Inteligência

Inteligência. Do lat. intellectus,  interlec  =  escolher entre, ou intus e lec = escolher dentro, como preferem outros - é a faculdade que tem o espírito de pensar, conceber,  compreender.

Psicol. O termo inteligência é ainda usado pelos psicólogos com considerável latitude de sentido. Por vezes emprega-se como sinônimo de cognição (tal como a palavra "entendimento"), isto é, aplica-se a qualquer dos processos pelos quais se constrói o conhecimento; outras vezes é restringido aos processos conceptuais, como distintos dos processos de percepção sensível; e em alguns casos é usado no sentido ainda mais restrito da função de apreender relações, ou, até, especiais formas de relação. Os que se ocupam dos chamados "testes" de inteligência não têm curado muito a determinar com precisão o que seja a inteligência que tais testes se propõem determinar. No uso comum e quotidiano, tende-se a sublinhar o caráter prático da inteligência, como consistindo na capacidade de empregar meios adequados para atingir os vários fins que se tem em vista. Em um sentido restrito, a que convém ater-nos, a inteligência é a função de apreender conexões, incluindo neste último vocábulo as relações causais e as ideacionais, racionais ou lógicas, ou sejam relações de independência causal ou de interdependência ideacional, inteligível. (Nestes sentidos, todas as conexões são relações, mas nem todas as relações são conexões: e assim, por exemplo, as relações mais simples entre as coisas, como a sua semelhança ou dessemelhança, ou as meras relações no espaço e no tempo, como acima e abaixo, antes e depois, são conexões). 

Psiq. No ponto de vista psiquiátrico, interessam sobretudo os atrasos congênitos ou precocemente adquiridos do desenvolvimento intelectual (Oligofrenia, Idiotia, Imbecilidade, Debilidade mental) e os estados de enfraquecimento das capacidades intelectuais, adquiridos em indivíduos até então normais, em virtude da instalação e desenvolvimento de um processo mórbido encéfalo (Demência). Nas outras doenças mentais não há propriamente alterações da inteligência; assim, por exemplo, a paranoia e certas psicoses paranoides evolucionam com conservação perfeita dos dotes intelectuais. (1)

Inteligência. O que penetrado dentro das coisas, capta a sua intimidade ou essência. Daí o designar comumente tanto a ação de compreender como a mesma capacidade de o fazer. Presentemente, há muitos equívocos sobre este termos: às vezes significa ser espiritual; outras como sinônimo de entendimento ou de intelecto; outras ainda para designar o conjunto das funções cognoscitivas induzindo as sensoriais; e isto sem falar nos inúmeros sentidos particulares nos diferentes pensadores. Tudo isso levou ao desabafo de Spearman: "Nos sucessivos congressos com o objetivo de se definir a inteligência, discutem-se muitas teorias, ouvem-se brilhantes oradores, mas cada um expõe a sua própria opinião... irreconciliável com as demais." (2) 

Inteligência (intelligence). A capacidade, mais ou menos grande, de resolver um problema, em outras palavras, de compreender o complexo ou o novo. (3)

Intelectual (intellectuel). É aquele que vive do seu pensamento, ou para o seu pensamento. Não tem escolha, a não ser entre uma pequenez (pensar para viver) e uma ilusão (viver para pensar). Não existe ofício tolo, mas tampouco vaidade inteligente. (3)

Intelecção. Ação de entender; compreensão. (1)

Intelectismo. O mesmo que intelectualismo. (1)

Intelectivo. Que pertence ao intelecto, à inteligência. (1)

Intelecto. Faculdade de perceber, conceber, compreender; entendimento, inteligência. (1)

Intelecto. Devido à sua raiz etimológica (particípio de intelligere), este vocábulo foi usado durante muitos séculos, sobretudo dentro da Escolástica, para designar a capacidade e atividade cognitiva a que depois se chamou entendimento e inteligência. (2)

