Angústia

Angústia. Do latim angustia 1. Estreiteza, espaço reduzido. 2. Carência, falta. 3. FILOS. Sentimento que paralisa a vida psíquica racional e consciente, diferente do temor e do medo a algo real e concreto, procedente de uma sensação difusa de insegurança. 4. PSICOL. Afeto desagradável de intensidade variável acompanhado de manifestações somáticas de índole diversificada. Produz-se como reação a estímulos externos ou internos, perante os quais o sujeito se sente indefeso e sem recursos. 5. Estenose. 6. Aflição, sofrimento. PSICOL. Distingue da ansiedade pela presença conspícua de sintomas somáticos. Estes implicam constrição esofágica, taquicardia, tremores, pré-cordialgias, dispnéia ou hipersudoração, e podem levar até a sensação de destruição iminente ou, nas crises agudas mais graves, a uma dissipação da consciência. A angústia encontra-se presente em inúmeros quadros clínicos. Em psicanálise distinguem-se duas formas de angústia: a angústia face a um perigo real (angústia real) e a angústia perante uma pulsão interna vivida como ameaçadora (angústia pulsional). (1)

Angústia. É o medo sem objeto: sua fonte é imaginária, desconhecida, inconsciente, vem de dentro de nós. Do ponto de vista psíquico, caracterizam a angústia a desagradável sensação de tensa expectativa e o estreitamento da consciência: a palavra latina angústia significa estreiteza. Isso quer dizer: a consciência é absorvida pelos temas e fenômenos ansiosos, tornando-se cada vez menos capaz de perceber, elaborar ou atuar fora do que não esteja direta e imediatamente relacionado com esses temas e fenômenos. Nas reações mais violentas o pânico , a consciência turva-se e desintegra-se, as manifestações psicomotoras tornam-se desordenadas ou automáticas (v. automatismo) (2)

Angústia. Na filosofia existencialista, a palavra "angústia" tomou sentido de "inquietação metafísica" em meio aos tormentos pessoais do homem. Seu uso parece ter surgido com Kierkegaard, que em 1844 escreveu um trabalho sobre a Ideia de Angústia. Pela angústia o ser humano toma consciência, ao mesmo tempo, do nada de onde ele veio e do porvir no qual se engaja. A ambiguidade fundamental da existência humana, entre o ser e o nada, apresenta-se então juntamente com a irracionalidade de sua situação metafísica e o absurdo da vida. Para os existencialistas, a angústia não é lamentável nem condenável, porém simbólica, bastando-se por vezes a si mesma, o que explica o aspecto pessimista de muitas dessas correntes filosóficas, bem como a sua reputação de filosofias puramente negativas e niilistas. O sentimento original do homem, para as filosofias existencialistas, é o de falta, em Kiekergaard; o de insegurança, em Heidegger; o do absurdo, em Camus; o da liberdade em Sartre. (3)

Angústia ética. Um sentimento de desespero originado pela necessidade de tomar decisões éticas ou morais. A angústia ética é um atributo necessário à formação do caráter moral na sociedade ética. Sören Kierkegaard afirmava que a angústia era uma das marcas da verdadeira liberdade de escolha. (4)

Angústia existencial:  "Temos de fazer escolha, mas não temos certeza de seus resultados. A única certeza é a vida de culpa e de ansiedade". (Heidegger)

Angústia. Do latim angor, passagem estreita e difícil e, por extensão: "situação crítica". Fenômeno afetivo constituído de uma viva inquietação e de temor sem objeto determinado ao contrário do medo, que se refere sempre a um objeto mais ou menos preciso e acompanhado de modificações neurovegetativas, como sensações de opressão ou sufocamento, transpiração, problemas digestivos. Essas perturbações fisiológicas não existem, em compensação, na ansiedade sentimento menos forte que a angústia , onde o pensamento intervém mais. A psicanálise observa na angústia uma ambivalência feita ao mesmo tempo de desejo e temor. A filosofia existencial, desde Kierkegaard, nela vê um sentimento ontológico capaz de nos revelar não apenas nossa liberdade, mas também a insegurança diante do nada e o caráter absurdo da vida. (5)

Angústia. a) Estado intolerável de opressão e de constrição epigástrica, que se observa em diversas doenças, etc.

b) Profunda aflição moral.

c) Para Kierkegaard a angústia, em sentido filosófico, parte do abismo irreconciliável entre o finito e o infinito, sentido pela existência humana como uma opressão radical, como desamparo ante o nada, pelo qual pode fugir do engano da razão unificadora e identificadora e submergir-se no existir.

d) Heidegger faz da angústia o meio de temperar o ânimo peculiar, mediante a qual se revela o nada e se descobre a existência como um estar, sustentando-se nela. Há nela uma indeterminação absoluta, que a distingue do medo.

e) A angústia forma parte integrante de todas as psiconeuroses, mas em que geralmente é provocada por sintomas neuróticos. É uma reação ante o perigo.

f) Na concepção trágica de Nietzsche, a luta entre o ser e o não-ser, e a afirmação daquele pela vontade de potência, pelo desejo de conservar-se e de superar-se. A concepção nietzscheana muito se assemelha à de Kierkegaard, também existencialista. (6)


(1) Enciclopédia Barsa Universal.

(2) ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.

(3) GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE. Rio de Janeiro: Delta, 1979.

(4) GRENZ, Stanley J. e SMITH, Jay T. Dicionário de Ética: Mais de 300 Termos Definidos de Forma Clara e Concisa. Tradução de Alípio Correia de Franca Neto. São Paulo: Vida, 2005. 

(5) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(6) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.