Necessário

Necessário. (do lat. ne e cedo, ceder, portanto incedível, não cedível, o caráter do que é incedível). a) O que não só é verdadeiro, mas que também seria verdadeiro sob todas as circunstâncias. O contrário de necessário é contingente.

b) Kant define como o que é a priori certo.

c) Para Schopenhauer é o caráter de inevitabilidade de uma consequência se o antecedente é dado.

d) Também se chama a relação de um meio com respeito a um fim, ou de uma condição com respeito a um fato condicionado, se esse fim não pode ser alcançado senão por esse meio, ou se o fato condicionado não se pode produzir senão sob essa condição.

Necessário chama-se, também, o ser que para existir não depende de nenhuma outra coisa ou condição: o Deus de Descartes, a substância de Spinoza.

Um adjunto necessário é um predicado não-essencial que pertence sempre e sob todas as condições a cada indivíduo da espécie e, que além disso, não pertence a nenhuma outra espécie. O uso inexato da palavra muitas vezes confunde o adjunto necessário com a propriedade. Uma causa necessária é aquela que atua em virtude da sua própria natureza, inevitavelmente, e sem liberdade. (1)

Necessidade. (do lat. ne e cedo, ceder, não ceder, não cedível). Caráter do que é necessário. A necessidade é absoluta ou categórica se ela subsiste sob todas as circunstâncias e se qualquer modificação no estado de coisas ao qual atribuímos o caráter de necessidade, implicaria uma contradição. Ela é hipotética se vale só sob certas circunstâncias que podem ser dadas ou não, e há sempre nos meios exigidos para alcançar um certo fim, porque só subsiste na hipótese de que esse fim seja anelado. Dessa necessidade hipotética do fim se distingue a necessidade hipotética do advento que subsiste em virtude de um fato já consumado, quer se a realização da consequência considerada necessária já teve lugar, quer seja ela esperada no futuro.

Leibniz distingue três tipos principais:

1) A necessidade metafísica (ou lógica ou geométrica); o que não pode ser de outra forma, que de fato é, sem implicar uma contradição; o que equivale à necessidade absoluta.

2) A necessidade física (ou natural) que reina na natureza, que bem podia ser diferente, mas que uma vez por todas foi escolhida e estabelecida por Deus, que criou este mundo; é portanto uma espécie de necessidade hipotética.

3) A necessidade moral, que consiste no fato de que o homem como um ser moral e até Deus, só se podem decidir entre várias possibilidades de escolha, em virtude da concepção de uma dessas alternativas como a melhor, ou a mais conveniente.

No desenvolvimento do conceito de necessidade, desde os pre-socráticos (em gr. anankê) parece uma cega força cósmica. As definições lógicas da filosofia clássica até a sua aplicação na psicologia moderna (que opõe a necessidade à liberdade, dentro do próprio reino da liberdade da psique) revelam a constância desse conceito, que se impõe ao pensamento humano e serve incontestavelmente de pedra angular a cada filosofia, o que mostra também como ele é pouco maleável e impenetrável na sua própria natureza, o que o faz ser um dos conceitos fundamentais e irredutíveis do ser e do pensamento. Segundo Kant a necessidade é uma das categorias da modalidade. (1)


(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.