Demiurgo

Demiurgo. Nome que Platão e seus discípulos davam ao criador e ordenador do mundo, diferente de Deus, pura Inteligência. Fil. Demiurgo é o termo pelo qual Platão, no Timeu, designou o deus fabricante do Universo. Já a mesma palavra fora tomada como termo de comparação por Sócrates ao falar da fabricação dos seres mortais. Plotino emprega o vocábulo ao falar da Alma do Mundo. Os gnósticos deram o nome de demiurgo ao criador do Mundo dos sentidos, concebendo-o de variadas maneiras, e chegando alguns a considerar o seu ato como um erro. Em geral, foi por eles imaginado como o chefe dos espíritos inferiores. Quando criou o homem, o Demiurgo só pode conceder-lhe o seu princípio mais fraco, quer dizer, a alma sensitiva, ou psique, sendo o Deus Supremo quem lhe conferiu a alma racional, ou pneuma. Porém, o poder do mal no corpo material, e a influência hostil do Demiurgo, meramente sensitivo, puseram obstáculo ao desenvolvimento desse fator mais elevado, não podendo o Demiurgo levar as criaturas ao conhecimento da verdadeira divindade. (1)

Demiurgo. Assume na cultura helênica três conteúdos diversos: 

1) o de operários públicos, de condição livre, entre os quais já Homero cita os metalurgistas, os ceramistas, os pedreiros, os adivinhos, os médicos; 

2) pode ser também um magistrado de tipo colegial: "aquele que trata das coisas do povo"; 

3) Segundo uma terceira significação muito mais importante do ponto de vista histórico-cultural, demiurgo designa "o artífice", "o pai", o "arquiteto do Universo". Essa concepção, célebre principalmente na sua formulação platônica, no Timeu (28 e ss.), tem raízes nas cosmogonias e antropogonias órficas, mais antigas, assim como nas tentativas de espiritualização na explicação das relações entre a divindade e a gênese do mundo, elaboradas por Xenófones de Cólofon e Anaxágoras de Clazômenas. O autor do Timeu conclui um esforço de "transposição" de velhos mitos, esforço que vinha de longe. Recorrendo, por sua vez, ao mito. Sentindo que a razão é impotente para atingir o insondável das origens do homem e do Universo, a constituição dos elementos e as leis que governam o todo, Platão procura, através de uma narrativa, carregado do máximo de verossimilhança, insinuar, visar, atingir, se possível, a verdadeira realidade. Por isso, o seu demiurgo se situa no limite os dois mundos: o intelectual e o sensível. O 1.º é eterno, imutável, in-engendrado; o 2.º, pelo contrário, é temporal e mutável, nasce e transforma-se. Ora, aquilo que se transforma tem, necessariamente, um autor dessa transformação. Esse autor é o demiurgo, "o mais belo dos autores, a melhor das causas" (Timeu, 29a). Fez o mundo porque era bom; fez o mundo introduzindo a ordem na desordem inicial. Para tudo isto, o demiurgo sempre de olhos no inteligível, procedeu a sapientíssimas misturas. Por isso "pela providência do deus" (ibid., 29b), o mundo saiu das suas mãos tão perfeito, animado, inteligente, esférico (para melhor encerrar em si todas as figuras e todos os seres vivos), movendo-se circularmente a fim de imitar o movimento do próprio intelecto. (2) 

Demiurgo. (do gr. demiourgos, artesão). Termo empregado por Platão, no Timeu, para apontar o ser divino, construtor do universo. Já fora empregado por Sócrates através do testemunho de Xenofonte e, posteriormente, por Plotino, ao referir-se à Alma do mundo (vide), seguindo, assim, uma tese platônica. Com os gnósticos, o demiurgo é apenas um construtor do mundo, e não o Ser Supremo, que é dele distinto e do qual aquele depende. (3)

(1) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

(2) ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.