Apetite (do lat. appetitu-) s. m. 1. FILOS. Impulso veemente que nos leva a satisfazer desejos ou necessidades. 2. Palavra usada na técnica da filosofia escolástica para expressar o desejo implicado em uma tendência. 3. FISIOL. Vontade ou desejo de comer. 4. Concupiscência, sensualidade, lubricidade, luxúria, lascívia. 5. Gosto, predileção. 6. Deleite, recreação dos sentidos. 7. Paixão ou afeto desordenado. (1)
Apetite. (do gr. peto, pedir, solicitar, partir para algo (daí ím-peto). a) O conceito indica a propensão dirigida para algo desejado, algo conveniente, adequado ao apetente. Desejo instintivo, que tem sua origem numa necessidade física.
b) Na escolástica apetites concupiscentes, as inclinações, e apetite irascível, a emoção. O termo grego oréxis significa também apetite e é mais usado na psicologia moderna.
Análise: Ele é elícito quando tende para a apreensão do bem; sensitivo, se a tendência tende a alcançar a apreensão sensitiva; intelectual se tende para a intelectiva; inato se a inclinação é procedente de um princípio interior sem cognição. O ser humano tende para o bem e apetece-lhe a felicidade perfeita, que se chama beatitude (de beare, apetecer). O apetite é uma inclinação (ad-petere) ou tendência para uma coisa conveniente, adequada ao ente. Há um natural, o tender da coisa para o seu próprio bem. O elícito é o apetite propriamente dito, pois é a inclinação que se segue à cognição. O intelecto, em estado de indiferença, pelo conhecimento, tende para o objeto, assumindo uma orientação dinâmica; isto é, a inclinação verte-se para o próprio bem. O apetite é uma natural prolongação e um necessário complemento da faculdade cognoscitiva. Eis porque o elícito é o apetite propriamente dito, porque é tendência para a coisa apreendida enquanto fim. Essa apreensão pode ser perfeita ou imperfeita. Imperfeita se apreende a coisa que é o fim sem apreender a razão abstrata do fim, nem a proporção formal de alguma coisa para o fim, enquanto meio. Perfeita quando não só apreende a coisa que é o fim, mas também a razão abstrata do fim. O apetite elícito que se segue à apreensão imperfeita do fim é o apetite sensitivo; e o elícito, cuja apreensão é perfeita, é o apetite racional, é a vontade.
Há apetite nos animais pois é uma faculdade orgânica. Ele é distinto da força cognoscitiva. Há no homem um apetite intelectual, o qual é essencialmente distinto do intelecto, e que é propriamente a vontade. O apetite intelectual estende-se aos bens que, enquanto tais, são conhecidos pelo intelecto. Se o intelecto os capta como bens são eles apetecidos pela vontade. Como o intelecto humano é ilimitado, e tem a possibilidade de conhecer tudo quanto é inteligível, é ele uma potência universalíssima, pois todo ser é inteligível. O apetite intelectual não só se dirige aos bens materiais mas também aos imateriais, como Deus, virtude, ciência, etc. O sensitivo só se dirige para os bens materiais e não pode dirigir-se para os bens imateriais. O apetite elícito intelectual perfecciona, portanto, o apetite sensitivo. Há uma distinção entre o intelectual e o intelecto, distinção que se funda na própria essência de ambos. O objeto formal do apetite intelectual é a razão de bem, que é o ser o ser apetecível, enquanto o objeto formal do intelecto é o ser cognoscível. Essas são as razões que distinguem essencialmente a ambos.
A vontade é, portanto, o apetite intelectual, Ora, um ser só aspira ao que é adequado à sua natureza. Se o ser humano aspira a bens imateriais, sua natureza não pode ser apenas material. O apetite sensitivo, que é apenas material, aspira a bens materiais; mas o intelectual, por aspirar a bens não materiais, não pode ser apenas material. (2)
Apetite. O desejo — exprime a ideia de um movimento mais violento e apaixonado (como se vê em cupidus gloriae e em cupiditas praedae). Em todo o caso, apetite tem um aspecto, por assim dizer, mais "técnico" e ao mesmo tempo, mais geral, de sorte, que enquanto o desejo pode ser descrito como uma forma de apetite, este não pode ser descrito, em contrapartida, como uma forma de desejo. (3)
(1) Enciclopédia Barsa Universal
(2) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.
(3) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.