Lógica. É a ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-los à pesquisa e à demonstração da verdade. Diz-se que a lógica é uma ciência porque constitui um sistema de conhecimentos certos, baseados em princípios universais. Daí a razão pela qual a lógica filosófica se distingue da lógica espontânea ou empírica, que representa apenas uma aptidão natural do Espírito. (1)
Lógica. a. Geral - O órganon de raciocínio válido (correto): a teoria da dedução. A lógica é formal, ou seja, é independente de conteúdo e, portanto, da verdade. Por isto perdoa formalmente argumentos válidos sem considerar a verdade das premissas, assim como acusa raciocínios inválidos a partir de premissas verdadeiras. A concordância pela lógica é por conseguinte necessária embora insuficiente para o discurso racional. (2)
Lógica (logique). Seria a ciência da razão (lógos), se tal ciência fosse possível. Não o sendo, é o estudo dos raciocínios e, especialmente, das suas condições formais de validade. Ela aparece, cada vez mais, como uma parte da matemática, o que não autoriza os filósofos a prescindir dela.
Lógica Difusa/Conjuntos Difusos. A variante da teoria dos conjuntos e da lógica que reconhece graus de aplicabilidade dos predicados. Assim, apesar de a lógica clássica tomar a frase "este quarto está quente" ou como verdadeira ou como falsa, dizer que está bastante perto da verdade, ou que é mais verdadeira que a frase "o quarto está frio", pode representar melhor a maneira como de fato raciocinamos (ou como deveríamos raciocinar). Na lógica difusa, uma proposição e sua negação partilham uma quantidade determinada de mérito (representada por 1): se a frase "o quarto está quente" estiver bastante perto da verdade (e.g., em grau 1-n), a frase "o quarto está frio" está razoavelmente perto de ser falsa (em grau n). A lógica difusa tem muitas aplicações na inteligência artificial e na concepção de sistemas que controlam acontecimentos reais, que precisam ser sensíveis a alterações graduais em características importantes. O primeiro tratamento matemático do assunto foi apresentado no ensaio "Fuzzy Sets", Information and Control, (1965), por L. A. Zadeh. (3)
Lógica Polivalente. Uma lógica que reconhece mais do que os dois valores de verdade clássicos de verdade e falsidade. Valores intermediários podem ser motivados pelas exigências da vagueza, para evitar paradoxos lógicos ou para evitar a ideia de que as proposições futuras contingentes são determinadamente verdadeiras ou falsas, pensando-se por vezes que isto conduz ao fatalismo. O sistema original com três valores de verdade deve-se ao lógico polonês Jan Lukaziewicz. Ver também batalha naval; lógica difusa. (3)
Lógica Deôntica. Informalmente, de forma sucinta, caracteriza-se a lógica deôntica como a lógica das obrigações, permissões e proibições. Mais genericamente a lógica deôntica tem que ver com o estudo lógico não só dessas noções, mas também de muitos outros conceitos ligados à representação das normas e ao uso normativo da linguagem, como direitos, deveres, comprometimentos etc. Dentro desse tópico há o paradoxo do bom samaritano ("se é obrigatório alimentar o pobre que está morrendo de fome, então é obrigatório que existam pobres morrendo de fome".) (4)
Lógica. O homem atingiu a fase racional quando seus pensamentos começaram a se processar com certa ordem, quando pode tirar conclusões, quando pode dirigi-los, transformando-os num poderoso instrumento de trabalho. Dessas observações, já numa fase superior, concluiu finalmente que a regularidade nos pensamentos lhe mostrava que uma ordem presidia aos mesmos, o que lhe permitiu construir uma ciência dos pensamentos, ao descobrir relações, regras, constantes. A esse conjunto de regras é que se chama lógica, ou seja, a ciência dos pensamentos enquanto pensamentos, prescindindo dos outros aspectos e dos outros elementos que se relacionam com eles, e que formam os objetos de outras ciências.
