Introspecção

Introspecção. Do latim introspicere, olhar para dentro. Visão interior. Introspecção é o esforço de auto-observação interior, através do qual o indivíduo busca descobrir as causas, a evolução e os efeitos dos fenômenos psicológicos ocorrentes em si mesmo; é um processo inteiramente subjetivo. A extropecção é o estudo objetivo do comportamento de outrem, feita por um ou mais indivíduos. Os dois processos se completam, no exame dos fenômenos psíquicos. (1)

Introspecção. 1. Na filosofia da consciência, de tradição cartesiana, é o procedimento pelo qual o sujeito examina o conteúdo da própria consciência. A introspecção, por ser um meio de acesso privilegiado da consciência a si própria, e por seu caráter imediato, teria a validade de suas conclusões garantida. 

2. Na psicologia chamada "introspeccionista", é o método de descrição da estrutura e dos conteúdos da consciência, sendo considerada o único meio válido de acesso à realidade psíquica. 

3. O caráter imediato e privilegiado da introspecção passou a ser questionada na filosofia contemporânea, que aponta os pressupostos inevitáveis que esse tipo de exame envolveria sobre a própria natureza da consciência e da subjetividade, não tendo portanto o caráter originário pretendido. Além disso, questiona-se a introspecção como base para o método científico devido a seu caráter, por definição, subjetivo e à impossibilidade de generalização de suas conclusões. (2)

Introspecção. Auto-observação do espírito. Foi inicialmente a única atitude (mais do que método) da psicologia - antes de seus esforços para constituir o equivalente  de abordagens experimentais - e, a esse título, foi criticada com vigor por A. Comte, que expulsa consequentemente a psicologia de sua classificação das ciências. 

A crítica de Comte à introspecção é por esta não respeitar a condição mínima de qualquer observação científica (distinção entre o observador e o observado), mas também modificar o que pretende registrar (em particular desacelerar o funcionamento mental) e de ser de fato sempre uma retrospecção, ademais impossível de ser generalizada porque submetida à subjetividade daquele que se observa.

Nem por isso a introspecção deixou de permitir que inúmeros autores, antigos ou clássicos (de Sêneca a Vauvenargues passando por Santo Agostinho, Pascal, Hobbes ou Hume), efetuassem um número importante de observações sobre "o homem em geral", seu pensamento e seus sentimentos. Continua, aliás, a alimentar uma tradição literária que deriva do diário íntimo mais ou menos direto - embora evidentemente fracasse em conhecer o que quer que seja do inconsciente. Deve-se o método de introspecção experimental, que permite definir as noções de intenções e de atitude de consciência, à escola de Würzburg (início do século). (3)

Introspecção. Esse termo foi introduzido pela psicologia do século XIX para designar o método psicológico fundamental, considerado insubstituível até o advento do behaviorismo. Contra a introspecção Comte opôs uma objeção de princípio: "O indivíduo pensante não pode dividir-se em dois, em que raciocina e outro que o vê raciocinar. Nesse caso, sendo idênticos o órgão observado e o órgão observador, como poderá ocorrer a observação?" (Cours de phil. positive, 1830, I, seç. 1, § 8). Comte concluíra, por isso, pela impossibilidade da psicologia e a suprimira da sua enciclopédia das ciências. (4)

Introspecção. Observação direta sobre si mesmo ou sobre os próprios estados mentais e suas operações. Equivale a reflexão ou "sentido íntimo" segundo Locke e Kant. A introspecção pode realizar-se pelo exame imediato dos estados psicológicos e sua operação, ou por evocação, por um ato retrospectivo dos estados e processos mentais ocorridos no passado. (5)

Introspecção Experimental. Método psicológico em oposição ao método objetivo do behaviourismo, que se realiza por introspectiva observação, através de testes ou experiências pelos quais o sujeito que sofre a experimentação descreve, pormenorizadamente, as suas experiências interiores. (5)


(1) ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.

(2) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(3) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(4) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi; revisão da tradução e tradução dos novos textos  Ivone Castilho Benedetti. 6ª ed., São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.

(5) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.