Imortalidade

Imortalidade. Do latim "in" prefixo privativo e "mortalitas" = mortalidade, condição de quem é mortal. Propriedade de um ser não sujeito à morte, ou seja, à desintegração de seus elementos essenciais constitutivos. A ideia de imortalidade esteve presente nas mais antigas culturas pré-cristãs. Não era outro, por exemplo, o sentido do minucioso cuidado e da extraordinária técnica com que os egípcios embalsamavam os seus mortos. (1)

Imortalidade. 1) Sob a forma negativa (prefixo negativo – i), o termo exprime a noção essencialmente positiva, de vida-sem-fim, daquilo que não é submetido à morte. Neste sentido geral, a imortalidade compete essencial e absolutamente a Deus, plenitude de Vida. Os seres espirituais criados são imortais por natureza, isto é, não têm nenhum princípio intrínseco de desagregação ou morte, apenas podendo deixar de existir por aniquilação. 2) Em sentido mais estrito, o termo conserva a sua relação com a morte propriamente dita, incluído na etimologia; significa então que a vida-sem-fim implica verdadeira "sobrevivência", é vida para além ou apesar da morte, vida que "supera a morte". É com efeito o iniludível e brutal fato da morte que faz surgir com toda a sua urgência a questão da imortalidade, quer relativamente a cada um quer dos seus semelhantes, sobretudo os mais amados. A imortalidade em sentido estrito só se diz portanto dos seres essencialmente relacionados com a morte, como é o homem, devido à sua essência composta. (2)

Imortalidade. Excetuando-se o seu uso metafórico, aplicado por exemplo ao campo da arte ou ao da biologia dos animais monocelulares que se reproduzem por cissiparidade e portanto sem conhecer a morte (vinculada à individualidade do ser), a imortalidade é antes de mais nada uma hipótese metafísica – de origem religiosa –, que concerne à alma, sustentada pelo conjunto da filosofia espiritualista desde a antiguidade. (3)

Imortalidade. Vida sempiterna. Cabe distinguir três espécies de imortalidade: corpórea, espiritual e vicária. A imortalidade corpórea é impossível: todos os organismos envelhecem e finalmente tornam-se incapazes, a ponto de não aguentar todos os processos fisiológicos que caracterizam a vida. (Em princípio, poderia haver regeneração contínua e auto-restauração. Mas uma armadura inexpugnável contra inputs externos letais restringiria drasticamente, para dizer o mínimo, a liberdade e a comunicação.) A imortalidade espiritual, postulada por algumas religiões, é igualmente impossível, pois todas as funções espirituais (ou mentais) são funções cerebrais: sem cérebro vivo, não há mente. A imortalidade vicária ou indireta pode ser conseguida por meio da progênie, pois uma parte do genoma de cada pessoa passa para seus descendentes. Mas ele é progressivamente "diluído" no curso das gerações, de modo que a imortalidade biológica de caráter vicário é dificilmente significante. (4)

(1) ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.

(2) ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]

(3) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(4) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)