Absoluto

Absoluto. Do latim absolutum, solto de, desligado de. O que não comporta nenhuma limitação, restrição ou dependência. O contrário de relativo. 

É o ser que não depende de outro, que se basta a si mesmo. É o ser completamente livre de relações reais, que tem em si a própria razão de ser, o ser por essência, o ipsum esse dos escolásticos, Deus. Ver ipseidade (1)

Absoluto. (do lat. absolutum, ab solutum, solto de, desligado de ... e em gr., to apoluton, o isento de relação, de limitação, de dependência). É o contrário de relativo. a) Ser absoluto é, pois, o que existe em si o que não tem relação de dependência com nenhum outro. Neste sentido, não é causa, porque esta só o é em relação com o efeito. Daí concluir-se que ele é o ser único, como afirmam os monistas (Parmênides, Spinoza), concluindo uns ainda pela ininteligibilidade do ser absoluto (relativismo, fenomenalismo), e outros pela sua incognoscibilidade (agnosticismo).

b) É o ser que não necessita de nenhum outro para existir, que não existe para uma relação com outro, mas que pode ter relações com outros. Este ser pode ser causa: causa primeira. Independente por si, mas os outros dele dependem (como na escolástica) Também são absolutos os seus atributos. Afirmam muitos que os cartesianos e Cousin não fazem nenhuma distinção entre absoluto e infinito. Hamilton dá duas espécies antitéticas do gênero incondicionado, como sejam: o infinito é o incondicionamento ilimitado como observa Goblot.

A ideia de absoluto exclui a ideia de Infinito, quando aceitamos uma coisa como determinação de si, por ex.: to holon, to teléion de Aristóteles. Uma gota de água é absolutamente pura, não infinitamente pura (Stuart Mill). Concebe-se uma justiça absolutamente verdadeira, uma demonstração absolutamente convincente, não uma justiça infinita, uma prova infinita. Se, pelo contrário, a aplicamos a uma coisa, que não envolve necessariamente a ideia de limite, então a ideia de Absoluto não se opõe à ideia de Infinito: a potência absoluta é a potência suprema, a potência sem limites, a potência infinita, como afirma Goblot.

c) Baldwin toma-o como sinônimo de independente, incondicionado, necessário.

d) Emprega-se, frequentemente, com as características acima: independente, não relativo, absoluta (inerente) necessidade. Númeno (noumenon), na terminologia kantiana, é um valor absoluto (inerente, incondicionado).

e) Como substantivo: 1) o universal, como totalmente compreensível: isto é, incluindo todas as possíveis distinções; 2) como imediato: isto é, afastado de todas as definições ou distinções; por isso implica necessariamente negação. Esta última acepção é a do absoluto como númeno (ou incognoscível para os que consideram o conhecimento uma relação, no qual o objeto, como constituído, é ipso fato fenomenal); 3) como primeira causa, primum movens, natura naturans, é relativamente absoluto. Na filosofia moderna, no neo-hegelianismo ou no idealismo absoluto e no panteísmo, é tomado no sentido a; e no sentido d, no kantismo e no agnosticismo; e em sentido e, no realismo epistemológico, no materialismo, no espiritualismo e no teísmo. Para os metafísicos monistas é considerado íntegro em si mesmo, compreendendo toda a realidade. Não há nenhuma realidade fora dele. As partes não negam o todo. Em suma, para esta concepção, o absoluto é o universo integral, como se vê no idealismo absoluto de Fichte, de Schelling e de Hegel.

f) No sentido de Hamilton e Spencer é o que está fora das relações, e se aproxima, assim, do conceito aristotélico.

Na história da filosofia, absoluto aparece como o Ser, em Parmênides; a Forma do Bem, em Platão; o ato puro, em Aristóteles; o Um, nos Pitagóricos e em Plotino; a substância,  em Spinoza; a coisa em si, em Kant; o Eu, em Fichte (e também em Berkeley, e nos solipsistas); o Espírito absoluto, em Hegel; a indiferença do sujeito e do objeto, em Schelling; a suprema vontade de potência, em Nietzsche; a energia, em Ostwald; o Inconsciente,  em Hartmann; o Incognoscibile, em Spencer; a matéria, nos materialistas.

O enunciado do absoluto só se poderia fazer por negações, por exclusões. São definíveis por exclusão todos os caracteres, todos os atributos. Por outro lado, o absoluto é irredutível.

g) O absoluto como totalidade do relativo, a soma total, tudo no todo (to Pan). Mal emprego que deve ser evitado.

h) Designa, em regra geral, a antinomia do relativo.

i) Para Littré, é sinônimo de a priori.

Segundo o sentido vigorante no século XVIII: o que não era relativo. Ideias absolutas são as que, segundo a metafísica, não sobrevêm pela experiência. (Lalande).

j) Segundo Warren, característica de um objeto ou fenômeno por si mesmo, como distinto de suas relações para com outros objetos ou fenômenos.

Juízo absoluto: juízo comparativo, no qual, como resultado de prévias experiências com as séries apresentadas de estímulos como um todo, o primeiro membro de um par é avaliado relativamente ao segundo, antes de que o último seja apresentado atualmente. (2)

(1) ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]

(2) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.