Eudemonismo

Eudemonismo. Do grego eudaimonia, felicidade. Doutrina moral segundo a qual o fim das ações humanas (individuais e coletivas) consiste na busca da felicidade através do exercício da virtude, a única a nos conduzir ao soberano bem, por conseguinte, à felicidade. É essa identificação do soberano bem com a felicidade que faz da moral de Aristóteles um eudemonismo; também a moral provisória de Descartes pode ser entendida como um eudemonismo (que não se deve confundir com hedonismo). (1) 

Eudemonismo. Qualquer doutrina que assuma a felicidade como  princípio e fundamento da vida moral. São eudemonistas, nesse sentido, a ética de Aristóteles, a ética dos estoicos e dos neoplatônicos, a ética do empirismo inglês e do iluminismo. Kant acredita que o eudemonismo seja o ponto de vista do egoísmo moral, ou seja, da doutrina "de quem restringe todos os fins a si mesmo e nada vê de útil fora do que lhe interessa" (Antr., I, § 2). Mas esse conceito de eudemonismo é demasiado restrito, pois o mundo moderno, a partir de Hume, a noção de felicidade tem significado social, não coincidindo portanto com egoísmo ou egocentrismo. (2) 

Eudemonismo. Literalmente, 'eudemonismo' significa "posse de um bom demônio", ou seja, gozo ou fruição de um modo de ser mediante o qual se alcançará a prosperidade e a felicidade. Filosoficamente, entende-se por 'eudemonismo' toda tendência ética segundo a qual a felicidade é o sumo bem.

A felicidade pode ser entendida de muitas maneiras: pode consistir em "bem-estar", em "prazer", em "atividade contemplativa" etc. Em todo caso, trata-se de um "bem" e frequentemente também de uma "finalidade". É costume, desde Kant, chamar esse tipo de ética de "ética material", por oposição à "ética formal, elaborada e defendida por Kant. Na medida em que identifica o bem com a felicidade ou, melhor, na medida em que se considera o bem almejado, pode-se dizer que todas as éticas materiais são eudemonistas. 

Em vista disso podem ser considerados eudemonistas todos os "princípios materiais" práticos a que se refere Kant na Critica da razão prática. Esses princípios são de duas causas: subjetivos e objetivos. Os princípios subjetivos podem ser externos (da educação, como em Montaigne; da constituição civil, como em Bernard de Mandeville), ou internos (do sentimento de caráter físico, como em Epicuro; do sentimento moral, como em Hutcheson). Os princípios objetivos também podem ser externos (da vontade de Deus, como em Crusius e outras morais teológicas) ou internos (da perfeição, como em Wolff e nos estoicos). 

Característico do eudemonismo é considerar que não pode haver incompatibilidade entre a felicidade e o bem. Os que se opõem ao eudemonismo, em contrapartida, admitem que a felicidade e o bem podem coincidir, mas não coincidem necessariamente. Para o eudemonismo, a felicidade é o prêmio da virtude e, em geral, da ação moral. Para o antieudemonismo, por outro lado, a virtude vale por si mesma, independentemente da felicidade que pode produzir. (3)

(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

(3) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.