Intelectófobo. Inimigo da inteligência. (1)

Intelectual. Que pertence à inteligência, ao intelecto, que está no entendimento: faculdades intelectuais. (1)

Intelectualidade. Caráter do que é intelectual. (1)

Intelectualismo. 1. Doutrina filosófica segundo a qual tudo no Universo se pode reduzir a elementos intelectuais, incluindo o sentimento e a vontade, simples resultantes do jogo dos fenômenos intelectuais. 2. Abuso da preponderância dos intelectuais, das teorias da inteligência pura, das doutrinas rígidas e artificiais, em detrimento das realidades práticas. 

Filos. Aplica-se a designação de intelectualismo a toda tendência a acentuar a importância do pensamento propriamente dito em relação ao sentimento e à volição, ou até em relação à sensação e à intuição sensível; a toda doutrina segundo a qual tudo quanto existe é redutível, pelo menos em princípio, a elementos propriamente intelectuais; a ideias; ou ainda a toda concepção segundo a qual se reduz a elementos intelectuais uma classe de fatos considerados pela maioria dos pensadores como irredutíveis à inteligência. Na segunda acepção, o intelectualismo pode ser entendido de duas maneiras diferentes, a saber: 1.º, a tese de que o ser é distinto da inteligência, mas podendo esta última dar dele uma tradução exata e completa; 2.º, a de que o ser é o pensamento (idealismo). A palavra opõe-se a "voluntarismo" e a "pragmatismo". O voluntarismo, com efeito, afirma a ininteligibilidade radical do mundo real, cuja essência seria falha de fundamento lógico, e estranha, pelo menos em parte, ao princípio de razão suficiente; sustenta ainda a independência, e até a primazia de fato, das funções afetivas em relação à inteligência; e crê, enfim, na superioridade da ação e do sentimento sobre o pensamento refletido. Na filosofia moral, o intelectualismo tende a identificar a virtude com o conhecimento, o mal com a ignorância; na teoria do conhecimento, liga mais importância à ideia do que à sensação ou intuição sensível; na ontologia, concebe que a última natureza da realidade é alguma espécie de inteligência, ou, pelo menos, considera o Universo como inteiramente inteligível; em estética, acentua a importância das ideias expressas ou sugeridas pelo objeto da contemplação estética; na esfera da religião, inclina-se a ligar importância suprema à doutrina ou à filosófica religiosa, à custa do sentimento religioso ou da intuição religiosa. (1) 

Inteligente. 1. Que tem inteligência; que é capaz de conhecer, compreender, raciocinar: o homem é um ser inteligente. 2. Que concebe, compreende, apreende com facilidade: criança pouco inteligente. 3. Que denota inteligência: rosto, fisionomia, testa inteligente. 4. Conhecedor, entendido; hábil. (1)

Inteligibilidade. Qualidade do que é inteligível. 

Filos. A intelecção supõe no objeto a possibilidade de ser apreendido, ou submetido às leis da inteligência. Esta propriedade constitui a inteligibilidade do ser. A insuficiência das razões de um fato torna este ininteligível. A inteligibilidade depende de condições objetivas (a cognoscibilidade do objeto) e de condições subjetivas (a agudeza intelectual do sujeito conhecente). (1) 

Intelligence Service. Hist. Famoso organismo de polícia secreta britânico que defende a segurança do Estado e controla as relações internacionais, perscrutando as subtilezas da diplomacia e as reações dos vários países. Esta polícia é antiquíssima na Inglaterra e mantém agentes em todos os pontos do Mundo, ainda os mais remotos. (1) 

