Agnosticismo. a. Epistemologia. Negação da possibilidade de conhecer fatos tais como eles realmente são ou mesmo se existem fatos fora do conhecedor. Uma versão do ceticismo. Sexto Empírico, Francisco Sanchez, Hume, Kant, Mill e Spencer eram epistemológicos agnósticos. b. Filosofia da religião — suspensão de toda crença religiosa. Um agnóstico é provavelmente um ateu envergonhado com medo de estar enganado, de ser acusado de dogmático, ou discriminado. O agnosticismo é parte do ceticismo radical (ou epistemológico). É, em geral, defendido com base em um ou em todos os pontos de vista seguintes: 1) qualquer coisa é possível; 2) a hipótese da existência do sobrenatural não pode ser provada nem refutada por meios empíricos, precisamente porque o sobrenatural é inacessível aos sentidos; 3) bons cientistas jamais devem fazer afirmações categóricas: o máximo que podem afirmar de modo responsável é que a hipótese em questão é, ou extremamente plausível, ou não plausível; 4) o agnosticismo não faz diferença para a pesquisa científica, ao passo que o ateísmo estreita seu alcance. (1)
Agnosticismo. (do gr. agnostos, o que não se pode conhecer). a) Designa toda doutrina que afirma a impossibilidade peremptória de conhecer a realidade ou certas regiões da realidade, cuja existência porém é admitida como certa ou como possível.
b) Atitude filosófica que renuncia em princípio as especulações metafísicas, por julgá-las fúteis. A primeira definição abrange doutrinas filosóficas de cunhagem bastante diversa. É costume aplicar esse termo especialmente aos positivistas, Comte e Spencer, como com alguma reserva também ao criticismo de Kant, e a todos os que, atribuindo ao conhecimento um valor relativo, estão forçados daí a tirar consequências agnosticistas.
c) Na atualidade, o agnosticismo se reveste de um aspecto parcial, principalmente em relação com o problema do irracionalismo. Parcial enquanto ele atribuiu à razão um campo limitado e congênere.
d) Em Bergson encontramos um agnosticismo moderado: "Há na matéria algo mais, não porém algo diferente do que é atualmente dado (à consciência). Sem dúvida a percepção não alcança totalmente a matéria, posto que consiste, em tanto que consciente, na separação ou no discernimento do que, nesta matéria, interessa às nossas necessidades. Porém entre essa percepção da matéria e a própria matéria não há mais que uma diferença de grau e não de natureza, estando a percepção pura para com a matéria na relação de parte para o todo".
e) Emil Lask, pelo contrário, acentua a heterogeneidade entre a realidade e a razão. Segundo ele a lógica é aplicável a toda realidade, mas sem compreendê-la propriamente. Alcançar algo, por meio de uma forma categórica não significa necessariamente compreender. Ser afetado por uma categoria não quer dizer ser racionalizado, tornado transparente. O conteúdo colocado em uma forma categórica permanece absolutamente indecomponível (unzerlegbar) irredutível à forma; neste sentido, irracional. Sem vacilação, portanto, deve-se proclamar o caráter ilimitado da verdade (die Schrankenlosigkeit der Wahrheit) quer dizer a aptidão da forma lógica para envolver todo conteúdo sem qualquer exceção (Contra Kant, segundo o qual o campo de aplicações das formas categóricas está limitado à esfera do que nos é dado pela intuição sensível). Ao que corresponde, por outro lado, à completa impotência da forma lógica para reduzir a si mesma o irracional, que nela está envolto.
f) Especial atenção dedicou Hartmann a estes problemas e chegou a distinguir quatro diferentes graus de irracionalidade e, portanto, de agnoscibilidade do ser. Como muitos admitem que, onde o pensamento discursivo falha, pelo menos a intuição podia ser aplicada com êxito, Ele afirma a existência de uma região de realidade, que é simplesmente inacessível também à intuição.
g) Na teologia: designa toda doutrina que nega a possibilidade de obter conhecimento a respeito de Deus, quer da sua existência, quer da própria essência divina. São muitas as formas das teorias no decurso da história que contestaram a gnoscibilidade de Deus pela luz natural da razão humana ou até por uma revelação. Uma versão de agnosticismo teológico, a de A. Ritschl, se baseia, em parte na teoria do conhecimento de Kant e, também, na de Lotze, sustentando que o homem conhece somente o fenômeno. Como Deus não é um phaenomenon, o homem, por conseguinte, não pode conhecê-lo. A teologia, portanto, não trata da causa efficiens, mas da causa finalis, quer dizer, ela considera a Deus não como um ser, mas como um ideal atraente, o que, impressionando o homem subjetivamente por seu valor, leva-o a adorá-lo. (2)
(1) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)
(2) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.