Niilismo

Niilismo. Palavra cunhada do latim nihil, que significa "nada". É para Nietzsche um mecanismo de negação deste mundo e desta vida em nome de algo que está além dela, em nome de "nada": nesse sentido, temos o niilismo passivo. Para ilustrar, tome-se esta passagem de O Anticristo, § 7: "Mas não se diz 'nada': diz-se 'além'; ou 'Deus'; ou 'a verdadeira vida'; ou nirvana, salvação, bem-aventurança..." (Nietzsche, O Anticristo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia da Letras, 2007, p. 14). Para Nietzsche o cristianismo seria um exemplo de postura niilista, na medida em que atribui um valor maior a algo (o paraíso, a vida eterna) que não é esta vida e, nesta medida, estaria negando-a. (1)

No espírito do vulgo a palavra niilismo andou associada às ideias de assassínio e de revolução, já que os niilistas procuravam derrubar as instituições imperiais por meio da força. 

Niilismo - atitude crítica para com as convenções sociais e as tradições. (Nesse sentido, qualificado por Nietzsche como destruidor de todos dos valores.)

Encicl. Nome dado na Rússia, por volta de 1860 a 1870, ao movimento de escritores e pensadores revolucionários ou pré-revolucionários denunciados por tentarem a destruição de tudo para começar de novo, do nihil (nada). (2)

Nihil difficile amanti - nada é difícil a quem ama. 

Nihil diu occultum - nada (se conserva) oculto por muito tempo

Nihil dulcius quam omnia scire - não há coisa mais agradável que saber tudo

Nihil est aliud falsitas nisi veritatis imitatio - a falsidade não é mais que a imitação da verdade

Nihil medium est - não há meio; isto é, não há meio termo.

Nihil obstat - nada obsta. Velha fórmula, especialmente usada pela autoridade eclesiástica, para indicar o consentimento dado a alguma coisa, publicação etc. Precede o imprimatur, "imprima-se".

Niilismo (Do latim nihil, nada). Doutrina segundo a qual o absoluto não existe, como já afirmaram na Antiguidade o sofista Górgias e, de maneira geral, os céticos gregos. No século XIX, o niilismo constitui a princípio uma corrente de pensamento - professada principalmente por intelectuais russos por volta de 1860-1870 (Dobroliubov, Tchernychewski, Pisarev) - caracterizada pelo pessimismo metafísico do prolongamento do positivismo de Comte, e, pelo ceticismo com relação aos valores tradicionais (morais, teológicos, estéticos), o todo acompanhado pelo projeto de se construir a sociedade sobre bases científicas. Próximo da fórmula de Dostoiévski: "Se Deus não existe, tudo é permitido" e tirando as consequências disso, o niilismo confunde-se mais tarde com o individualismo anarquista que visa a destruição do Estado. 

Em Nietzsche, o niilismo designa em primeiro lugar a ausência de fins determináveis - "faltam fins" - que permitiriam a priori dar um sentido à vida humana: "o futuro não tem objetivo", ainda mais porque "Deus está morto". Corresponde ademais à "decadência" e à "regressão da força espiritual" que o autor acredita observar no Ocidente. A esse niilismo passivo, Nietzsche opõe um niilismo ativo que, por destruição e transmutação dos valores tradicionais essencialmente cristãos, criará um mundo novo em que o "poder aumentado do espírito" irá se afirmar. 

Em Heidegger, o niilismo corresponde à última etapa do esquecimento do ser (o século XX): a partir do momento em que não existe mais nada do ser e da verdade, o homem se obnubila no ente e destrói a natureza. (3)

Niilismo. 1. Redução a nada. 2. Descrença absoluta. 3. FILOS. Termo que designa geralmente qualquer atitude de negação de um ou mais aspectos da realidade. 4. HIST. Doutrina de certos revolucionários russos na segunda parte do século XIX, para lutar contra o absolutismo tsarista. 

Filos. Inicialmente, o termo foi utilizado pelos românticos alemães para se referirem às doutrinas que propugnam a ausência de convenções verdadeiras. No sentido negativo, foi utilizado, de forma polêmica por Hamilton contra Hume, que negava a realidade substancial. Em Nietzsche adquiriu um significado positivo ao indicar a intervenção ativa para destruir os velhos valores e as crenças tradicionais, qualidade dos espíritos fortes. (4)

Niilismo. O niilismo não é uma doutrina filosófica, mas o movimento histórico próprio da cultura ocidental, que produziu o que nela existe de mais significativo. Nietzsche chama de niilismo a atitude de negação da vida. 

