Evangelho. Do latim eclesiástico evangelium,ii. 1. A boa-nova de Cristo, a doutrina cristã (inicial maiúscula). 2. Cada um ou o conjunto dos quatro livros dos apóstolos Mateus, Marcos, Lucas e João, incluídos no Novo Testamento, que narram especialmente a vida, a doutrina e a morte de Cristo (inicial maiúscula). 3. Cada um dos 27 livros do Novo Testamento que anunciam o Reino de Deus. 4. Leitura proclamada pelo padre na missa (inicial maiúscula). (1)
Evangelho. O uso frequente de uma palavra pode provocar, com o tempo, a perda do seu significado original. Isto aconteceu com muitos de nós que dizemos e ouvimos pronunciar tantas vezes o termo "Evangelho". De acordo com Battaglia, em Introdução aos Evangelhos, o primeiro significado lembrado pelo som desta palavra é o de um livro, um dos quatro que foram legados pela era apostólica e que contém a vida e a doutrina de Jesus. A palavra "Evangelho" suscita em muitos cristãos uma vaga idéia de respeito e solenidade ligada à liturgia da Missa dominical, quando o som deste termo faz-nos ficar todos de pé para ouvi-lo devota e respeitosamente. Mas normalmente, tudo pára aí. Evangelho é a tradução portuguesa da palavra grega Euangelion que foi notavelmente enriquecida de significados. Para os gregos mais antigos ela indicava a "gorjeta" que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde passou a significar uma "boa-nova", segundo a exata etimologia do termo. Falava-se de "evangelho", nas cidades gregas, quando ecoava a notícia de uma vitória militar, quando os arautos noticiavam o nascimento de um rei ou de um imperador. Ao termo estava unida a ideia de festa com cânticos, luzes e cerimônias festivas. Era, em suma, o anúncio da alegria, porque continha uma certeza de bem-estar, de paz e salvação. (2)
Evangelho (évangile). Do grego euaggélion, bom mensageiro, o que traz uma boa nova. Com maiúscula e eventualmente no plural, é o nome dado aos quatro livros que narram a vida e o ensinamento de Jesus Cristo. Voltaire lembra que foram "fabricados cerca de um século depois de Jesus Cristo" e que há vários outros, ditos apócrifos, que mereceriam igual interesse. Isso confirma a singularidade dessa história. Mesmo que não passasse de um romance, o que não creio, e embora às vezes seja um bocado chato, esse romance nem assim deixaria de ser, de todos os livros da humanidade, um dos mais esclarecedores. Porque nos fala de Deus? Não. Porque nos fala de nós mesmos. Por causa da ressurreição do seu personagem principal? Também não. Por sua vida.
Se deixarmos de lado a incrível exploração que se fará deles, os Evangelhos são o relato de uma existência e o retrato, ainda que aproximado, de um indivíduo. Seria um erro abandoná-los às Igrejas. Jesus, para mim, não é um profeta - não creio nos profetas -, ainda menos o Messias ou Deus. Era um homem, aliás ele próprio nunca pretendeu ser outra coisa. É por isso que ele me interessa. É por isso que ele me comove. Pela simplicidade. Pela fragilidade. Pela idade nua. Quem pode imaginar, lendo os Evangelhos, que esse homem possa ter se tomado por Deus? Por seu filho? Todos nós somos, já que esse Deus, de acordo com a própria prece que Jesus nos deixou, seria Nosso Pai... Em outras palavras, Jesus, tal como o vejo, tal como creio compreendê-lo ao ler os Evangelhos, nunca foi cristão. Por que seríamos? Era um judeu piedoso. Era um homem cheio de sabedoria e de amor. A única maneira de lhe ver verdadeiramente fiel, para os que não são nem judeus nem crentes, é ser um pouco mais sábios, um pouco mais amantes, um pouco mais humanos e, para tanto, antes de mais nada, respeitar a justiça e a caridade, que são toda a lei. É o que Espinosa chamava de "espirito de Cristo", que é o espírito tout court e a principal mensagem dos Evangelhos. (3)
Evangelho Eterno. Lat. Evangelium aeternum. Orígenes empregou essa expressão para designar a revelação das verdades superiores que Deus faz aos sábios em todas as épocas do mundo, capaz de integrar e corrigir a revelação contida no Evangelho Histórico. (4)
(1) DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO ILUSTRADO LAROUSSE. São Paulo: Larousse, 2007.
(2) BATTAGLIA, 0. Introdução aos Evangelhos — Um Estudo Histórico-crítico. Rio de Janeiro: Vozes, 1984, p. 19 e 20.
(3) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
(4) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.