Mito

Mito.  Do grego mythos significa discurso, narrativa, boato, legenda, fábula, apólogo. A palavra "mito" possui diversas acepções. Entre nós, é frequentemente utilizada com o sentido pejorativo: uma narração fabulosa e fictícia, contrária à verdade.  Nesse sentido, "mito" equivale a engano, falsidade. Essa interpretação corresponde a uma mentalidade racionalista, para qual somente a razão é capaz de expressar a verdade. Hoje, no entanto, essa visão simplista está inteiramente superada, pois sabemos que muitos dos conhecimentos mais profundos e misteriosos são de tipo inconsciente e simbólico. Em sentido mais profundo, entende-se por "mitos" as descrições religiosas antigas, que expressam os modelos, os arquétipos da ação humana através dos atos originários dos "deuses" nos diversos campos. Nesse sentido, os mitos são narrações sagradas primitivas, dotadas de grande autoridade e normatividade para a vida humana. (1)

Mitologia.  Do grego fábula, lenda significa conjunto de mitos. Originariamente era o estudo sistemático dos mitos, que significavam uma narrativa fantasiosa da genealogia e dos feitos das divindades do politeísmo registrados nas teogonias. Como narrações imaginosas, distinguiam-se dos escritos propriamente históricos, pelo fato de não se enquadrarem dentro das coordenadas do espaço e do tempo histórico. Aos poucos,  o termo se foi carregando de novos sentidos, entre os quais notamos os mais importantes: 1.º) explicações populares, espontâneas, isto é, não racionais, nem científicas dos fenômenos do mundo físico e social. Por exemplo: os raios são dardos flamejantes com que o deus do céu, Júpiter Tonante, descarrega a sua ira sobre a Terra; 2.º) a projeção, muitas vezes dramatizada, das grandes aspirações do grupo. Assim, um povo oprimido pela fome, cria mitos sobre uma era dourada de fartura e de paz. (2)

Mitomania. 1. Psicop. Tendência a elaborar mentiras extraordinárias como sendo verdadeiras. 2. Hábito de mentir ou fantasiar frequentemente. (3)

Mito. Do grego mythos, relato, fábula, e mania, loucura. Tendência consciente, frequentemente constitucional, que um indivíduo possui de mentir, fabular ou simular de um modo mais ou menos vaidoso, maligno e perverso: “A mitomania é o resultado da persistência, no adulto, da atividade mítica infantil” (Dupré). (4)

Mito da Linha. Alegoria dos estados de compreensão exposta na República de Platão (VI, 509-11), imediatamente antes da famosa Alegoria da caverna. Ao fundo está o mundo das imagens, conhecido apenas pela eikasia. Os objetos dos sentidos são conhecidos pela pistis ou opinião; os objetos matemáticos e científicos pela dianoia ou raciocínio; e, no topo, as formas são conhecidas pela noêsis. (5)

Mito. Uma história ou modo de ver sabidamente falsa, mesmo que tenham sido na origem inventados de boa-fé para explicar alguma coisa. Exemplos: os mitos da origem do mundo e da moralidade, da superioridade de certas raças e dos benefícios universais da ditadura comunista ou do capitalismo desenfreado. Os inimigos da democracia, desde Platão e Nietzsche até Mussolini e Hitler, têm sustentado que o homem comum necessita de mitos ou "mentiras nobres" para viver. Os humanistas promovem o estudo científico, portanto não mítico, dos mitos, quer novos quer antigos, para remover não só obstáculos à pesquisa como para defender a democracia. (6) 

Mito. (do gr. mythos, lenda). a) É o relato simbólico que não revela imediatamente qualquer reflexão sobre fatos realizados por agentes impessoais ou forças da natureza, mas representados por seres pessoais. Esses relatos constituem, em suma, a mitologia, acrescentando-se neles as crenças respectivas.

b) A exposição de uma ideia ou doutrina sob a forma predominantemente poética, portanto metafórica e alegoricamente, como o mito da Caverna de Platão.

c) Uma crença mais ou menos geral que não tem nenhuma consciência histórica, como o "mito da greve geral" para instaurar a revolução social, defendida pelos socialistas revolucionários e sindicalistas. Vide Utopia.  (7)


(1) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]

(2) ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.

(3) DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO ILUSTRADO LAROUSSE. São Paulo: Larousse, 2007.

(4) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(5) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

(6) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(7) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.