O niilismo passou por vários momentos, e dois dos mais significativos são o platonismo e o cristianismo. Platão é quem instaura o que Nietzsche qualifica como o grande erro, com sua invenção do mundo das ideias, um mundo transcendente ordenado; um mundo onde tudo é o que é e nada "vem a ser", e que, por isso mesmo, é perfeito. São bem patente a negação e o desprezo do mundo sensível, o nosso mundo. 

O cristianismo faz do platonismo a filosofia triunfante ao adotá-lo e espalhá-lo pelo Ocidente. As ideias platônicas são para o cristianismo os pensamentos de Deus, a partir dos quais criou um mundo. Na diferença entre o criador, Onipotente e perfeito, e a criatura, limitada e imperfeita, manifesta-se o mesmo desprezo pela vida. 

O niilismo se torna mais evidente e atinge seu ponto de inflexão com esse acontecimento definitivo na história do Ocidente que é a morte de Deus. Com o passar do tempo, os homens deixaram de acreditar em Deus, o espírito científico e positivista acabou por se impor, mas nem por isso o esquema fundamental mudou: o desprezo e a negação da vida. 

Nietzsche percebe na Europa de seu tempo, a segunda metade do século XIX, a decadência do homem moderno. Este cansado e doentio, substituiu a antiga segurança que a filosofia e a religião lhe proporcionavam por uma nova forma de racionalidade: a derivada do conhecimento técnico-científico por meio da qual continua se protegendo da vida. A técnica veio assim substituir a velha metafisica. 

A morte de Deus estabelece para o ser humano a perda de todo ponto de referência: a vida deixa de ter sentido e nada mais tem valor. "Se Deus está morto, tudo é permitido" (Dostoiévski). Antes, o valor de tudo estava localizado no transmundo; a partir da morte de Deus, esse valor desapareceu definitivamente. 

Esse momento de máximo desespero, no entanto, pode se converter no momento em que tudo comece a mudar: é preciso passar pela negação absoluta para poder começar a criar algo novo, a arrancada de uma nova antropologia, de uma nova moral, de uma nova concepção da realidade e da verdade. (5, p. 153 e 154)

Niilismo.  a) É a doutrina que admite que o nada, além de ser ou de haver, é capaz de ser pensado. O argumento de Górgias que o defendia era: "Se posso pensar em alguma coisa, é porque existe; ora, posso pensar no nada; logo, o nada existe". Este silogismo é uma verdadeira falácia, porque não se prova que tudo sobre que podemos pensar existe, porque o pensamento só pode, de per si, afirmar a existência em quem pensa, não uma existência fora do pensamento. Ademais, pensar na ausência de todas as coisas, que é o modo de pensar sobre o nada, que em si é impensável, não é ainda colocar o nada, nem realizá-lo.

b) Chama-se de niilismo toda posição filosófica, doutrinária, ética, etc., que preconize uma valorização e até uma supervalorização desse conceito negativo de nada,  e ainda empreenda sua atividade doutrinária ou social no que é destrutivo, no que aniquila o que há, ou que pretende, em suma, destruir todos os valores para afirmar os desvalores. Vide Valor.

Nietzsche foi o grande crítico do niilismo e o classificou em ativo e passivo, em positivo e negativo, o que permite inúmeras combinações. É ativo o niilismo que empreende uma ação destrutiva. É positivo quando pretende destruir algo para ser substituído por algo julgado melhor, como os revolucionários construtivistas. É negativo quando consiste na não oposição ao destrutivo. É passivo, o que aceita a destruição sem contribuir diretamente para ela, sem opor obstáculos, por cumplicidade passiva. E essa cumplicidade será positiva ou negativa, na proporção em que colabore com a destruição para construir, ou com a destruição pura e simples. Nietzsche chamava-se de niilista ativo positivo, pois desejava derrocar a escala de valores do mundo burguês de sua época para substitui-la por uma outra mais nobre e mais digna para o homem. (6)


(1) FIGUEIREDO. Vinicius de (Org.). Filósofos na Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007. (Vol. II)

(2) Grande Enciclopédia Delta Larousse

(3) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(4) Enciclopédia Barsa Universal.

(5) Temática Barsa - Filosofia

(6) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.