Conservadorismo

Conservadorismo. Conjunto de correntes doutrinárias e de movimentos políticos que assenta na consideração do caráter orgânico e natural da sociedade política, cujos valores se devem apreender e determinar pela consagração da História e da experiência, resultado essencialmente da descoberta e da organização e não da invenção e inovação. O que caracteriza o conservador (do vocábulo latino conservare, guardar) é a defesa de um mínimo ético de valores sociais estáveis, cuja vigência substancial deve ser preservada através das modificações históricas, mesmo sacrificando aspectos formais da sua consagração jurídico-institucional.

Os valores do conservadorismo só encontram respostas através da determinação e análise histórica dos diversos "conservadorismos", já que o pensamento conservador, por princípio, rejeita a universalidade e uniformização dos modelos político-sociais. 

O pensamento conservador autodefine-se como "realista", por ser uma filosofia e um pensamento do que é, baseado na observação, na indução e na experiência, que contrapõe ao idealismo e utopismo dos seus adversários progressistas, ou reacionários. Para o conservador, a mudança não é movimento ou lei histórica necessários e, sobretudo, um pressuposto obrigatório de aperfeiçoamento dos indivíduos e da sociedade, já que a força, a riqueza e a independência individual e coletiva não estão ligadas a qualquer modelo racionalmente construído e intelectualmente predeterminado, mas resultam do jogo equilibrado das próprias forças sociais, segundo as regras provocadas pela experiência e pela tradição. A filosofia conservadora não busca um ótimo político-social, mas sim um equilíbrio e um modus vivendi sem rupturas nem conflitos agônicos no interior da comunidade. 

O conservador encara a tradição não como um repositório estático e inalterável de verdades definitivas, mas como uma súmula do que foi permanecendo através da mudança. Assim, para o conservador a religião, a pátria, a família, a propriedade são valores a defender e manter, mas cuja representação e realização são históricas, logo sujeitas à mudança nas suas manifestações externas e formais. 

A pluralidade de ideias e correntes em conflito numa sociedade não é uma conquista da idade contemporânea, mas surge como  uma característica de qualquer sociedade. Exemplo: Em Roma, a "revolução dos Gracos". 

O conservadorismo aparecerá mais como um estilo, uma forma, um modelo de encarar a realidade social, do que com um conteúdo objetivo no plano dos valores, já que este conteúdo variará em função da época e do lugar.

O conservadorismo nos países anglo-saxônicos — Inglaterra, EUA — é visto de forma diferente do praticado no continente europeu.

Um representante típico do conservadorismo Continental é Alexis de Tocqueville (1805-1959), que se proclama defensor de "liberdade moderada, regular, limitada pelas crenças, os costumes e as leis" e confessa: "Sinto pelas instituições democráticas un goût de tête, mas sou aristocrata por instinto, i. é, desprezo e temo a multidão. Amo com paixão a liberdade, a legalidade, o respeito dos direitos, mas não a democracia." 

Para Tocqueville as condições de defesa e preservação desta liberdade ordeira são a descentralização e as liberdades locais, a proliferação de associações do Estado-administração e a "paixão do bem público" como espírito dominante na classe política.

Estes temas e princípios do liberalismo antidemocrático — a denúncia da "democracia totalitária" do Terror, a exaltação do modelo parlamentar inglês, a defesa do sufrágio restrito, da propriedade, da ordem e lei — serão comuns aos conservadores europeus, em modelos mais ou menos mitigados do constitucionalismo autoritário, ao longo de todo o século XIX.

Este mesmo tema, da democracia como inimiga da liberdade através da tirania da maioria, é caro ao conservadorismo liberal anglo-saxônico, onde se expressa em autores como Stuart Mill, Hume e Burke, que mostram no campo da organização política a preocupação de modelos legais de proteção da minoria, e que está mais modernamente presente em Sir Henry Maine, que se alarma com o fato de cada vez maior número de homens preferir a segurança à liberdade e na "ala direita" dos Founding Fathers americanos. (1)

(1) POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.

Un goût de tête. Tradução literal: um gosto de cabeça.