforço despendido na obtenção dos bens, no sacrifício que exige para a sua aquisição. Para resumir, entendem os economistas, como bem, uma coisa essencialmente útil, porém não se trata apenas do que se possa chamar sua utilidade objetiva; ou seja, sua aptidão à satisfação de uma necessidade, mas sim, sua utilidade subjetiva.  Desaparecendo o sacrifício, o ônus, a coisa perde o seu caráter de utilidade econômica. (3)


(1) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.