Perfectibilidade

Perfectibilidade. Não é o poder de se tornar perfeito, mas de se aperfeiçoar. Portanto, somente o imperfeito é perfectível, mas só o é contanto que possa mudar, e se mudar. Rousseau via nela o próprio da humanidade: além da liberdade, explica ele, “há outra qualidade muito específica que distingue o homem do animal, e acerca da qual não pode haver contestação: é a faculdade de se aperfeiçoar, faculdade que, com a ajuda das circunstâncias, desenvolveu sucessivamente todas as outras e reside entre nós, tanto na espécie como no indivíduo; ao passo que um animal, ao cabo de alguns meses, é o que será o resto da vida, e sua espécie, ao cabo de mil anos, o que era no primeiro ano desses mil anos” (Discurso sobre a Origem da Desigualdade, I: mesma ideia em Pascal, mas sem a palavra perfectibilidade, em seu Préface au Traité du Vide [Prefácio ao Tratado do Vazio]. (1)

Perfectibilidade. A ideia de perfectibilidade do homem surge no século XVIII, com a atenuação das barreiras teológicas que reservavam tal propriedade a Deus. Para autores Iluministas como Condorcet e Godwin, a perfectibilidade torna-se uma tendência suscetível de ser de fato realizada na história humana. Antes de Kant, tanto Rousseau como o pensador escocês Lord Monboddo (1714-99) anteviram a perfectibilidade como capacidade para o progresso moral e para a autolegislação humana. O século XIX representou o apogeu da crença na perfectibilidade, sob a influência de Saint-Simon e, depois de Kant, Hegel, Comte e Marx. Com a teoria da evolução foi possível ver a história econômica e cultural como um progresso, uma adaptação crescente desde os estados primitivos e não-desenvolvidos até o ideal potencial, associado à liberdade e à auto-realização da humanidade. Este otimismo, frequentemente aliado a uma confiança ilimitada na melhoria da condição humana mediante o avanço da ciência, não sobreviveu ao desgaste do século XX. (2)

(1) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.