Imaginação

Imaginação. Faculdade de formar imagens reproduzindo o que foi percebido ou registrado mentalmente o que antes foi objeto de uma percepção (imaginação reprodutora). Mas também a faculdade de combinar imagens provenientes da experiência num novo conjunto: É então a imaginação criadora ou inovadora. (1)

Imaginação. Filos. Dados históricos - Na acepção consagrada por longa tradição, a I. designa um ato ou fenômeno psíquico determinado, uma "faculdade" intermédia entre a percepção sensível do individual concreto e a abstração das ideias universais. Na sua extensão máxima e mais profunda, a problemática da I. vem de Platão que introduziu no âmago de sua filos. a afirmação de que uma coisa aparece como imagem de outra e de que remete, graças à semelhança, a uma realidade primitiva, considerada como modelo, paradigma ou arquétipo. No entanto, é a tradição aristotélica que predominou na filos. ocidental, e que as diferentes escolas se sucedem no tempo, vão desenvolvendo ou corrigindo sem a rejeitarem completamente. De acordo com o princípio fundamental de que a sua psicologia, que é a estreita união entre a alma e o corpo, Aristóteles considera a imagem como a representação analógica ou "fantasma", deixada na alma pela sensação, que persiste, e pode renovar-se com uma certa liberdade, após o ato de sensação ter cessado. As imagens, nascidas das sensações, têm pois uma vida própria e podem combinar-se, associar-se entre elas, reaparecendo à superfície da consciência. A I. ou "fantasia" está pois estreitamente unida à memória. Os Escolásticos incluem a I. entre as "faculdades" sensíveis internas e definem-na, segundo a tradição aristotélica, como a capacidade de fixar, conservar, reproduzir e combinar as imagens das coisas sensíveis. Pode-se, metaforicamente, compará-la a um reservatório ou tesouro, constituído pelas imagens recebidas pelos sentidos. Este reservatório contudo não é uma "faculdade" puramente passiva. Manifesta-se certa espontaneidade e atividade na maneira como as imagens se combinam e emergem à consciência. 

Psic. - Atividade psicológica que desempenha um papel intermediário entre a atividade intelectual, essencialmente subordinada ao raciocínio lógico e ao princípio da realidade, e o pensamento autista que depende exclusivamente das leis da afetividade. A atividade imaginativa implica uma transformação dos hábitos do pensamento e dos modelos formais de raciocínio, pode revelar-se consciente ou inconscientemente, ora no domínio da originalidade e da capacidade criadora ora no do sonho e do delírio. (2)

Imaginação. Para os antigos a imaginação era a faculdade de pensar por meio de imagens. Na realidade a palavra teve diversas acepções. Usa-se na psicologia para designar duas funções mentais bem distintas: a) uma de simples reprodução, imaginação reprodutora e b) uma de combinação original e de criação, imaginação criadora.

A imaginação reprodutora é um modo da memória, memorização das imagens. A palavra imagem, na psicologia, é empregada como o retorno de uma sensação ou de uma percepção, sem a presença do objeto que o provocou, com ausência de toda excitação periférica atual, ou melhor como "representação", como a consideravam os antigos, pois há aqui re-presentação.

Vemos um livro e dele guardamos uma imagem. Assim podemos recordar imagens de diversos fatos passados, de sensações agradáveis ou desagradáveis. A capacidade de reproduzir imagens varia de indivíduo para indivíduo. Uns têm mais capacidade para reviver imagens auditivas, outros tácteis, outros olfativas, outros visuais, combinando-as diversamente. Verifica-se também que a precisão, a nitidez delas varia no indivíduo, como de indivíduo para indivíduo. Há pessoas que têm imagens nítidas e podem conservá-las por muito tempo, como certos indivíduos com o sentido auditivo desenvolvido, que podem recordar perfeitamente uma peça musical, enquanto outros guardam mais as imagens visuais.

A imaginação criadora já se manifesta por formas diversas. Nela penetram afetos, tendências, paixões, sentimentos de formas mais intensas que naquela, intuições, apreensões de pensamentos novos, revelações, descobertas, etc. Discutem os psicólogos se há realmente criação nessa imaginação ou apenas combinações. Para alguns e entre eles Locke, o espírito é incapaz de criar uma ideia por simples que seja. Por isso todas as imagens são apenas cópias de sensações. Todos os fatos parecem fundamentar essa opinião, pois em tudo quanto o homem cria, através da imaginação, sempre vamos encontrar aspectos da realidade. Um mito, um monstro de mil formas, um ser imaginado, sempre tem aspectos de realidade que com outros formam o tipo criado pela imaginação. São compostos de reminiscências de percepções passadas. No entanto há criação (em certo aspecto) no da ordem. Na imaginação reprodutora há apenas memorizações de imagens de fatos passados. Mas na imaginação criadora, embora as imagens isoladamente sejam consideradas como reminiscências de percepções anteriores, há criação na combinação desses elementos que formam um todo, o qual não é apenas um conjunto ou uma soma das partes, mas muito mais. (3)

Figura Ilustrativa (1)

(1) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(2) ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.