Apetite

Apetite. (do gr. peto, pedir, solicitar, partir para algo (daí ím-peto). a) O conceito indica a propensão dirigida para algo desejado, algo conveniente, adequado ao apetente. Desejo instintivo, que tem sua origem numa necessidade física.

b) Na escolástica apetites concupiscentes, as inclinações, e apetite irascível, a emoção. O termo grego oréxis significa também apetite e é mais usado na psicologia moderna.

Análise: Ele é elícito quando tende para a apreensão do bem; sensitivo, se a tendência tende a alcançar a apreensão sensitiva; intelectual se tende para a intelectiva; inato se a inclinação é procedente de um princípio interior sem cognição. O ser humano tende para o bem e apetece-lhe a felicidade perfeita, que se chama beatitude (de beare, apetecer). O apetite é uma inclinação (ad-petere) ou tendência para uma coisa conveniente, adequada ao ente. Há um natural, o tender da coisa para o seu próprio bem. O elícito é o apetite propriamente dito, pois é a inclinação que se segue à cognição. O intelecto, em estado de indiferença, pelo conhecimento, tende para o objeto, assumindo uma orientação dinâmica; isto é, a inclinação verte-se para o próprio bem. O apetite é uma natural prolongação e um necessário complemento da faculdade cognoscitiva. Eis porque o elícito é o apetite propriamente dito, porque é tendência para a coisa apreendida enquanto fim. Essa apreensão pode ser perfeita ou imperfeita. Imperfeita se apreende a coisa que é o fim sem apreender a razão abstrata do fim, nem a proporção formal de alguma coisa para o fim, enquanto meio. Perfeita quando não só apreende a coisa que é o fim, mas também a razão abstrata do fim. O apetite elícito que se segue à apreensão imperfeita do fim é o apetite sensitivo; e o elícito, cuja apreensão é perfeita, é o apetite racional, é a vontade.

Há apetite nos animais pois é uma faculdade orgânica. Ele é distinto da força cognoscitiva. Há no homem um apetite intelectual, o qual é essencialmente distinto do intelecto, e que é propriamente a vontade. O apetite intelectual estende-se aos bens que, enquanto tais, são conhecidos pelo intelecto. Se o intelecto os capta como bens são eles apetecidos pela vontade. Como o intelecto humano é ilimitado, e tem a possibilidade de conhecer tudo quanto é inteligível, é ele uma potência universalíssima, pois todo ser é inteligível. O apetite intelectual não só se dirige aos bens materiais mas também aos imateriais, como Deus, virtude, ciência, etc. O sensitivo só se dirige para os bens materiais e não pode dirigir-se para os bens imateriais. O apetite elícito intelectual perfecciona, portanto, o apetite sensitivo. Há uma distinção entre o intelectual e o intelecto, distinção que se funda na própria essência de ambos. O objeto formal do apetite intelectual é a razão de bem, que é o ser o ser apetecível, enquanto o objeto formal do intelecto é o ser cognoscível. Essas são as razões que distinguem essencialmente a ambos.

A vontade é, portanto, o apetite intelectual, Ora, um ser só aspira ao que é adequado à sua natureza. Se o ser humano aspira a bens imateriais, sua natureza não pode ser apenas material. O apetite sensitivo, que é apenas material, aspira a bens materiais; mas o intelectual, por aspirar a bens não materiais, não pode ser apenas material. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.