Os objetos são classificados de várias maneiras pelos lógicos: temos objetos sensíveis ou reais, que são os oferecidos pela experiência sensível, quer pela percepção externa ou interna. Os da externa são denominados objetos físicos; e os da interna, objetos psíquicos. Os objetos físicos são os fatos corpóreos, que se dão no tempo e no espaço. Os objetos psíquicos são fatos da consciência. Um desejo, uma representação existem apenas no tempo, não no espaço, porque eles não ocupam lugar, embora estejam relacionadas a um ser consciente, que possui um corpo, como o homem enquanto tal, o qual ocupa um lugar no espaço como nos revela o conceito de corpo. São objetos ideais aqueles que não têm um lugar no espaço nem no tempo. Por exemplo, os números, as relações, os conceitos. Assim não se pode dizer que o conceito de livro tenha um metro ou menos de um metro, nem um ano ou dois de idade. Este modo de compreender os objetos ideais é o mais comum na filosofia.
A lógica é uma ciência filosófica especulativa que tem como finalidade alcançar a verdade. Suas leis não são arbitrárias, pois decorrem do exame do próprio raciocínio. As leis revelam-se à proporção que avançamos no exame dos conceitos, juízos, raciocínios e demonstrações. É também uma ciência normativa. Não é assim a lógica um mero hábito, mas a reunião coordenada das regras e normas alcançadas, justificadas pela experiência. É um hábito operativo, regulado por normas certas e determinadas e tendente a um fim: o raciocínio sem erros. É inegável, como se vê na teoria do silogismo que, obedecidas as regras fundamentais, é impossível o erro, o que demonstra haver um conhecimento certo e evidente na lógica, que é o que lhe dá as características de ciência. É ela uma arte e também uma ciência. Aristóteles a considerava a arte de inquirir, a qual fundando as demonstrações, tornava-se, afinal, uma ciência demonstrativa.
Como ciência a lógica tende a estabelecer normais universais de raciocínio. Classicamente o seu objeto é o ente de razão. Este objeto formal existe objetivamente no intelecto, mas fundamentado nas coisas. Os escolásticos consideravam como ente de razão aquele que apenas existe objetivamente no intelecto, assim como o conceito de espécie, de gênero. Mas tais conceitos têm um fundamento in re, porque se são carentes de uma entidade própria, se não existem de per si, não se lhes nega positividade, pois referem-se ao que há em comum na natureza. Há outros conceitos de razão, com fundamento in re, que se caracterizam pela privação de ser, como por exemplo os conceitos treva, sombra, nada, os quais não têm nenhuma existência senão na razão, mas possuem positividade por referência, com fundamento in re, consistente aquela na carência, na privação de alguma coisa que é.
A lógica formal ordena os conceitos de modo meramente formal, abstraindo-os da matéria, enquanto a lógica material ordena-os repondo-os na matéria. A lógica é uma ciência prática e especulativa para muitos, e apenas especulativa para outros. Diz-se que é prático o que tende para a obtenção de um fim eficiente; por sua vez, o especulativo tende apenas para uma cognição. Enquanto o prático faz, o especulativo tende ao saber. Nesse sentido a lógica seria especulativa. É inegável que é ela uma arte prática, mas eminentemente especulativa.
O objeto da lógica é o ente de razão lógico. Ora, o ente de razão é o que existe apenas no intelecto. Mas se tal ente não tem um correspondente fundamento in re, é ele passível de dúvida quanto à sua validez. Esta é a razão porque a lógica formal exige providências analíticas posteriores, sob pena de perder-se num logicismo perigoso. Esse fundamento surge na lógica clássica com o nome de segundas intenções. Essas segundas intenções do ente são propriamente o lógico, o objeto formal da lógica, que se funda na relação de razão. Entre elas podemos distinguir: os conceitos, que surgem da primeira operação do espírito; o juízo, que constitui a segunda operação; o raciocínio e a argumentação, que são a terceira operação.
Podemos comparar a lógica com a dialética, pois esta tem um outro papel, que consiste em procurar outras vias para o raciocínio, sem deixar de aplicar as normas da lógica formal. A dialética realiza, assim, uma operação através de diversas vias pensamentais e busca dar uma solidez concreta à lógica, evitando os perigos do logicismo. Propriamente tem ela essa finalidade, porque o logicismo, devido à acentuação do abstratismo, pode levar o homem a tomar como ente real e existente de per si, o ente puramente de razão. A aplicação da dialética é assim completiva e eminentemente concreta. (5)
(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.
(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)
(3) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
(4) BRANQUINHO, João, MURCHO, Desidério e GOMES, Nelson Gonçalves. Enciclopédia de Termos Lógico-Filosóficos. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
(5) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.