Amor

Amor. a) Sinônimo de afeto quando tomado em sentido lato. Neste caso apetição de qualquer realidade ou de algo ideal (amor ao belo). É tomado em sentido impessoal.

b) Em sentido pessoal (mais restrito), amor de alguém a alguém, que pode ser a própria pessoa amante (amor próprio) ou outra, alheia (amor de "complacência"). O amado pode ser amado como fim ou como meio. Como fim, temos o amor de amizade; como meio, temos o amor sensual ou erótico. Há o amor de mutualidade quando o amante ama o amado, e este por sua vez aquele. É um amor ego-altruísta. Há no amor não apenas a complacência, mas também o desejo, a apetibilidade do amado, a compenetração afetiva e a busca da posse do bem desejado. Distinguiam os escolásticos o amor de concupiscência, no qual se apetece a outro para si mesmo; ou seja, para a própria satisfação pessoal corporal (amor sexual) ou espiritual (a companhia contra a solidão) e o amor puro quando apetece apenas o bem da pessoa amada. Ele pode dar-se entre indivíduos e entre estes e as coletividades.

c) Emprega-se também para significar as apetências que se podem dar entre seres corpóreos não racionais, como atração na física, a aproximação com fim reprodutivo entre os animais, etc.

Crítica: O amor é uma força primitiva do espírito, avaliadora e criadora de valores, intensiva, capaz de atingir os graus mais variados. É sempre a revelação de uma afirmação da vontade dirigida a um valor reconhecido como tal e apetecido. Ele valora o valor e o valoriza, porque o que é apetecido é portador de valor para o amante. Eticamente podemos assim o considerar, segundo o nosso filosofar concreto. O bem verdadeiro do homem é o que corresponde aos princípios concretos, pois sem eles o homem não é (imprescindibilidade dos fatores emergentes) nem existe (imprescindibilidade dos fatores predisponentes). O bem humano é atingido pela harmonização desses princípios.  

Visualizado pelo ângulo dos fatores bionômicos, os fatores do corpo animal, a saúde, o regular funcionamento fisiológico são fundamentais. A eugenia do corpo e o cuidado que ele merece devem (tem de) ser atendidos. Como fator emergente, o psicológico inclui toda a vida mental e espiritual do homem. Uma mente sã impõe-se a um corpo são e vice-versa. A norma moral: " mente sã em corpo são" reflete a exigência, o imperativo do bem, que decorre do perfeito funcionamento dos fatos emergentes. Mas o homem, predisponencialmente, depende de um conjunto social que o gera e de um ambiente circunstancial onde vive, perdura e se move.

Os fatores histórico-sociais e os ecológicos, que são os fatores predisponentes, constituem também a realidade concreta do homem, pois ele não é só corpo e espírito, mas também habitante de um mundo e membro de uma coletividade, à qual se acha ligado por laços mais profundos. O bem humano implica o domínio do meio ambiente ecológico, de onde retira seus bens e que o homem naturalmente ama, até quando este lhe é adverso. O bem humano não se completa, portanto, apenas num corpo são e numa mente sã, mas num aproveitamento justo e adequado do meio ambiente ecológico, e numa adaptação adequada ao meio social. E como a coletividade e o meio ecológico se reúnem num complexo que é a pátria, e como nela para o bem coletivo é mister que ninguém perturbe as normas mais condizentes para o bem de cada um, a vida honesta do homem é exigida bem como o amor e o devotamento ao bem da pátria, nesse sentido natural e verdadeira que a ela se deve dar. A honestidade natural revela-se no seguir à procura dos bens genuinamente éticos, o que leva à manifestação de um sentimento de dignidade pessoal, que é a honra. Ser honrado (honradez) é cumprir socialmente seus deveres jurídicos bem como os econômicos.

A máxima moral concreta é: "Mente sã em corpo são, vida honesta e amor à pátria e à humanidade". Daí surgirem o respeito à dignidade pessoal (ao valor do homem como corpo e como espírito), à dignidade do cidadão e à solidariedade humana que deve a todos os seus semelhantes, pois a eles se liga por laços concretos e poderosos. As especulações do homem sobre uma vida além do corpo ligam-lhe aos deveres religiosos, segundo as diversas crenças. Em todas elas a moral pauta-se pela aceitação desses princípios universais e é fundado portanto numa realidade concreta do homem. E assim como nenhuma tendência é vã, o anseio da felicidade perene leva novamente o homem, em suas especulações, ao Ser Supremo, ao Grande Ser, fonte e origem de todas as coisas, simbolizado em todas as religiões pela divindade, por elas aceita e adorada. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.