Duração

Duração (durée). Durar é continuar a ser. Assim, em Espinosa: "A duração é uma continuação indefinida da existência", escreve ele na Ética (II, def. 5). Assim em Bérgson: "O universo dura", e não haveria tempo se assim não fosse; "a duração imanente ao todo do universo" deve existir primeiro, como nós nela, para que possamos, recortando-a abstratamente, falar de tempo (A evolução criadora, I).  

Note-se que toda duração efetiva é presente (pois que o passado já não é, pois que o futuro ainda não é) e, portanto, indivisível (como dividir o presente?). A duração se distingue, nisso:

— do tempo abstrato, que seria a soma, indefinidamente divisível, de um passado e de um futuro;

do tempo vivido ou da temporalidade, que supõem a memória e a antecipação;

enfim, do instante, que seria um presente descontínuo e sem duração. 

A duração é o próprio presente, na media em que continua. Ela é a perpétua apresentação da natureza. É portanto o tempo real: o tempo do ser em via de ser, o tempo do ente - o que chamo de ser-tempo. (1) 

Duração. Do latim medieval duratio. 1. Em seu sentido genérico, parte finita do tempo: duração de um raciocínio. Em filosofia, distinguimos o tempo e a duração. O tempo é a medida da duração, diz Descartes. Por sua vez, Leibniz opõe o tempo à duração como o espaço à extensão, a duração sendo a ordem de sucesso entre as percepções reais. 2. Bérgson opõe a duração (durée) ao tempo. Para ele, o tempo é a ideia matemática que fazemos da duração para raciocinar. A duração só pode ser apreendida por intuição, ao passo que tempo é apreendido pela inteligência que divide e quantifica; válida para aquilo que é da ordem  da quantidade, a inteligência fracassa em apreender o qualificativo (a duração): o tempo matematizado de nossos relógios não passa de uma falsa representação (espacial) da duração real e concreta, que escapa à quantificação. Portanto, a duração é uma realidade  concreta, a trama mesma do devir da consciência, que só pode existir como tal caso se lembre de seu passado, mas inventando a cada instante para adaptar-se ao presente. (2) 

Duração. (de durar, permanecer) - Na filosofia é a permanência da coisa no seu ser. A duração incriada, a que nunca teve um princípio, é a eternidade que é a posse perfeita e interminável totalmente simultânea de seu ser. A eternidade não é concebida como um longo presente, no sentido do presente temporal, mas de uma simultaneidade intensista em si mesma. A duração criada é a dos seres que começam a ser e que não o foram sempre, dos que tem um princípio. Dentre estes distinguem-se os que começam a ser e poderão nunca mais deixar de ser, os quais serão sempre, e a duração de tais seres é a eviternidade (de aevum) e, finalmente, a duração  das coisas que principiam a ser e que tem um término, deixando de ser, as quais são as coisas que sucedem, que acontecem. Esta chama-se tempo (vide). (3)


(1) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2011. 

(2) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.