Conhecimento

Conhecimento. 1. Função ou ato da vida psíquica que tem por efeito tornar um objeto presente aos sentidos ou à inteligência. 2. Apropriação intelectual de determinado campo empírico ou ideal de dados, tendo em vista dominá-los e utilizá-los. O temo "conhecimento" designa tanto a coisa conhecida quanto o ato de conhecer (subjetivo) e o fato de conhecer. (1)

Conhecimento. Em geral, uma técnica para aferição de um objeto qualquer, ou disponibilidade ou posse de uma técnica semelhante. Por técnica de aferição deve-se entender qualquer procedimento que possibilite a descrição, o cálculo ou a previsão verificável de um objeto; e por objeto deve-se entender qualquer entidade, fato, coisa, realidade ou propriedade. Técnica, nesse sentido, é o uso normal de um órgão do sentido tanto quanto a operação com instrumentos complicados de cálculo: ambos os procedimentos permitem aferições verificáveis. (2)

Conhecimento. Relação de índole muito especial entre um sujeito e um objeto, que consiste em uma espécie de penetração mútua de ambos. No uso prático da língua, a palavra designa duas coisas diferentes conforme o ponto de vista. Parte de um ou do outro dos dois termos dessa relação: do sujeito ou do objeto. Partindo do sujeito, a relação cognoscitiva se apresenta como um ato subjetivo; e este é o primeiro sentido da palavra. No processo cognoscitivo, o sujeito capta, pelo menos, uma parte da realidade que se lhe apresentou de maneira objetiva e incorpora-se ao tesouro de objetos já anteriormente apreendidos e tornados subjetivos; esse material apreendido, tanto o que corresponde a um ato só, como particularmente à soma do material assim captado em todos os atos cognoscitivos de um sujeito, ou às vezes também de um grupo, constitui o segundo sentido da palavra conhecimento. Tanto o ato de conhecer, como o objeto conhecido podem ser classificados em razão da distinção em uma simples apresentação do objeto, que o identifica como tal, e o processo de compreender (vide) esse objeto em sua circunscrição definida e em suas relações com o resto da realidade, particularmente com as suas causas e os seus efeitos Assim podemos conhecer (como simples presentação do objeto) a anatomia de um animal, sem compreendê-la ainda; só quando soubermos explicar a significação funcional de cada órgão, teremos um conhecimento que "compreenda" o objeto. São portanto quatro sentidos que a palavra conhecimento pode assumir, em virtude das duas distinções acima expostas. Já foi feita a tentativa de reservar conhecer para o uso análogo de compreender e a designar um conhecer meramente aperceptivo com a palavra saber. Notadamente, em outras línguas, opõem-se assim, os respectivos termos de connaitre e savoir, kennen e wissen, noscere  e scire.  

Não há dúvida sobre a justificação real dessa distinção, porém parece que, em nenhuma destas línguas, a oposição daqueles termos tenha uma base sólida na filologia. Em inglês knowledge significa tanto o conhecimento aperceptivo como compreender, e a respectiva distinção é feita pelas expressões knowledge of acquaintance e knowledge about. A simples percepção se opõe, de um lado, a compreensão que ultrapassa a percepção por ser objetivamente mais perfeita, pela noção das causas e efeitos, bem que essas noções adicionais sejam adquiridas igualmente por novas percepções. Mas a simples percepção é susceptível, também, de ser completada, subjetivamente, pela intervenção da razão pura com os seus meios de raciocínio. Em virtude disso, os conhecimentos são classificados em empíricos que são constituídos por percepções e filosóficos ou racionais, que se baseiam, inteira ou principalmente, em conclusões da razão.

Essas duas distinções se acham confundidas na classificação aristotélica de conhecimentos oti, apresentação dos próprios fatos, e conhecimentos dioti, que são produzidos por silogismos na sua maior perfeição como demonstrações e que correspondem às compreensões propter quid, pelas razões, e a quia, pelo fato, usadas pelos escolásticos. Eles proporcionam, do ponto de vista aristotélico, a compreensão também dos fatos.

Conforme o caráter do objeto distinguem-se conhecimentos apreensivos e conhecimentos judicativos, contendo os primeiros percepções, imagens ou representações, ao passo que os últimos constatam a existência ou não-existência de um fato. Conforme ao propósito que aspiram eles são divididos em especulativos e práticos, o que não equivale à distinção acima dada em racionais e empíricos. Sem dúvida, as ciências especulativas são racionais por excelência, mas os resultados das ciências práticas podem ser   devidas a raciocínios também, como à experiência imediata.

Sob o ponto de vista psicológico ainda se devem distinguir conhecimentos atuais, virtuais e habituais. (3)


(1) JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

(2) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.