Nous

Nous. 1. Termo grego que pode ser traduzido por "mente", "espírito" ou "inteligência", e do qual se derivam os termos "noese" e "noema". Em Platão (República, V), designa a parte racional da alma, e em Aristóteles (Tratado da Alma, III, 6; Ética a Nicômaco, VI, 6) refere-se à razão intuitiva, capaz de captar de modo direto os primeiros princípios. Sobretudo no neoplatonismo, esta noção adquire um papel central no desenvolvimento de uma filosofia espiritualista. Em Plotino, o Nous ou Intelecto é a segunda emanação (hipóstase), originária do Uno, que dá origem à Alma do Mundo (Enéades, V)

2. Opõe-se geralmente ao conceito de nous, razão intuitiva, capacidade de acesso direto, imediato ao real, o de dianoia, razão discursiva, que procede por meio de definições e demonstrações. (1)

Noético. Intuitivo, apreendido prediscursivamente, diretamente. Na fenomenologia, o noético é infalível e oposto ao hilético ou material. (2)

Nous - (gr.) = espírito. Vide Alma. Em grego significa razão, pensamento, porém em um sentido primariamente objetivo, universal ou cosmológico, sem a limitação individual e psíquica, que é mais usual. Anaxágoras foi o primeiro que deu ao termo, dentro do seu sistema filosófico, um sentido definido. O Nous é aqui o princípio de ordem, que se impõe aos elementos inertes e ainda que não fosse concebido de maneira imaterial, mas apenas como mais fino e sutil em comparação aos elementos, lhe foi atribuído maior atividade, dando origem ao movimento no mundo, mas também introduzindo nele unidade e sistema. Importância particular assume o Nous, segundo Anaxágoras, na organização do céu estrelado e em todos aqueles fenômenos da natureza que não podiam ser interpretados, na época, por leis mecânicas. Diógenes de Apolônia identificou-o com o ar que, segundo ele, atua também nos corpos orgânicos. Platão atribuiu pela primeira vez uma significação teleológica, fazendo dele o princípio racional de todos os processos da natureza, cujo caráter racional foi bem compreendido para atribuir-lhe rigorosa imaterialidade. Dando finalidade às coisas do mundo, Nous é o Bem soberano, fonte de todos os outros fins parciais. Como tal é também o último princípio de todas as ideias porque estas encarnam finalidades. Além do sentido cosmológico de Anaxágoras, Platão deu-lhe um aspecto também lógico e ético. Ademais, devido a confusão característica dos elementos subjetivos e objetivos no processo cognoscitivo, ele representa, simultaneamente, a forma mais elevada de intuição mental; apreensão imediata e absolutamente certa das coisas racionais. O Nous, por isto, é distinguido do pensamento discursivo que se desenvolve tendo aquele por fundamento. Aristóteles reúne o conceito anaxagórico do primeiro motor com o platônico do supremo fim, e confirma a imaterialidade do Nous, mais do que qualquer outro, pela definição que dá dele como noesis noeseós (o pensamento do pensamento) e identifica-o pela atribuição de transcendência, relativamente ao mundo, praticamente com Deus. O Nous que atua no homem e separável do corpo imortal e manifesta-se de duas maneiras diferentes, como nous poietikôs (Nous ativo) que liga o homem à Divindade pela contemplação (theoria) e o nous pathetikôs que é o Nous passivo que abrange os pensamentos fundados sobre a percepção sensitiva, a memória ou, em geral, mediado por qualquer órgão corpóreo. Após Aristóteles a concepção da imaterialidade do Nous foi parcialmente abandonada até que os neoplatônicos a renovaram. Segundo eles, no absoluto, podem ser distintos dois aspectos: o Nous e o ser. O ser representa o lado ontológico e cosmológico, ao passo que o Nous é a razão universalmente válida, mas capaz de aceitar pluralidade e subjetividade, aproximando-se, destarte, até certo grau, da concepção moderna da razão. (3)


(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.