Automatismo

Automatismo. Dá-se o nome de "automatismo" aos movimentos que ocorrem num objeto sem o impulso externo aparente e, por conseguinte, aos movimentos que parecem ter origem no próprio interior do objeto considerado. Por extensão, qualificam-se de automáticos os movimentos que se repetem em formas limitada e determinada mesmo quando há um ato de excitação ou impulsão externa. Segundo Descartes, os animais são autômatos, reagem de forma mecânica às excitações externas, ao contrário do homem, que possui alma e vontade (ver alma dos brutos). O automatismo dos atos psicológicos não é idêntico em todos os seus graus; costuma abandonar seu caráter aparentemente mecânico à medida que vai penetrando na esfera da consciência. A intervenção da vontade pode desviar o automatismo dos atos ou pode ser também uma das causas produtoras de um número determinado de movimentos automáticos. 

"Automático" e "automatismo". O automatismo é a característica das máquinas capazes de efetuar uma série de operações sem outra intervenção humana senão as de construção da máquina e de pô-la em funcionamento. A automação ou automatização é a característica das máquinas capazes de conduzir-se a si mesmas segundo certas normas dadas, mais variadas e flexíveis do que as que correspondem ao mero automatismo. (1)

Alma dos brutos. O problema da natureza dos animais e da diferença (essencial ou de grau) entre o animal e o homem ocupou com frequência os filósofos; referência a esse tema são encontrados em Alma, Antropologia e Homem. Aqui diz respeito às discussões travadas sobre o assunto entre cartesianos e anticartesianos durante o século XVII e boa parte do século XVIII, quando a questão pareceu afetar a totalidade da filosofia. Hoje, a determinação da diferença entre o homem e animal é — em filosofia — um problema de antropologia filosófica, auxiliada não só pela biologia, pela psicologia e por todas as ciências do homem, como também pelo que se denomina a teoria analítica da vida humana. 

A concepção cartesiana e as discussões sobre ela. O filósofo francês indicou que crer que os brutos pensam é o maior dos preconceitos que mantivemos da infância. A hipótese de Descartes: há duas realidades irredutíveis — o pensamento e a extensão —, há dois princípios distintos de nossos movimentos: um, inteiramente mecânico e corpóreo, que depende só da força dos espíritos animais.

Observou-se que a tese cartesiana pode ter dois motivos estreitamente aparentados: 1) o dualismo de pensamento e extensão e 2) o extremo mecanicismo com que é concebido tudo o que não é pensamento. A isso acrescentou-se um propósito: o de salvar a tese da imortalidade da alma. Entretanto, aqui nos interessa apenas destacar que o sentido último da doutrina cartesiana dentro de seu sistema era o apoio à metafísica dualista e, fora de seu sistema, o desejo de encontrar uma nova prova da natureza irredutível e, portanto, imortal da alma humana. (1)

Automatismo. a) Concepção filosófica que afirma que os animais e os homens são autômatos, máquinas governadas pelas leis da física e da mecânica.

b) Descartes considerava como autômatos os animais inferiores, e o homem como uma máquina controlada por uma alma racional. Alguns epifenomenalistas do século XIX defenderam o automatismo. O behaviourismo postula ideias idênticas. (2)


(1) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.

(2) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.