Percepção
Percepção. Procura a psicologia saber como, no adulto, se forma a representação do mundo exterior; que elementos entram para a formação dessa noção, que é bastante complexa. Para o metafísico, o problema é colocado doutra maneira. Ele pergunta primeiramente pela legalidade do problema, se se pode afirmar a existência de uma realidade distinta do pensamento (realismo), ou se toda realidade não se reduz ao próprio pensamento (idealismo). Se se colocar no primeiro caso, emite hipótese sobre essa realidade. Nesse caso é apresentada como formada por átomos, como na filosofia de Demócrito, de Epicuro e de Lucrécio, ou é apenas o espaço geométrico como em Descartes, ou de forças semelhantes à nossa atividade como Leibniz, ou os "reais" de Herbart, a "vontade" de Schopenhauer, etc. Mas essa colocação do problema não é da psicologia.
Para o homem comum, não há o problema da existência do mundo exterior, porque ele confunde as sensações com as percepções. Nossos sentidos recebem excitações exteriores, têm sensações brutas, as quais mais tarde são transformadas em percepções. A percepção é um produto psicológico de formação secundária, e nasce e se desenvolve com o concomitante desenvolvimento da personalidade do homem. As excitações exteriores provocam-nos sensações brutais, diversas, díspares, sem ordem, mas a percepção já é o resultado de um trabalho de ordenação das sensações.
Uma série de dificuldades são despertadas pelo problema da percepção exterior:
a) A representação que temos do mundo exterior envolve sempre a noção da extensão. É o que nos oferecem a visão, o tato, as sensações cenestésicas e que colocam o problema da noção do espaço;
b) Ante o mundo exterior não temos apenas uma noção confusa das coisas que o compõem, mas vemos que elas se delineiam, se focalizam, se distinguem, se fragmentam. Nós as separamos e as agrupamos para formar a noção de um objeto qualquer, uma árvore, um animal. Na formação da noção de objeto há duas funções: uma de desassociação, pois o separamos, fragmentamos o ambiente; e outra de associação, pois concentramos, juntamos para formá-lo.
c) Esses objetos são grupos de sensações estáveis e os consideramos como existentes fora de nós, embora os conheçamos apenas através de nossas sensações e só saibamos deles o que a nossa consciência nos revela. Surgem alguns problemas da psicologia tais como: 1) por que acreditamos na existência do mundo exterior e não afirmamos antes, como já o fizeram muitos, que é apenas uma ilusão dos sentidos ou alucinação?; 2) como se formou em nós a crença na existência do mundo exterior? Quais os meios que dispomos para chegar a uma conclusão neste ponto, e poderemos afirmar alguma coisa como verdadeira por entre o que poderia ser alucinação? (1)
(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.