Analogia

Analogia. Do grego analogia, proporção matemática, correspondência. 1. Paralelo entre coisas diferentes levando-se em conta o seu aspecto geral.  (1)

Analogia. Similaridade em certo sentido. (2)

Analogia. (do gr. aná, para cima, e logos, pensamento, pensamento dirigido para outro superior). a) Proporção que consiste em uma identidade de relação entre cada dois termos de vários pares.

b) Também significa, em concreto, a realidade que encarna essa proporção.

c) Na lógica uma forma de argumento (raciocínio por analogia) que, partindo da identidade ou semelhança observada ou suposta, entre dois ou mais objetos, infere da existência de um caráter observado em um dos termos, a existência do mesmo caráter, ainda não observado no outro termo. Ou em outras palavras que se aproximam ao uso matemático; a determinação de um termo pelo conhecimento de dois termos de um dos pares e de um termo do segundo par. A proporção matemática foi chamada de analogia por Euclides. Aristóteles aplicou-a às condições da lógica, precisando-lhe o sentido, mas sem estabelecer um raciocínio em sentido próprio na base da analogia. Kant compara analogia com a indução, determinando essa última como a operação mental que estende a todos os seres de uma mesma espécie as observações feitas em alguns deles, e o raciocínio por analogia como a conclusão que infere da semelhança bem assegurada, entre duas espécies, a semelhança ainda não observada.

Ao lado dessa analogia proportionis (analogia de proporção) Tomás de Aquino estabeleceu uma analogia attributionis (analogia de atribuição), que se aplica aos casos onde não se podem atribuir os predicados univocamente. Árvore atribui-se ao carvalho e à oliveira univocamente, mas rindo diz-se de um rosto e de uma paisagem só analogamente. A analogia attributionis tem um fundamento real e distingue-se por isso do mero equívoco. Tudo o que afirmamos sobre a essência de Deus é, neste sentido, análogo; as virtudes humanas são análogas às perfeições de Deus, e vice-versa. Segundo a acepção escolástica, o ser é um conceito análogo, que não se pode atribuir univocamente a diferentes categorias (aristotélicas) do ser. Portanto não é um conceito genérico e, por isso, as próprias categorias são os gêneros supremos (Analogia entis, analogia do ser).

Crítica:  Um conceito é análogo quando aplicado a coisas diversas, com acepções que não são nem propriamente idênticas, nem completamente diferentes. Ex.: uma razão forte e uma árvore forte, etc. Os conceitos aplicados aos objetos, de onde são tirados por abstração e aplicados ao ser, enquanto ser, ou às realidades que são objeto da metafísica, são unívocos, equívocos ou análogos?

Não podem ser equívocos, pois não há nenhuma realidade que seja totalmente diferente do mundo de nossa experiência. Deus ultrapassa-nos totalmente, mas não é impermeável a nós, pois é a origem de tudo, em tudo há algo dele. Não podem ser unívocos, pois as realidades metafísicas, às quais os aplicamos, diferem dos fatos da experiência de onde foram abstraídas. São, portanto, análogos.

A univocidade leva-nos ao monismo, que admite uma única realidade: Deus (monismo panteísta) ou matéria (monismo materialista) ou pensamento (monismo idealista). A equivocidade supõe o dualismo ou o pluralismo, ou seja, a existência de realidades totalmente diferentes e independentes. Só a analogia pode assegurar a pluralidade na unidade; distinção do Ser absoluto e dos seres relativos, mas unidades porque os seres relativos obtêm ser do Ser absoluto (criacionismo); distinção da alma e do corpo, mas unidade substancial (espiritualismo).

Esta síntese que acabamos de fazer desses antepredicamentos (assim chamados na lógica, por serem preâmbulos e pré-requisitos para a ordenação dos predicamentos ou categorias), não exclui a problemática que surge sobre a univocidade e a analogia, que é de grande importância para os estudos ontológicos.

Logicamente considerado um termo é unívoco quando significa (aponta, como sinal) uma razão simplesmente, uma convenientem multis distributive (unum in multis), isto é, uma conveniente distributivamente a muitos (um em muitos), como o definem os escolásticos. A sabedoria de Salomão e a de um homem experiente, enquanto sabedoria, em sua quididade, isto é, em sua formalidade é unívoca, pois sabedoria é sabedoria e nada mais. A univocidade aqui é puramente formal, porque a deste e neste homem consta de um saber, quantitativa e qualitativamente, diferente de outro pela soma maior ou menor de conhecimento que um tenha em relação a outro.

Quando dizemos que um termo é análogo reconhecemos que nele há algo que se assemelha ao analogado e algo que se diferencia. Analogia é a síntese do semelhante e do diferente. Todos os entes são análogos. Mas há graus: analogia de atribuição extrínseca — quantitativa; analogia de atribuição intrínseca - qualitativa; analogia de proporcionalidade — relação e função. Há analogia de atribuição intrínseca quando o análogo (termo, conceito, conjunto simbólico) convém propriamente a todos os objetos que designa, embora adequadamente em certos casos, inadequadamente em outros. Ex.: o ato existencial é misto de ato e potência, é híbrido. Ato e potência são aplicados a Deus e às criaturas, analogicamente, por atribuição intrínseca. Há analogia de atribuição intrínseca entre dois medicamentos que servem para o mesmo fim (também pode confundir-se em certos casos com a função, mas só quando tomado dinamicamente). Há analogia de atribuição intrínseca quantitativa entre dois objetos de qualidade e espécies diferentes, quantitativamente iguais, como por ex. o mesmo peso. Assim 1 quilo de papel e 1 quilo de açúcar.

Há analogia de atribuição extrínseca quando usada em sentido nem unívoco, nem equívoco, mas apenas por transposição em consideração metafórica (substituição de um sentido exterior por outro que apresente semelhanças meramente exteriores). Ex.: Um homem risonho, alegre, e um jardim risonho, alegre; um clima não saudável e um homem não saudável. As metáforas são verdadeiras analogias quando não disparatadas. A metáfora pertence mais à estética do que propriamente à metafísica.

A analogia de proporcionalidade ou de proporção é a que consiste entre coisas totalmente diferentes, mas que apresentam, cada uma, certa similitude de relação (analogia de relação) ou de função (analogia de função). A ala direita e a ala esquerda de um exército; o pé esquerdo e o pé direito de um edifício; a entre um chefe e a tropa e a entre a cabeça e o corpo, são outros exemplos de analogia.

Há homologia quando há proporcionalidade entre a função de um todo com a função de um outro todo, como por ex. a existente entre as asas dos pássaros e os membros anteriores dos mamíferos, entre as penas dos pássaros e as folhas da árvore. (3)


(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.