Transcendência, Transcendente, Transcendental

Transcendência/transcendente. Do latim transcendere, ultrapassar, superar. 1. A noção de transcendência opõe-se à de imanência, designando algo que pertence a outra natureza, que é exterior, que é de ordem superior. Nas concepções teístas, p. ex.: Deus é transcendente ao mundo criado. Ver teísmo. 2. Que está além do conhecimento, além da possibilidade da experiência, que é exterior ao mundo da experiência. (1)

Transcendental. 1. Na escolástica, termo utilizado para designar categorias mais gerais que transcenderiam as categorias aristotélicas. Os transcendentais seriam assim o ser, o verdadeiro, o bem e o belo, caracterizando tudo aquilo que é, sendo no fundo aspectos da mesma coisa, o Ser.

2. Na filosofia kantiana, também caracterizada como filosofia transcendental, trata-se do ponto de vista que considera as condições de possibilidade de todo conhecimento. Nesse sentido, não deve ser confundido com o termo “transcendente”. “Chamo transcendental todo o conhecimento que, em geral, se ocupa menos dos objetos do que de nossos conceitos a priori dos objetos. Um sistema de conceitos desse tipo seria denominado filosofia transcendental... Não devemos denominar transcendental todo conhecimento a priori, mas apenas aquele pelo qual sabemos que e como certas representações (intuições e conceitos) são aplicadas ou possíveis simplesmente a priori (“transcendental” quer dizer possibilidade ou uso a priori do conhecimento)” (Kant, Crítica da Razão Pura). (1) 

Transcendência. Caráter de tudo o que ultrapassa uma média. No sentido estritamente filosófico, a transcendência implica uma natureza absolutamente superior às outras, ou de uma ordem radicalmente diferente. É portanto mais particularmente Deus, com relação ao mundo e aos seres imanentes (o que exclui qualquer concepção panteísta). Em Kant é transcendente o que está além de qualquer experiência possível. Na fenomenologia e, depois, no existencialismo, o transcendente caracteriza o que visa a consciência, ou seja, aquilo em direção ao que ela tende ao mesmo tempo que daí permanece distante. (2)

Transcendental. É comum considerar-se o conceito de ser como um conceito universal, genérico ou específico. Neste caso, ser seria apenas um esquema abstrato das notas universalizantes, que têm todos os entes. Duns Scot opunha-se a essa opinião, afirmando a univocidade do conceito de ser.

O conceito de gênero inclui o das espécies, que entram na sua extensão, no que elas têm de comum, mas exclui o que têm de próprio, que é a diferença específica que permanece fora do conceito. Assim homem e cavalo estão implicados no gênero animal enquanto seres animados, mas a diferença específica de homem (a de ser racional) não a possui o cavalo, que dela é ausente. O mesmo observar-se-ia quanto a um indivíduo, pois Paulo que está incluído como ser racional, em homem, não está enquanto louro. Mas o conceito de ser é diferente, porque ele engloba, não somente o que as espécies têm de comum, mas também os indivíduos, e ademais as diferenças específicas e individuais. Assim, no indivíduo Paulo, o ser animal é, o ser homem é, o ser louro é. Deste modo, o conceito transcendental é aquele que é atribuído aos seres que entram na sua extensão, não somente no que têm de comum, mas também no que têm de próprio; portanto, o conceito ser é um conceito transcendental. (3)


(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993. 

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.