Hipótese, Hipótese Ad Hoc

Hipótese. Do grego hypothesis, de hypothenai, supor. Proposição mais ou menos precisa que emitimo tendo em vista deduzir, eventualmente, outras proposições. Em outras palavras, proposição ou conjunto de proposições que constituem o ponto de partida de uma demonstração, ou então, uma explicação provisória de um fenômeno, devendo ser provada pela experimentação. Enquanto os empiristas veem no ciclo experimental uma sequência mecânica de operações, a epistemologia contemporânea estabelece que a hipótese não é concluída a partir da observação, mas inventada. A Rejeição da hipótese, para se ater unicamente aos fenômenos observáveis, foi proclamada por Newton em sua polêmica contra Descartes: "hypothesis non fingo", dizia, "não elaboro hipóteses" imaginárias. Hoje em dia, tanto em seu sentido matemático de uma proposição que adotamos a fim de estudar as consequências lógicas que dela devemos tirar quanto em seu sentido de suposição explicativa (nas ciências experimentais), sua verificação permitindo-nos passar da simples percepção de um fenômeno à sua explicação, a hipótese se revela necessária ao trabalho científico e à reflexão filosófica. (1)

Hipótese Ad Hoc. É uma hipótese excogitada quer para “cobrir” um estreito conjunto de dados quer para salvar outra hipótese de uma evidência adversa. Hipóteses ad hoc do primeiro tipo têm um poder explanatório ou profético muito restrito, pois estão ligados a um corpo fixado e pequeno de dados. A distinção entre hipóteses ad hoc e comuns é paralela àquela entre duas espécies de atiradores. O atirador honesto afixa um alvo e depois atira. O desonesto atira primeiro e depois desenha círculos concêntricos em torno do orifício causado pelo projétil. Hipótese ad hoc da segunda espécie, isto é, aquelas que têm em mira proteger outras hipóteses, são, por sua vez, de dois tipos: bona fide e mala fide. Uma hipótese ad hoc de bona fide é testável de forma independente, a de mala fide, por sua vez, não o é. Um exemplo clássico de uma hipótese ad hoc de bona fide é a conjetura de William Harvey sobre a existência de um sistema circulatório vascular visível a olho nu, ligando as artérias às veias. Os pequenos vasos foram finalmente vistos através do microscópio. Um exemplo clássico de uma hipótese ad hoc de mala fide é a hipótese de Sigmund Freud sobre a repressão destinada a proteger o complexo de Édipo e outras fantasias. Por exemplo, se alguém não odeia ostensivamente seu pai, ele unicamente reprimiu o seu ódio. E, se este sonho particular não teve um conteúdo declaradamente sexual, ele deve ter um conteúdo encoberto (“latente”). (2)

Hipótese.  Adotada com a única finalidade de salvar uma teoria de dificuldades ou da refutação, sem que haja qualquer motivo racional independente dessa finalidade. (3)

Hipótese. (do gr. hypo, sob debaixo e thesis, posição, afirmação; etimologicamente, suposição). É uma proposição não devidamente provada mas aceita, por dar uma explicação a uma sequência de fatos, num determinado campo do saber humano (hipóteses científicas, históricas, etc.). A hipótese funda-se numa possibilidade e não deve incluir em si contradição. Por essa razão, para ser perfeita como tal, deve cumprir quatro requisitos necessários. 1) ser possível, portanto não pode contradizer as leis metafísicas, nem os fatos físicos conhecidos; 2) que nenhum fato, dado pela nossa experiência, possa repugná-la; 3) que explique os fatos de modo cômodo; 4) que seja simples.

É no campo da hipótese   que se pode encontrar uma das distinções entre a ciência, como se compreende hoje, e a filosofia. A ciência não pode, de modo algum, ultrapassar o campo da hipótese, pois trabalhando apenas com o contingente seus resultados serão contingentes. A filosofia como penetra no campo da necessidade pode dispensá-las, e deve fazê-lo, pois as leis científicas são leis provisórias, fundadas no experimental, enquanto as leis metafísicas, como as da ontologia, são leis necessárias e indefectíveis quando rigorosamente construídas. Os que julgam que tal não se dá, revelam apenas desconhecer o mais sério dos estudos filosóficos, e são precisamente os que permanecem no campo das asserções, e que não alcançam a apoditicidade que aquela exige. Só a filosofia, em sentido genuinamente especulativo, onde predominar a apoditicidade, onde se tender aos juízos necessários, universalmente válidos. (4)


(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.  

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(3) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.