Superstição

Superstição. Do latim superstitio, observação escrupulosa, medo religioso. 1. No sentido genérico, estado de espírito exprimindo o medo de um poder invisível e permitindo atribuir-nos um poder mágico a certas práticas ou circunstâncias. Ex.: dá azar passar por debaixo de uma escada. 

2. Filosófica e teologicamente, culto religioso degenerado ou pervertido baseado numa religião feita de medo e contrária à razão: "A superstição é um culto de religião, falso, mal dirigido, repleto de vãos terrores, contrário à razão e às ideias sadias que podemos ter do ser supremo" (Diderot e d'Alembert). (1)

Superstição. Excesso ou aberrações da religião, ou a forma de religião de que não se compartilha. Foi Cícero quem definiu a superstição no primeiro sentido: "Não só os filósofos mas também os nossos antepassados distinguiram a superstição da religião: aqueles que rezavam o dia inteiro e imolavam vítimas para que os filhos sobrevivessem [lat. superstes, superstitis = sobrevivente] foram chamados de supersticiosos, e depois essa palavra ganhou significado mais extenso" (De nat. deor., II, 28, 71-72). Essa definição foi repetida substancialmente por Tomás de Aquino: A superstição é o vício que, por excesso, se opõe à religião, pois se presta culto divino a quem não se deve ou na forma indevida" (S. Th., II, 2, q. 93, a. 1). No segundo sentido, foi definida por Hobbes: "O temor diante dos poderes invisíveis, se estes forem imaginados pelo espírito ou sugeridos por narrativas publicamente admitidas, é religião; se sugeridos por narrativas não admitidas publicamente, é superstição" (Leviath., 1, 6). 

Obviamente, superstição é um termo polêmico: para o estudo objetivo (antropológico ou sociológico) das crenças, não existem superstições, e sempre que se fala em superstição, está-se tomando como referência determinado sistema religioso, que é considerado o único verdadeiro. Assim, cada religião parece superstição aos seguidores de uma religião diferente, e a única descrição exata do termo é a que se encontra em Hobbes. (2)

(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi; revisão da tradução e tradução dos novos textos  Ivone Castilho Benedetti. 6ª ed., São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.