Consciência

Consciência. Etimologicamente, um saber testemunhado ou concomitante. Simplesmente definida, a consciência é a função pela qual conhecemos a nossa vida interior (v. inconsciência). (1)

Consciência. Do latim conscientia, conhecimento de algo partilhado com alguém. 1. A percepção imediata mais ou menos clara, pelo sujeito, daquilo que se passa nele mesmo ou fora dele (sinônimo de consciência psicológica). A consciência espontânea é a impressão primeira que o sujeito tem de seus estados psíquicos. Difere da consciência reflexiva, ou seja, do retorno do sujeito a sua impressão primeira, permitindo-lhe distinguir o seu Eu de seus estados psíquicos. Campo de consciência é o conjunto dos fatos psíquicos presentes na consciência do indivíduo.

2. Do ponto de vista moral, a consciência é o juízo prático pelos quais nós, como sujeitos, podemos distinguir o bem e o mal e apreciar moralmente nossos atos e os atos dos outros. Nesse sentido, falamos de consciência moral. Quando dizemos que alguém tem boa consciência, queremos significar que possui um sentimento, fundado ou não, de ser irrepreensível nesse ou naquele ato de sua conduta geral. A expressão má consciência é utilizada para designar o sentimento de mal-estar ou de culpa moral, de arrependimento ou de remorso, de um indivíduo que não conseguiu realizar bem, como queria, ou não conseguiu realizar completamente o seu dever, aquilo pelo que se julgava responsável. (2)

Consciência moral. Designa a capacidade do espírito individual de apreciar, com relação aos conceitos do Bem e do Mal, comportamentos; quer se trate dos seus ou do outro. Quando essa apreciação não é imediata, falamos de caso de consciência, o julgamento sendo compartilhado entre valores na aparência igualmente recomendáveis, quando de fato se contradizem. 

Na história da filosofia, essa forma normativa da consciência aparece com o que Sócrates denomina seu próprio demônio. Tornando-a um "juiz infalível", Rousseau interpreta-a como um verdadeiro instinto, enquanto ela assume na filosofia prática de Kant um aspecto totalmente racional. 

Ao admitir que as obrigações e as proibições são interiorizadas no Superego, Freud desloca a instância moral do consciente para o inconsciente. (3)

Figura Ilustrativa (3)

Consciência. No sentido mais universal a palavra significa aquele fenômeno que é característico da vida mental, em oposição ao estado simples do ser infra-mental. A consciência é o produto específico da atividade do espírito. Como o espírito, tomado como todo, é atividade e nunca deixa de ser ativo, a consciência é um estado permanente do espírito, produzido por ele mesmo e qualificativo do ser espiritual, tomado como grau metafísico.

Nos seres humanos, onde as preferências do espírito são reduzidas às manifestações de uma vida mental, a consciência é o fruto ocasional de atos psíquicos que acontecem com interrupções Não é portanto uma qualidade permanente do processo de vida humano. Como identificar então a consciência quando ela ocorre em nós? Para Ladd: o que estamos, quando despertados, em contraste com o que estamos quando caímos num sono profundo e sem sonhos, isso é consciência. Subjetivamente a consciência significa uma intuição (mais ou menos completa, mais ou menos clara), que o espírito tem dos seus estados e de seus atos. Essa definição pode ser considerada idêntica à anterior ou mais restrita do que essa. Não é possível, neste caso, precisar os termos, nem reduzir o problema a elementos mais simples, por tratar-se de um fato mais elementar e irredutível do mundo fenomênico. Segundo Hamilton: "A consciência pode ser definida". É bem possível que saibamos nós mesmos perfeitamente o que a consciência é, mas estamos incapacitados de comunicar aos outros, de maneira precisa, uma definição do que nós compreendemos claramente. A razão é simples: a consciência acha-se na raiz de todo o conhecimento.

As peculiares condições que caracterizam a consciência, alcançada pelo espírito humano, ainda deixam aberta a questão de se o espírito chega a ter consciência de tudo o que constitui ele mesmo, ou se há, em um sujeito, fenômenos psíquicos inconscientes e igualmente se o estado de consciência atual implica ou não a intuição do sujeito como substância, malgrado não faltem, em ambas alternativas, afirmações decididas, a favor de uma ou de outra hipótese.

Consciência significa: 1) o próprio pensamento, sem considerar ainda a distinção entre o fato consciente e o fato de que é consciente, o que é designado pelo termo clássico de consciência espontânea que, no entanto, foi criticado com boas razões (Lalande) e substituído pelo termo mais acertado de consciência primitiva; e 2) o estado subjetivo, produzido pelo ato de conhecimento e como que separado do objeto em virtude de uma reflexão, o que se chama consciência reflexiva. Mas ainda este último sentido é suscetível de duas especificações diferentes que se referem uma à outra, como subjetiva e objetiva. No primeiro caso considera-se o que ainda resta no sujeito após a diferenciação reflexiva; considera-se sua atividade própria, a virtualidade de operações novas, o que pode produzir ainda, as leis segundo as quais se desenvolve as reservas de potencial pensante, que podem levar a progressos ulteriores do conhecimento: consciência subjetiva.  No segundo caso considera-se o conhecimento atual do objeto, na posse mais completa que podíamos alcançar dele por meio dessa diferenciação reflexiva de oposição e análise (por exemplo, na clareza das nossas percepções, na precisão dos princípios do nosso pensamento raciocinante, etc.) e é neste sentido que se fala, ordinariamente, de um espírito consciente: consciência objetiva.

Kant, Schopenhauer e outros usam a palavra consciência (bewusstsein) como sinônimo de conhecimento imediato, implicando, deste modo, a convicção de que a nossa percepção imediata das coisas exteriores lhes atribui o caráter de realidade indubitável, da mesma forma como a consciência nos leva à intuição de nossa própria realidade. Outros, sem considerar se a doutrina assim expressa é correta ou não, condenam este uso do termo consciência, porque reivindica, fraudulentamente, uma qualidade da consciência, a sua certeza indiscutível para outros fenômenos gnosiológicos, deixando porém de atribuir-lhes aberta e expressamente, essa suposta qualidade.

Por outro lado, há outros que não só distinguem formalmente entre a percepção imediata e a consciência, mas excluem completamente a percepção sensível do campo de aplicação do termo consciência. Mas este emprego da palavra geralmente também é considerado abusivo. Se há uma diferença entre conhecimento e consciência, então só pode ser essa que a consciência representa um conhecimento intuitivo ou instintivo, e participa, por isso, do caráter positivo e imediato de cada intuição. Com essa acepção também se resolve, facilmente, a controvérsia sobre se a consciência inclui ou não a ideia da certeza. O caráter intuitivo lhe fornece o fundamento próximo da certeza sem, porém, inclui-la formalmente. (4)

Consciência Moral. Propriedade do espírito humano de articular juízos normativos, espontâneos e imediatos sobre o valor moral de certos atos individuais determinados. Quando se aplica a atos executados no passado, o respectivo agente experimenta os sentidos de prazer (satisfação) ou de dor (remorso), conforme um ato foi de acordo ou não com o ditame da moral. Quando se refere a atos futuros, a consciência assume a função de uma voz que proíbe ou comanda. (4)


(1) EDIPE - ENCICLOPÉDIA DIDÁTICA DE INFORMAÇÃO E PESQUISA EDUCACIONAL. 3. ed. São Paulo: Iracema, 1987.

(2) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(3) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.