Mundo

Mundo. A noção filosófica articula-se em torno de dois sentidos fundamentais. Por um lado, designa o conjunto das realidades materiais que constitui o cosmos ou o universo e, num sentido mais restrito, o sistema planetário terrestre (daí a expressão: pluralidade dos mundos). Por outro lado, aplicada ao homem, a noção remete aos fenômenos da consciência como na expressão o mundo interior, por oposição ao mundo exterior dos objetos perceptíveis pelos sentidos. (1) 

Mundo. Do latim mundus. 1. Na concepção clássica, o mundo é o sistema harmônico composto pela Terra e os astros, podendo esta noção ser generalizada para outros sistemas análogos que se suponham existentes. Em uma acepção geográfica, mais restrita, o mundo é a Terra, incluindo suas diferentes partes, o “velho mundo”, o “novo mundo”; ou também pode caracterizar um período histórico, o “mundo antigo”. Em sentido mais amplo, o mundo é tudo aquilo que existe, o próprio universo; ou ainda a Criação, o mundo como criado por Deus. Por extensão, o termo pode ser aplicado a um domínio específico do real. Ex.: o mundo físico, o mundo humano etc. Ver cosmo

2. Mundo sensível. Realidade material, constituída pelos objetos da percepção sensorial; mundo da experiência. Especialmente em Platão, o mundo sensível opõe-se ao mundo inteligível, do qual é copia. Ver dualismo.

3. Mundo inteligível. Mundo das ideias ou formas, em Platão entendido como tendo uma realidade autônoma, tanto em relação ao mundo sensível, do qual constitui o modelo perfeito, quanto ao pensamento humano, que no entanto o atinge pela dialética.

4. Mundo interior. No pensamento moderno, principalmente no racionalismo cartesiano, a consciência, a subjetividade, o pensamento, a mente, com suas ideias e representações, aquilo que pertence ao sujeito pensante, em oposição ao mundo exterior.

5. Mundo exterior, ou externo. A realidade material, objeto da percepção sensorial, considerada em oposição ao mundo interior.

6. Tanto em Platão quanto em Descartes, a doutrina da existência do mundo sensível, ou do mundo interior em oposição ao mundo exterior, consiste em uma concepção dualista, que supõe a realidade como constituída por duas naturezas distintas radicalmente, opostas e irredutíveis. A principal dessas doutrinas será explicar a relação entre essas duas naturezas. (2)

Mundo. Bibl. Na linguagem bíblica, emprega-se a palavra mundo para designar a Terra ou em sentido mais geral, o conjunto da criação. 

Filos. Pela palavra Mundo entende-se o conjunto, a totalidade das coisas existentes, ou seja, tudo o que é ou pode ser revelado à nossa experiência; e por isso mesmo ocorre que com o aumento dos nossos conhecimentos a palavra Mundo, do significado restrito que tinha nos remotos tempos indicativo do conjunto de todas as coisas visíveis com referência particular à Terra, assumiu uma acepção cada vez mais vasta de maneira a compreender também todos os objetos celeste cuja existência é revelada por qualquer modo. (3)

Mundo. O termo mundo designa: a) o conjunto de todas as coisas; b) o conjunto de todas as coisas criadas; c) o conjunto das entidades de uma classe ("o mundo das ideias", "o mundo das coisas físicas"); d) uma zona geográfica ("o Velho Mundo", o "Novo Mundo"); e) uma zona geográfica num dado período histórico ("o mundo antigo"); f) um horizonte ou quadro no qual estão certos conhecimentos, coisas, acontecimentos etc. ("o mundo da física", "o mundo dos sonhos"). (4)

Mundo. Genericamente, equivale ao conjunto das realidades visíveis e materiais que constituem o objeto da cosmologia e das ciências de observação. Em sentido mais restrito e dentro da tradição cristã, toma-se, as mais das vezes, pelo conjunto dos seres finitos, criados pelo Ser Infinito ou Deus. Filosoficamente, designa o conjunto dos seres existentes considerados na sua unidade e totalidade. Mas a evolução semântica enriqueceu-o de tal modo que se tornou extensivo praticamente a todos os domínios da realidade em que se repartem os homens e os quadros da sua existência, tanto física como cultural e espiritual. 

Etimologicamente, significa ______, seu equivalente grego, a ideia de ordem que preside a um conjunto de elementos ou de seres, fazendo deles uma bela e harmoniosa unidade. De fato, o vocábulo latino mundus evocava, na origem, a maravilhosa harmonia dos astros, a modelação imposta ao caos pela graciosa agilidade de um demiurgo ou a bela disposição de um mundo sensível a refletir realidades divinas. Nele palpitava tudo quanto de mais unitariamente belo e harmonioso pensou e exprimiu a filosofia grega através da palavra ___. Mundo ou ___ é, antes de mais, a ideia de ordem que faz com que os elementos singulares constituam objetivamente um todo ordenado e belo, um sistema ou ordem universal. Só num segundo momento adquiriu valor objetivo e concreto de um todo organizado e regido por esta ordem, seja de mundo ou universo em sentido espácio-temporal. 

Como universitas rerum, ou conjunto de todas as coisas, a ideia de mundo é já presente na filosofia pré-socrática, designadamente em Anaximandro, numa perfeita simetria entre o macro e o microcosmo. (5)

Mundo Externo. O mundo fora da mente ou da pele de um sujeito (ou de um cognoscente). Há um único universo, mas há tantos mundos externos quantos são os sujeitos. A justaposição ou a soma física destes mundos centrados no sujeito é igual ao (único) mundo, ou realidade. A tese da existência autônoma (independente do sujeito) do mundo externo é muito mais importante do que qualquer hipótese bem confirmada: é um pressuposto para toda a cognição e toda a ação. (6)

Mundo Possível. Alternativa imaginária do mundo real. Por exemplo, em um mundo diferente do nosso, os humanos seriam escravos das máquinas; em outro, as pessoas pensavam com seus pés; em um terceiro, não haveria gente em absoluto — portanto, não haveria problemas filosóficos. Esses mundos imaginários só têm sentido em cosmovisões religiosas, onde a divindade (ou divindades) não constrangidas pelas leis da natureza, pode alimentar e avaliar planos alternativos na véspera da criação e recriação. A metafísica e a semântica de mundos possíveis são meros jogos acadêmicos. (6)

(1) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(2) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. 

(3) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

(4) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.

(5) LOGOS – ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA. Rio de Janeiro: Verbo, 1990.

(6) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)