Belo

Belo. Do latim bellus, bonito. 1. Diz-se de tudo aquilo que, como tal, suscita o prazer desinteressado (uma emoção estética) produzido pela contemplaçao e pela admiração de um objeto ou de um ser. Ex.: um belo castelo, uma mulher bela.

2. Diz-se de tudo aquilo que apresenta um valor moral digno de admiração. Ex.: uma bela ação.

3. Conceito normativo fundamental da estética que se aplica ao juízo de apreciação sobre as coisas ou sobre os seres que provocam a emoção ou o sentimento estético, seja em seu estado natural (uma bela paisagem), seja como produto da arte (pintura, música, arquitetura etc.) (1)

Belo. O que agrada universalmente. O conceito do belo como o de verdadeiro e o de bom são valores fundamentais, que não podem ser reduzidos um ao outro, nem a um terceiro. O belo é concernente ao sentimento, da mesma maneira como o verdadeiro o é ao intelecto, e o bom à vontade. Não é possível dar uma definição material do belo. Quais são os objetos que chamamos belos e quais as qualidades que constituem a beleza como tal, são precisamente o objeto da Estética, e é respondida pelas diferentes teorias de maneira bem diversa. Todas elas se movem entre dois aspectos extremos, em que um considera, em primeiro lugar, o elemento da forma e o caráter de universalidade do belo, e o outro toma o fator emocional e a subjetividade como distintivos essenciais daqueles. É preciso distinguir, também, entre a beleza livre, como a encontramos na natureza, e a beleza artificial. A respeito desta última distinção, que marca as posições do naturalismo e do idealismo estéticos, foi dito em defesa da beleza livre, que só o que é verdadeiro pode ser belo. A tal responderam os idealistas que tudo o que é belo também é verdadeiro (também não encontrado como existente na natureza).

Essa objeção dos naturalistas toma aqui o conceito do verdadeiro no sentido superficial da existência real, e tira proveito da ambiguidade desse termo. Mas o belo e o verdadeiro (em sentido metafísico), e ainda o bem foram considerados como intimamente ligados, e isto principalmente devido à simbiose prática daqueles valores na vida dos gregos, resultando daí teorias que formularam uma definição do belo como sendo o brilho da verdade. Aristóteles alega como características principais do belo: a ordem, a simetria e limitação definida, e tenta colocá-lo perto da matemática. Mais feliz, comparativamente, parece a classificação dada por Platão, que distingue um tipo energético (osys), e um tipo calmo e bem organizado (khosmos), a expressão masculina e feminina respectivamente. Cícero distingue, no mesmo sentido, a dignitas e a venustas, como as duas classes da pulchritudo (beleza).

Estabelecer o belo como um valor próprio e independente foi dado por Plotino, que marca a diferença entre o bem e o belo pela observação de que aquele provoca o desejo de possuí-lo e de tornar real essa posse, ao passo que o belo não pertence, nem pode pertencer a ninguém, senão a si mesmo, o qual provoca a satisfação subjetiva pela sua mera aparência. Ele também tem que ser distinguido do agradável que, por sua parte, também pode provocar uma satisfação subjetiva, mas por razões acidentais e não é considerado como uma qualidade objetiva inerente a um objeto, como o belo. Se este é uma qualidade objetiva, também tem que ser universalmente reconhecida como tal, quer dizer: o que chamamos belo, é belo para todos. Kant define-o como o objeto de uma satisfação desinteressada e universalmente possuída.

Para os escolásticos o belo tem razão de causa formal, enquanto o bom tem razão de causa final. O belo é aquilo cuja apreensão agrada e pertence mais aos sentidos, que nele se deleitam, já que deve conter três coisas: integridade, proporção de vida e clareza. O que provoca primitivamente essa satisfação estética é a "finalidade sem fim" que Kant dá como o último caráter do belo: "a forma de finalidade de um objeto, enquanto é ela percebida sem representação do fim".

Enquanto Kant examinou o juízo estético em si, outros trataram de investigar a fundamentação psicológica ou fisiológica do sentimento estético em geral. O associacionismo, no fundo, afirma uma conexão unificadora de uma variedade de experiências (Vide Associação, letra c).  Schopenhauer define a beleza como uma "objetivação da vontade, considerada não como um elementos particular, mas como representando uma ideia"; Hegel diz ser "o ideal como se mostra à sensibilidade". Em oposição ao idealismo (filosófico), Herbart salienta que não é o conteúdo, mas a maneira "como" é o objeto da estética. Santayana distingue a beleza do material, a beleza da forma e a beleza da expressão, Interpretações biológicas do belo encontramos em Spencer e Allen; é o que proporciona um máximo de estimulação com um mínimo de cansaço e desgosto. A cor é bonita porque os nossos frugívoros ancestrais viveram de frutas brilhantes, e assim aprenderam a ser atraídos pelas cores. Darwin trata do sentimento do belo em conexão com a seleção sexual. Longe destas explicações naturalistas há outras, como a de Hartmann, que pergunta qual é, finalmente, o objeto ao qual atribuímos o belo. E responde que não é nem o objeto no sentido ordinário, nem o sentimento subjetivo, mas algo que fica no meio, entre estes dois, o que chama a aparência estética (der ästhetische Schein). Lange desenvolve essa teoria e forma o conceito da "consciente auto-ilusão". A teoria da forma significativa de Clive Bell vê, igualmente, o objeto da experiência estética em algo que difere das coisas naturais com as suas finalidades de vida em formas que tem os seus fins em si mesmos, longe de toda utilidade prática. O culto do belo, portanto, de um ponto de vista estritamente evolucionista, é um extravio. Falando biologicamente disse Roger Fry: "a arte é blasfêmia. Deus nos deu os olhos para ver as coisas, não para contemplá-las". (2)


(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.