Dúvida
Dúvida. É um estado de indeterminação da inteligência. Consiste na suspensão do julgamento, dada a ausência de razões para a afirmação ou negação, ou em virtude de um equilíbrio de razões. (1)
Dúvida. Estado da mente ou processo mental que consiste no fato de uma pessoa ser incapaz ou não ter vontade de asseverar ou negar uma proposição (ou um conjunto de proposições) por ignorar se ela é verdadeira ou falsa. A dúvida é a marca registrada do ceticismo. Todavia, enquanto os céticos radicais duvidam de tudo, os moderados duvidam apenas diante da evidência incompleta ou contraditória. É típico o fato de que cientistas e tecnólogos, quando em trabalho, sejam céticos moderados. Mas até eles são por vezes ingênuos ao se extraviarem em outros campos. (2)
Dúvida (doute). O contrário de certeza. Duvidar é pensar, mas sem tem certeza da verdade do que se pensa. Os céticos fazem dela o estado último do pensamento. Os dogmáticos, quase sempre, uma passagem obrigatória. Assim, em Descartes: sua dúvida metódica e hiperbólica (isto é, exagerada: tem por falso tudo o que sabe ser duvidoso) é apenas um momento provisório na busca da certeza. Descartes sai dele por meio do cogito, que não é duvidoso, e de Deus, que não é enganoso. Mas seu Deus é duvidoso, não obstante o que ele diga, e nada exclui que o cogito seja enganoso. Assim, a dúvida renasce sempre. Dela só se sai pelo sono ou pela ação. (3)
Dúvida. É um estado de incerteza que, se opondo ao assentimento, se traduz por uma recusa de afirmar ou negar. Explica-se em princípio pela ausência de conhecimentos adequados.
A dúvida científica, inseparável da busca da verdade, é atitude do cientista que apresenta suas hipóteses à prova submetendo-as ao controle experimental.
A dúvida cética, atribuída a certos filósofos gregos (Pirro) pretende-se definitiva e radical e conclui a impossibilidade de se alcançar a menor verdade.
Em patologia, finalmente, a loucura da dúvida, de natureza obsessiva, manifesta-se por um sentimento penoso de incerteza com relação aos fatos e gestos da vida cotidiana e por fim pela incapacidade de se tomar uma decisão.
Inspirando-se em uma atitude que remonta a Platão, Descartes instaura a reflexão filosófica fundamentando-a numa dúvida primordial, a dúvida metódica, procedimento que consiste em duvidar de tudo o que se admitiu anteriormente com o intuito de estabelecer a verdade em bases inabaláveis graças ao critério da evidência. Essa dúvida metafísica, radical - embora provisória - é uma dúvida hiperbólica e que, em virtude de sua etimologia grega, parece ultrapassar a medida; a higiene do pensamento, portanto, exige que seja conscientemente considerado falso o que é apenas duvidoso e que seja rejeitado como sempre enganador aquilo pelo qual se foi enganado às vezes. (4)
(1) EDIPE - ENCICLOPÉDIA DIDÁTICA DE INFORMAÇÃO E PESQUISA EDUCACIONAL. 3. ed. São Paulo: Iracema, 1987.
(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)
(3) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2011.
(4) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.