Intuição

Intuição. (do latim intueri, ver.) Esse termo cujos significados são diversos designa de uma maneira geral um modo de conhecimento imediato e direto que coloca no mesmo momento o espírito em presença do seu objeto.

A intuição empírica, que nos entrega o mundo da experiência, comporta a intuição externa ou sensível (dados dos sentidos) e a intuição interna ou psicológica (fenômenos mentais conscientes relativa a vida interior).

A intuição racional percebe as relações e apreende os princípios primeiros que constituem a estrutura da razão.

A noção de intuição metafísica aplica-se em contextos filosóficos diferentes. Em Descartes, é a própria intuição racional, a "concepção firme de um espírito puro e atento, que nasce apenas da luz da razão; marcada pelo selo da evidência, é o conhecimento das ideias claras e distintas, ou então a visão sintética do espírito que verifica o encadeamento lógico de uma demonstração. 

A intuição pura, na concepção kantiana, é a das formas a priori da sensibilidade que, aplicando-se a intuição empírica, estrutura o diverso sensível de acordo com o espaço e o tempo. O alcance metafísico da intuição afirma-se com o intuicionismo bergosoniano que, contra a inteligência conceitual aplicável com frutos apenas ao domínio da quantidade e do espaço, coloca a intuição como uma "espécie de simpatia intelectual", que constitui não apenas o estofo da consciência, mas ainda a própria essência de qualquer realidade.

A noção também é utilizada para designar na matemática o conhecimento das noções primeiras a partir das quais se constrói todo o edifício matemático. 

Quanto à intuição mística, aplica-se, na concepção própria ao misticismo, à experiência inefável de Deus. A intuição divinatória, finalmente, é quer um pressentimento, quer um conhecimento global, instantâneo e aparentemente imediato que repousa o espírito de sutileza. "Instrumento da invenção" (Poincaré), permite, por exemplo, descobrir de repente a solução de um problema, depois de, em geral, um longo período de pesquisa. (1)

Intuição. A habilidade de compreender ou produzir novas ideias instantaneamente sem elaboração racional anterior. Sin. Insight, visão. Assim, o “intuitivo” é o oposto ao “racional” e, em particular, ao “exato” e ao “formal”. Entretanto, o intuitivo e o formal são apenas os extremos de uma ampla escala. Além disso, as intuições nunca saem do nada, mas culminam em processos de aprendizagem e pesquisa. E, se promissoras, poderão amiúde ser exatificadas. Isto prova que a intuição e, em geral, a primeira etapa do processo da formação de conceitos. Ademais, a prática da razão fortalece a intuição. O estudioso experiente desenvolve um “sentimento” intuitivo — embora nunca infalível. (2)

Intuitivo. Pré-analítico, o que pode ser apreendido imediatamente. A experiência tem mostrado que a intuitividade depende não só do assunto como do cognoscente: o que é intuitivo para o mestre pode ser o oposto do intuitivo para o aprendiz. De modo que a contra-intuitividade é a marca registrada da originalidade e da profundidade da ciência. (2)

Intuição. O vocábulo “intuição” geralmente designa a visão direta e imediata de uma realidade ou a compreensão direta e imediata de uma verdade. A condição para que haja intuição nos dois casos é que não existam elementos intermediários que se interponham a essa “visão direta”. Foi comum, por isso, contrapor o pensar intuitivo, ao pensar discursivo, mas vários autores preferem contrapor a intuição à dedução (Descartes) ou ao conceito (Kant). Certos filósofos consideram a intuição como um modo de conhecimento primário e fundamental, e a ela subordinam as outras formas de conhecimento, chegando até mesmo a negar sua legitimidade. Outros filósofos, em compensação, consideram a intuição como origem de muitas falácias e pensam que é conveniente substituí-la sempre que possível pelo raciocínio discursivo, pelo conceito ou pela dedução.

Além da definição de “intuição”, e de sua comparação e contraposição a outros modos de conhecimento, os filósofos dedicaram-se a distinguir diversos tipos de intuição. Todas elas supõem uma certa ideia de intuição, um certo juízo de valor sobre ela e certos tipos de contraposição com outras formas de conhecer.

Platão e Aristóteles admitiram tanto o pensar intuitivo como o discursivo, mas enquanto Platão inclinou-se a destacar o valor superior do primeiro e a considerar o segundo como um auxílio para alcançá-lo, Aristóteles sempre procurou estabelecer um equilíbrio entre ambos. (3)

Intuição (e Razão) — (do lat. intuitio que vem de intus e ire, ir dentro, penetrar no âmago de uma coisa). O termo foi empregado na filosofia sempre no sentido da penetração na singularidade do objeto por parte do sujeito, na captação imediata dos aspectos fenomênicos que o objeto exibe. Teve o sentido da captação singular e imediata do sensível, daí chamar-se de intuição sensível. Contudo há os que admitem que além do fenômeno, ela capta também o formal; ou seja, que há também como o propõe Husserl, uma intuição eidética, uma intuição da generalidade. (4)



(1) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(3) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.