Magia

Magia. a) Magos era o nome dado aos sacerdotes da antiga Pérsia que realizavam atos de prestidigitação, bem como fenômenos que pareciam surgir como produtos de forças ocultas, espíritos, seres sobrenaturais e até extranaturais. Deve-se distinguir a magia branca que os egípcios chamavam a do filho da branca, termo simbólico da magia tendente para o bem, da magia negra, tendente para o mal, praticada por feiticeiros e bruxas. A negromagia (nekros, morte) usa a invocação dos mortos para a realização de fenômenos físicos ou psicológicos. Às vezes é chamada de nigromagia, que não se deve confundir com niger, negro, pois sua origem é de nekros. Assim nigromante vem de nekromantes (gr.), que é o que invoca os mortos com o fim de predizer o futuro. Nigromancia é a arte de prever o futuro pela invocação dos mortos.

b) Na sociologia opõe-se o termo magia ao de religião. Na magia há uma visão rudimentar da legalidade da ordem cósmica, pois ela admite que existe conexões regulares e rígidas entre todas as coisas, de modo que as mais simples, por participarem de alguma formalidade, embora em grau menor que as forças da natureza, possuem essa formalidade em grau máximo. Podem as menores, graças ao nexo que as une às maiores, pôr estas em movimento e ação em benefício ou em maleficio de algo para o qual são dirigidas. Há na magia, pois, um rudimentar pensamento científico. Já nas religiões, as forças superiores são superiores ao ser humano e não podem ser movidas, dirigidas, constrangidas por este, mas apenas solicitadas para que lhes dê apoio. Na religião a divindade é livre; na magia ela está subordinada às ordens da conexão de todas as coisas.

Para Spengler a cultura árabe era uma cultura mágica por estar impregnada do pensamento mágico, no sentido dado acima. Contudo para outros tem um sentido diferente. Há pensamento mágico sempre que o homem admite a intervenção de poderes sobrenaturais, que podem ser despertados pela simpatia e por caminhos irracionais. O romantismo, na filosofia, revelou certa tendência mágica quando afirmava a superioridade do irracional sobre o racional, da intuição sobre a razão, da simpatia sobre o conhecimento. Há aí positividade, mas não está precisamente onde os românticos julgavam, mas sim no poder de iluminação, de esclarecimento que surge nos fenômenos psíquicos da inspiração, que têm realmente uma base simpatética; tema de estudo da psicologia e da noologia modernas.

Para os pitagóricos que estudavam os arithmoi magikoi, os números mágicos, o pensamento era o seguinte: há combinações, coordenações, estruturas, que fazem surgir poderes latentes nas coisas, os quais se atualizam dadas certas ordens numéricas, como os fenômenos físicos que ultrapassam os limites da sua natureza, enquanto possuidora de tal forma, mas que está incluso no que constitui a sua matéria. Para os iniciados pitagóricos era o poder que tinham os átomos. Enquanto numa forma era aquele poder limitado à natureza apresentada; eles continham poderes latentes que certas condições poderiam permitir o seu desencadear. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.