Fato, Fato/Valor e Factual

Fato. Ocorrência possível ou efetiva no mundo real. O estado de uma coisa concreta e suas variações de estados são fatos. Exemplos: Queda de chuva (um processo) e o resultado chão molhado (um estado). Advertência 1: Todos os fenômenos (aparências) são fatos, mas o inverso é falso. Advertência 2: “Fato” não deverá ser confundido com “verdade”, o que é frequente na linguagem comum. Assim, corpos que caem sempre foram acelerados, mas foi Galileu quem estabeleceu primeiro a proposição verdadeira, de que corpos em queda são acelerados. Advertência 3: Tampouco o “fato” pode ser confundido com o “dado”: um dado é um relato sobre o um fato. Quando pedimos a alguém que “nos dê fatos”, não queremos os próprios fatos, mas alguns dados acerca deles. Advertência 4: Os fatos investigados pela ciência são amiúde denominados de ‘fatos científicos’. Esta expressão é de algum modo infeliz porque sugere que todos os fatos em questão sejam criações científicas, enquanto, em verdade, apenas alguns o são – isto é, produzidos nos experimentos. (1)

Fato/valor. Uma distinção chave na teoria do valor, na ética e na ciência social. “A maior parte das mulheres é oprimida” é uma declaração fatual, enquanto “A opressão das mulheres é injusta” é um juízo de valor. A distinção e a separação entre fato e valor é justificada por quase todas as teorias do valor e filosofias morais. Ela é tão importante que faz jus a uma denominação especial: apartheid axiológico. A bem-dizer, juízos de valor – em particular, máximas morais – não se seguem logicamente de enunciados fatuais. Todavia, a lacuna fato/valor não é um abismo, pois o transpomos toda vez que conseguimos alterar fatos para adaptá-los às nossas normas. Além disso, nem todas as declarações de valor são subjetivas: algumas podem ser justificadas. Por exemplo, a extrema desigualdade social não é apenas má para o pobre: Também põe em perigo a segurança do rico e estorva o crescimento do mercado. Em suma, fatos e valores são distintos mas não estão separados. (1)

Fatual. Refere-se ao fato (s) que pode (m) ser ou não da experiência, como em “verdade fatual”. Não se deve confundi-lo com “empírico” ou “verdadeiro”, pois uma declaração fatual pode referir-se a fatos inacessíveis à experiência sensorial, ou pode ser falsa. Na perspectiva do realismo científico, a coleção das experiências é um pequeno subconjunto da coleção dos fatos, ou seja, daqueles nos quais algum cognoscente está envolvido. (1)

Fato. (do lat. factum, part. passado do verbo facere, fazer) - a) Significa o que é feito, tudo quanto acontece, tudo quanto sucede, tudo quanto pode ser objeto de experiência de qualquer espécie.

b) Emprega-se o termo para firmar a realidade exterior. É sinônimo de fenômeno, acontecimento. Quando tomado nesse sentido, opõe-se ao que é ilusório, fictício ou apenas possível.

c) Indica o que é necessário, segundo as leis do raciocínio.

Deve-se dar ao conceito de fato o que é fáctico, o que é feito. Neste caso, o eidético-noético, no homem, é também fáctico, mas distingue-se daquele que seria gênero, por ter a diferença específica de ser um fato noético. Desse modo, se há distinção entre fáctico e noético, ela é fundamentalmente apenas específica. (2)


(1) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(2) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.