Intelectiva (vida). Entendendo por vida a totalidade dos fenômenos manifestativos de um determinado nível de organização estrutural do ser, vida intelectiva (ou racional) designará o conjunto das operações propriamente racionais. E como essas se podem considerar agrupadas em funções, a vida intelectiva integra todas as funções intelectivas, quer estas sejam de ordem cognoscitiva, tendencial ou afetiva. Neste sentido, comum à tradição aristotélico-tomista, a vida intelectiva opõe-se tanto à vida vegetativa como à vida sensitiva, constituindo o plano mais elevado dos três a que se costuma aplicar o conceito analógico de vida, ou seja, aquele nível em que os atos das faculdades são dotadas de mais perfeita imanência. Mas num sentido mais restrito, vida intelectiva ou intelectual significa, nalguns pensadores, o conjunto dos fenômenos representativos ou cognitivos, sobretudo os originados na faculdade intelectiva ou intelecto. O primeiro sentido parece-nos mais válido, por isso o analisaremos a seguir.

1) Fenomenologia da vida intelectiva - As operações  intencionais que formam a vida intelectiva podem agrupar-se em três ordens: cognoscitiva, apetitiva e afetiva. a) Na ordem cognoscitiva é possível distinguir ainda outros tantos gêneros de funções: as de "aquisição", com seus atos particulares, tais como formação do conceito universal, percepção intelectual das diversas relações, percepção reflexa das próprias atividades psíquicas e do próprio Eu, formação dos juízos...; as de "representação" ou reprodutivas, tais como a memória e a reminiscência, com  seus atos respectivos; as de "invenção" ou produtivas, como a imaginação criadora enquanto implica a intelecção e o raciocínio. Deste modo, as principais operações cognoscitivas da vida racional são: apreensão, intelecção, ideias, conceito, comparação, juízo, raciocínio, pensamento, intuição, inspiração. b) Na ordem apetitiva ou tendencial encontramos a vontade, com os seus atos ou volições, irredutíveis tanto ao conhecimento como ao sentimento. c) Finalmente, na ordem afetiva, temos as manifestações espirituais da dor, prazer, alegria e tristeza. Todo esse conjunto de fenômenos conscientes superiores constituem a chamada vida intelectiva. 

2) Natureza da vida intelectiva - A vida intelectiva exige no homem uma alma que seja substancial, idêntica consigo mesma, permanente sob as diversas operações psíquicas, simples e espiritual. Numa palavra, toda a vida intelectiva constituída pelo princípio vital intelectivo com suas faculdades e respectivas operações, tem na imaterialidade, a propriedade essencial da sua natureza.

3) Graus da vida intelectiva - Dado que uma alma ou princípio vital superior, segundo a doutrina aristotélico-tomista, contém formal e eminentemente a perfeição das almas inferiores, quando as suas manifestações se encontram no mesmo ser vivo, a alma intelectiva do homem contém a perfeição da vida vegetativa e sensitiva. Daí que pela vida intelectiva tem o homem um parentesco com todo o universo, e portanto a possibilidade de descobrir tudo na sua íntima essência sem violentar, partindo de si mesmo. S. Tomás menciona os vários graus da vida intelectiva: vida intelectiva humana (que ocupa o nível inferior), a angélica e a divina (a mais perfeita de todas), relacionadas entre si tanto pela analogia do conceito como pela participação do grau superior que se dá em todos os outros. E também neste sentido o homem se encontra colocado no centro da criação. (2)

Inteligência. (do lat. intellectus, de inter e lec, de escolher entre, ou de intus e lec, de escolher dentro). A inteligência é a função intelectiva, a que realiza as operações intelectuais, que são as cognoscitivas da vida racional, que constituem as apreensões, a intelecção, a compreensão, a captação da espécie, a ideia, os conceitos, as comparações, o juízo, o raciocínio, a cogitação, a inspiração, etc. É mister distinguir, na inteligência, uma função ativa e uma passiva, pois ela realiza operações abstrativas de gradação heterogênea, e imprime, em representações, imagens e esquemas (papel passivo), os conteúdos obtidos através dessas operações, sobre os quais posteriormente opera. (4)


(1) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

(2) LOGOS – ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA. Rio de Janeiro: Verbo, 1990.

(3) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.