Gnosticismo

Gnose. (do gr. gnósis, conhecimento). Empregado em sentido genérico, nos séc. I e II, para indicar o conhecimento esotérico das grandes verdades religiosas adquirido por um grupo de sábios do Oriente Médio e do Egito. Entre os judeus, Filon foi o iniciador do gnosticismo. Caracterizavam-se pela interpretação dos livros sagrados do Novo e do Velho Testamento, sobretudo fundando-se no significado do Logos, do Evangelho de São João, que os levava às interpretações, não só alegóricas, como místicas, com contribuições de origem oriental. (1)

Gnosticismo. Doutrina partilhada por várias seitas que ganhou destaque por volta do século II, na qual se combinam elementos cristãos e pagãos. Atribui-se uma importância central à "gnose", um conhecimento revelado, mas secreto, sobre Deus e sua natureza, que permite que aqueles que o possuem atinjam a salvação. O gnosticismo retira do pensamento pagão o conceito de um demiurgo, ou um deus subordinado, que dirige o mundo diretamente. O mundo material é associado, tal como no maniqueísmo, ao mal, mas em alguns homens existe um elemento espiritual que, através do conhecimento e dos rituais associados, pode ser salvo do mal e atingir um estado espiritual mais elevado. Cristo nunca esteve de fato num corpo, nem morreu, estando em vez disso remotamente relacionado com o que apareceu aos discípulos. No platonismo médio estão presentes alguns elementos gnósticos, que ajudaram a alimentar a concepção de que havia uma aurea catena secreta, ou seja, uma cadeia dourada de doutrinas platônicas escondidas, que se estendia da cosmologia positiva de Platão aos iniciados da época.  Foram descobertos vários textos gnósticos dos primeiros quatro séculos no Egito, e a crença persistiu, sob várias formas, ao longo da Idade Média. (2)

Gnosticismo. Foram assim designadas algumas correntes filosóficas que se difundiram nos primeiros séculos depois de Cristo no Oriente e no Ocidente. A literatura que produziram era rica e variada, mas perdeu-se, à exceção de poucos textos conservados em traduções coptas, chegando até nós somente através dos trechos mencionados e ao mesmo tempo refutados pelos Padres Apologistas. O gnosticismo é uma primeira tentativa de filosofia cristã, feita sem rigor sistemático, com mistura de elementos cristãos míticos, neoplatônicos e orientais. Em geral, para os gnósticos o conhecimento era condição para a salvação; donde esse nome, que foi adotado pela primeira vez ofitas ou Sociedade da Serpente, que mais tarde se dividiram em numerosas seitas. Estas utilizavam textos religiosos atribuídos a personalidades bíblicas, tal como o Evangelho de Judas, mencionado por Irineu. Outros textos dessa espécie foram encontrados em traduções coptas; entre eles, o mais importante é Pistis Sophia (publicado em 1851), que expõe em forma de diálogo entre o Salvador ressuscitado e seus discípulos especialmente Maria Madalena, a queda e a redenção de Pistis Sophia, ser pertencente ao mundo dos Éons, bem como o caminho de purificação do homem por meio da penitência. Os principais gnósticos dos quais temos notícia são: Basílides, Carpócrates, Valentim e Bardesane, cujas doutrinas são conhecidas pelas refutações feitas por Clemente de Alexandria, Irineu e Hipólito. Uma das teorias mais típicas do gnosticismo é o dualismo dos princípios supremos (admitido, por exemplo, por Basílides), ligado a concepções orientais. A tentativas de união entre os dois princípios, bem e mal, tem como resultado o mundo, no qual as trevas e a luz se unem, mas com predomínio das trevas. (3)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 

(3) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.